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Política
10/08/2024 08:29:00
Em áudio, presidente de partido do Capitão Contar diz ter ligação com PCC
Leonardo Avalanche diz não reconhecer a própria voz na gravação e nega vínculo com facção

TMN/PCS

O partido é o mesmo o qual Capitão Contar integra

O presidente nacional do PRTB, Leonardo Alves de Araújo, conhecido como Leonardo Avalanche, afirmou a um correligionário que possui ligações com membros da facção criminosa PCC. O partido é o mesmo o qual Capitão Contar é integrante. O áudio foi obtido e divulgado pela Folha nesta quinta-feira (8).

A gravação ocorreu em fevereiro deste ano, durante uma conversa com Thiago Brunelo, filho de um dos fundadores do partido. O diálogo aconteceu em meio a uma disputa interna pela presidência do PRTB, após o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) intervir na sigla.

Segundo fontes com conhecimento do assunto, o encontro foi solicitado por Leonardo Avalanche e ocorreu em um restaurante à beira de estrada em São Paulo. Tentando demonstrar influência sobre autoridades da República para conquistar o apoio de Brunelo, Avalanche não sabia que estava sendo gravado.

No áudio, Avalanche menciona um "chefe do PCC que está solto" e afirma que seu motorista seria um aliado desse criminoso. O "Piauí" citado por Avalanche refere-se a Francisco Antonio Cesário da Silva, ex-líder do PCC na favela de Paraisópolis, em São Paulo.

Além disso, Avalanche afirmou ter sido responsável pela soltura de André do Rap, outro líder do PCC, que foi liberado por decisão do STF em 2020. "Eu sou o cara que soltou o André [do Rap]. Esse é o meu trabalho, entendeu? [...] Eu faço um trabalho bem discreto", diz ele no áudio.

A Folha confirmou a veracidade da gravação com duas pessoas que participaram do encontro e outras três ligadas ao atual presidente do PRTB. No entanto, Leonardo Avalanche negou que a voz no áudio fosse dele e questionou a autenticidade da gravação, atribuindo-a a possíveis manipulações tecnológicas. Ele também negou qualquer ligação com o PCC. Thiago Brunelo, por sua vez, optou por não se manifestar.

Leonardo Avalanche foi eleito presidente do PRTB em 25 de fevereiro. Membros do partido o descrevem como alguém que alega ter influência em decisões políticas e judiciais em Brasília, embora não consiga provar tal relevância.

Além do áudio, outro episódio liga o PRTB à facção criminosa. No início da gestão de Avalanche, Tarcísio Escobar, que foi indiciado pela Polícia Civil de São Paulo por associação ao tráfico em uma investigação relacionada ao PCC, chegou a figurar por três dias como presidente do partido em São Paulo.

Escobar, que tem condenações anteriores por estelionato e furto, nega envolvimento com o PCC e alega que o indiciamento é uma perseguição contra ele, Pablo Marçal e Avalanche.

Em outro trecho do áudio, Avalanche também menciona que o empresário Eike Batista o recebe no aeroporto quando visita o Rio de Janeiro e que teria influenciado o ministro do STF, Alexandre de Moraes, com a ajuda do ex-presidente Michel Temer, a tomar decisões favoráveis a ele na presidência do TSE.

Avalanche ainda alegou ter contato direto com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Durante a conversa, ele realizou uma videochamada com Jorge Periquito, ex-assessor de Pacheco, apresentado por Avalanche como chefe de gabinete do senador.

Periquito, no entanto, afirmou à Folha que conheceu Avalanche virtualmente por meio de outro político aliado ao PRTB e que atendeu à ligação sem conhecê-lo pessoalmente, apenas confirmando o apoio de Minas Gerais à chapa.

As assessorias de Temer, do presidente do Senado e do ministro Alexandre de Moraes não comentaram o caso. A Folha não conseguiu contato com Eike Batista. Já Leonardo Avalanche reafirmou à Folha que nunca esteve "com nenhuma autoridade dessas mencionadas".