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O juiz Sergio Moro adiou para depois do segundo turno das eleições os interrogatórios agendados na ação em que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é acusado de ter se beneficiado com obras feitas no sítio de Atibaia por empreiteiras fornecedoras da Petrobras. Em despacho publicado na manhã desta quarta-feira, o juiz remarcou as audiências para a partir do dia 5 de novembro. Lula só deverá ser interrogado no dia 14 de novembro, conforme publicou Merval Pereira em sua coluna no fim da manhã desta quarta-feira.
"A fim de evitar a exploração eleitoral dos interrogatórios, seja qual for a perspectiva, reputo oportuno redesignar as audiências", afirma Moro em seu despacho.
O juiz lembrou ainda que faltam apenas os interrogatórios dos acusados para finalizar o processo e que, apesar de condenado por corrupção e lavagem de dinheiro na ação penal, e estar preso por ordem do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, "o acusado apresenta-se como candidato à Presidência da República". Os interrogatórios do caso haviam sido marcados para o período de 27 de agosto a 11 de setembro, coincidindo com o período de campanha eleitoral. Lula seria ouvido no dia 11 de setembro, mesma data em que falaria o pecuarista José Carlos Bumlai.
OBRAS FEITAS POR EMPREITEIRAS
Obras de ampliação e reforma no sítio de Atibaia, que não está em nome de Lula, foram feitas pelas empreiteiras Odebrecht e OAS, além de Bumlai, amigo do ex-presidente. O Ministério Público Federal diz que elas representaram repasse de propina de contratos da Petrobras. A cúpula da Odebrecht vai prestar depoimento no dia 7 de novembro. Nessa data, falarão os empresários Emílio Odebrecht e seu filho, Marcelo Odebrecht, além de Alexandrino Alencar, braço direito do patriarca do grupo e próximo ao ex-presidente Lula. Todos são delatores da Lava-Jato.
No dia 9 de novembro serão interrogados os representantes da OAS, José Adelmário Pinheiro Filho, mais conhecido como Léo Pinheiro, e Agenor Franklin Magalhães Medeiros, que estão presos e já cumprem pena por pagamento de propina em contratos da Petrobras. Os dois tentam firmar acordo de delação premiada. Também será ouvido o engenheiro Paulo Gordilho, que cuidou de parte da reforma.
Depois de ouvir os representantes das empresas, serão ouvidos dia 12 de novembro o ex-segurança de Lula Rogério Pimentel, que acompanhou as obras; o advogado Roberto Teixeira, amigo do ex-presidente, e Fernando Bittar, que é dono de uma parte do sítio de Atibaia. A outra parte está em nome de Jonas Leite Suassuna, que não foi ouvido no processo. A mulher de Jonas, Claudia Bueri Suassuna, apresentou relato voluntariamente ao Ministério Público Federal e disse que sabia que Lula usaria a propriedade.
A defesa de Lula afirma que a família de Jacó Bittar, que é seu amigo desde os tempos de sindicalista no ABC paulista, emprestou a propriedade para que Lula a usasse depois que ele deixou a Presidência da República e para armazenar parte do acervo presidencial.
Nesta quarta-feira, a defesa do ex-presidente divulgou nota afirmando que atos de processo não deveriam ser orientados pelo calendário eleitoral: "Um processo criminal jamais poderia ter seus atos orientados pelo calendário eleitoral. A mudança das datas dos depoimentos, porém, mostra que a questão eleitoral sempre esteve e está presente nas ações contra o ex-presidente Lula que tramitam em Curitiba".
Com o adiamento das audiências, Moro afirmou no despacho que focará seu trabalho em outras ações, que têm acusados que cumprem prisão preventiva.