G1/PCS
Documentos da investigação da nova fase da Lava Jato revelam como foi feito o acerto em que o empresário Joesley Batista, dono do frigorífico JBS, promete pagar R$ 2 milhões ao senador Aécio Neves (PSDB-MG), a pedido do senador.
A TV Globo teve acesso à transcrição da conversa entre os dois. Além de Aécio indicar o primo para receber o dinheiro, ele também relata que ficou “dez noites sem dormir direito” e disse que precisa do dinheiro para pagar advogados: “como vou entrar numa merda dessa sem advogado”, disse.
No termo de depoimento de Joesley Mendonça Batista consta que AÉCIO disse que era preciso aprovar a lei de anistia ao caixa 2 e a do abuso de autoridade; que AÉCIO disse que já tinha falado com RODRIGO MAIA; (...) que na mesma conversa, sobre a lei de anistia do caixa 2 e a do abuso de autoridade, AÉCIO disse que só cuidava dessas questões, da tentativa de aprovar isso, e que já estava articulando com RODRIGO MAIA e MICHEL TEMER.
Ainda de acordo com o termo, está transcrito do diálogo constante da mídia que acompanha a inicial do presente feito “AEunique.WAV”, o qual se encontra transcrito no Relatório de Análise nº 039/2017-SPEA/PGR (ambos na mídia encartada às fls. 64), nos seguintes termos, com reprodução em parte aqui:
AÉCIO: Esses vazamentos, essa porra toda, é uma ilegalidade... .
JOESLEY: Não vai parar com essa merda?
AÉCIO: Cara nós tamos vendo (...) primeiro: nós temos dois caras frágeis pra caralho nessa estória é o EUNÍCIO e o RODRIGO, o RODRIGO especialmente também, tinha que dar uma apertada nele que nós tamos vendo o texto (...) na terça-feira.
JOESLEY: Texto do que?
AÉCIO: Não...são duas coisas: primeiro cortar o pra trás (...) de quem doa e de quem recebeu...
JOESLEY: e de quem recebeu
AÉCIO: Tudo. Acabar com tudo esses crimes de falsidade ideológica, papapá, que é que na, na, na mão [dupla], texto pronto nãnã. O EUNICIO afirmando que tá com culhão pra votar, nós tamo. Porque o negócio agora não dá para ser mais na surdina tem que ser o seguinte, todo mundo assinar, o PSDB vai assinar, o PT vai assinar, o PMDB vai assinar, tá montada. A idéia é votar na, porque o RODRIGO devolveu aquela tal das dez medidas, a gente vai votar naquelas dez, naquela merda das dez medidas, toda essa porra. O que que eu tô sentindo? Trabalhando nisso igual um louco.
JOESLEY: Lógico.
AÉCIO: O RODRIGO, enquanto não chega nele essa merda direito né?
JOESLEY: Todo mundo fica com essa. Não ....
AÉCIO: E, meio de lado, não, meio de leve, não, meio de raspão, né, não vou morrer. O cara, cê tinha que mandar um, um, cê tem ajudado esses caras pra caralho, tinha que mandar um recado pro RODRIGO, alguém seu, tem que votar essa merda de qualquer maneira, assustar um pouco, eu tô assustando ele, entendeu, se falar coisa sua aí...forte .. Não que isso? (Livra) resolvido isso tem que entrar no abuso de autoridade ... o que esse Congresso tem que fazer. Agora tá uma zona, porque? O EUNÍCIO não é o RENAN, o RENAN ...
JOESLEY: Já andaram batendo no EUNICIO aí né? Já andaram batendo nas coisas do EUNÍCIO, negócio da empresa dele, não sei o quê.
AECIO: Ontem até ....eu voltei com o MICHEL ontem, só eu e o MICHEL, pra saber também se o cara vai bancar entendeu, diz que banca, porque tem que sancionar essa merda, imagina bota cara.
JOESLEY: E, aí ele chega lá e amarela.
AECIO: Aí o povo vai pra rua e ele amarela. Apesar que a turma no torno dele o MOREIRA, [RICARDO] esse povo, o próprio PADILHA não vai deixar escapulir. Então chegando finalmente a porra do texto, tá na mão do EUNÍCIO...
(...)
JOESLEY - Esse é bom?
AECIO - Tá na cadeira (...) O Ministro é um bosta de um caralho, que não dá um alô, peba, está passando mal de saúde pede para sair MICHEL tá doido. Veio só eu e ele ontem de São Paulo, mandou um cara lá no OSMAR SERRAGLIO, porque ele errou de novo de nomear essa porra desse (...). Porque aí mexia na PF. O que que vai acontecer agora? Vai vim inquérito de uma porrada de gente, caralho, eles são tão bunda mole que eles não (tem) o cara que vai distribuir os inquéritos para o delegado. Você tem lá cem, sei lá, dois mil delegados da Polícia Federal. Você tem que escolher dez caras, né? do MOREIRA, que interessa a ele vai pro JOÃO.
JOESLEY – Pro o JOÃO.
AÉCIO - É. O AÉCIO vai pro ZÉ, (...)
JOESLEY - (...) [vozes intercaladas]
(...)
AÉCIO – Tem que tirar esse cara.
JOESLEY - É, pô. Esse cara já era. Tá doido.
AÉCIO - E o motivo igual a esse?
JOESLEY - Claro. Criou o clima.
AÉCIO - É ele próprio já estava até preparado para sair.
JOESLEY - Claro. Criou o clima. (...)
Afastamento e pedido de prisão
O ministro Edson Fachin, relator da Operação Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), negou o pedido de prisão do senador Aécio Neves e não levará para o plenário a decisão sobre o assunto.
O plenário só avaliará o caso se o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, autor do pedido, decidir recorrer da decisão de Fachin.
A decisão de Fachin afastou Aécio Neves do mandato. Ele pode ir ao Congresso, mas não pode votar nem fazer nenhum ato como parlamentar. Fachin apreendeu o passaporte do senador e o proibiu de ter contato com outros investigados.
Em delação premiada à Procuradoria Geral da República, o empresário Joesley Batista, dono do frigorífico JBS, entregou uma gravação de 30 minutos na qual Aécio, presidente nacional do PSDB, pede ao empresário R$ 2 milhões para pagar a defesa dele na Operação Lava Jato. A delação foi homologada pelo ministro Fachin.
Operação Patmos
Endereços ligados a Aécio Neves foram alvos de mandados de busca e apreensão na manhã desta quinta-feira (18) no Rio de Janeiro, em Belo Horizonte e em Brasília.
A operação foi batizada pela Polícia Federal de Patmos, em referência à ilha grega onde o apóstolo João teve visões do Apocalipse.
O acesso aos corredores dos gabinetes dos senadores Aécio Neves e do deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) no Congresso Nacional foram bloqueados pela manhã.
Os agentes da PF chegaram ao Congresso pela Chapelaria, o acesso principal às duas Casas legislativas. Eles carregavam malotes para apreender documentos e possíveis equipamentos eletrônicos.
No Rio, foram cumpridos mandados de busca e apreensão em três endereços: os apartamentos de Aécio e da irmã dele e o imóvel de Altair Alves Pinto, conhecido por ser braço direito de do ex-deputado Eduardo Cunha. A irmã do senador, Andrea Neves, foi presa em Nova Lima, na região metropolitana de Belo Horizonte.