Sheila Forato
Algo errado não está certo. Já diz a máxima popular.
O Edição MS teve acesso a íntegra do processo contra o vereador Ângelo Gari (PP), que acabou em pizza, com arquivamento da denúncia e, consequentemente, sua absolvição, em sessão que durou quase oito horas nesta segunda-feira (19), na Câmara de Coxim.
Leia:
Maioria dos vereadores absolve Ângelo Gari e sessão termina em pizza, literalmente
Ângelo foi denunciado por receber salário da Prefeitura de Coxim sem trabalhar por 16 meses, entre janeiro de 2021 e abril de 2022. Na tentativa de provar o contrário, o vereador apresentou diversos documentos à Comissão Processante. Dentre esses, relatórios de pontos e folhas de frequências.
A maioria desses documentos deveria complicar a situação do vereador, porém, os colegas que o investigaram não se atentaram para os fatos (?). A Comissão Processante foi presidida por Flávio Duarte (PP) e tinha como membros João do Posto (PSD) e Vilmar Vendruscolo (PTB).
Vamos aos fatos, por amostragem
Em janeiro de 2021, logo que tomou posse como vereador, Ângelo apresentou relatório de ponto com entrada a partir das 21 horas e saída entre 3 e 5h10. Neste mês, o vereador que é concursado como servente, mas, estava lotado no setor de Lixo, trabalhou apenas 11 dias. Entretanto, recebeu o salário integral, conforme holerite do mês citado, disponível no portal da transparência da Prefeitura de Coxim.
O próprio holerite demonstra que o horário que Ângelo Gari deveria trabalhar era das 7 às 11 e das 13 às 17 horas, por que batia ponto em outro horário? É uma das perguntas que a investigação deveria ter respondido, mas, não o fez. Assim como também não questionou o recebimento do salário integral, diante de tantas faltas que se acumulavam mês a mês.
Outro detalhe que chama a atenção é o fato de nenhum dos relatórios de pontos ou folhas de frequência estarem atestadas por chefes imediatos ou recursos humanos. Nenhum desses documentos estão assinados, nem do período em que Ângelo Gari esteve na secretária de Obras, tampouco na Defesa Civil.
Na Defesa Civil, se juntarmos as folhas de frequência não assinadas pela chefia imediata ao depoimento do coordenador do setor a situação fica ainda mais grave. Ao ser ouvido pela Comissão Processante, Gilberto Portela, que está à frente da Defesa Civil, deixou claro que nunca teve o vereador investigado como colega de trabalho.
A Comissão Processante se contentou com três camisetas de uniformes apresentados por Ângelo Gari, confeccionadas na gestão passada, como prova de que trabalhou na Defesa Civil. Em janeiro de 2022, ainda lotado na Defesa Civil, o investigado trabalhou apenas 14 dias e novamente recebeu salário integral. Isso aconteceu praticamente todos os meses do período denunciado.
O Edição MS está levantando outras irregularidades que passaram batidas pela Comissão Processante e vai mostrar nas próximas reportagens. Vale lembrar que, independente da decisão da Câmara de Coxim, que arquivou a denúncia acatando o pedido da Comissão Processante, o Ministério Público de Mato Grosso do Sul trabalha numa investigação paralela.