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A doleira Nelma Mitsue Penasso Kodama, acusada de atuar em parceria com Alberto Youssef no esquema da Operação Lava Jato, disse na CPI da Petrobras, nesta terça-feira (12), que os euros apreendidos com ela no Aeroporto de Guarulhos não estavam na calcinha.
De acordo ela, dois pacotes com notas altas de euros estavam escondidos em dois bolsos na parte de trás da calça jeans que ela usava. "Eu me sinto injustiçada porque fui presa no dia 14 de março, que eu estava indo a Milão, não estava fugindo do país", disse. Durante seu depoimento, Nelma ainda se levantou e mostrou como teria guardado o dinheiro no bolso.
"É de conhecimento de todo mundo que existem notas de 5 euros, 10 euros, 50 euros, 100 euros, 200 euros e 500 euros. Então, 200 mil euros significa um pacotinho assim e um pacotinho assim", disse, mostrando com os dedos o tamanho dos pacotes.
O deputado Júlio Delgado (PSB-MG) perguntou a Nelma para quem ela levaria os 200 mil euros. A doleira se negou a responder.
A declaração de Nelma contraria a denúncia do Ministério Público Federal e da PF que diz que ela estava tentando fugir do país com 200 mil euros escondidos na calcinha.
Questionada sobre o porquê de a denúncia citar a calcinha, a doleira justificou: "Acho que é porque houve outros acontecimentos que algumas pessoas apareceram com dinheiro na cueca. Então, eu acho que tinha que ter uma mulher que tivesse dinheiro na calcinha".
Nelma já foi condenada a 18 anos de prisão por evasão de divisas, operação de instituição financeira irregular, evasão de divisas tentada, corrupção ativa e pertinência a organização criminosa.
'Amada Amante'
Ainda durante o seu depoimento, o deputado Altineu Côrtes (PR-RJ) perguntou se Nelma tinha sido amante do doleiro Alberto Youssef. "Eu vivi maritalmente com Alberto Youssef do ano de 2000 a 2009. Amante é uma palavra que engloba tudo. Amante é esposa, amante é amiga", respondeu a doleira. No final da resposta, Nelma ainda brincou e cantou um trecho da música "Amada Amante", de autoria de Roberto Carlos.
Na sequência, o presidente da CPI, deputado Hugo Motta (PMDB-PB), chamou a atenção da investigada. "Senhora Nelma, nós não estamos em um teatro. Eu gostaria que a vossa senhoria se detenha a responder as perguntas mantendo a ordem e o respeito ao Congresso Nacional que neste momento está aqui fazendo a CPI".
Nelma Kodama também declarou que nunca teve nenhum contato com o PT ou outro partido político. "Meu desejo é que a CPI possa chegar a uma conclusão, que os culpados sejam culpados e que tudo isso [o sistema] seja mudado", disse a doleira investigada.
Outros investigados a serem ouvidos
Outros cinco presos da Lava Jato também foram convocados para a CPI desta terça-feira. São eles: René Luiz Pereira, acusado de ser um dos operadores do esquema, Luiz Argôlo (SD-BA), André Vargas (sem partido-PR) e Pedro Corrêa (PP-PE), ex-deputados federais, e o doleiro Carlos Habib Chater, dono do posto de gasolina em Brasília que deu nome à operação da Polícia Federal.
A comissão ouve os investigados em Curitiba, onde eles estão presos. Os depoimentos acontecem desde segunda-feira (11) no auditório do prédio da Justiça Federal.
Primeiro dia de CPI
A sessão da CPI de segunda em Curitiba ouviu sete dos 13 investigados em quase dez horas de duração. A oitiva registrou momentos de animosidade, com bate-boca entre deputados e o advogado do empresário Fernando Baiano.
Foram ouvidos: Alberto Youssef, Mário Góes, Nestor Cerveró, Fernando Soares, Guilherme Esteves, Adir Assad e Iara Galdino. Destes, apenas os doleiros Youssef e Iara Galdino responderam aos questionamentos dos parlamentares.
‘Planalto sabia’
O doleiro Alberto Youssef reafirmou, no depoimento, que ele acredita que o alto escalão do governo federal sabia do esquema de corrupção na estatal. A confirmação de Youssef foi feita após o deputado Bruno Covas (PSDB-SP) ler depoimento de delação premiada do doleiro, em que ele citava políticos que, segundo o próprio Youssef, tinham conhecimento das irregularidades.
Na lista do depoimento prévio de Youssef, o deputado leu os nomes do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, da presidente Dilma Rousseff e dos ex-ministros Antonio Palocci, Gleisi Hoffmann, José Dirceu, Ideli Salvatti, Gilberto Carvalho e Edison Lobão. Após a leitura dos nomes, Covas perguntou se Youssef confirmava se, na opinião dele, essas pessoas tinham conhecimento do esquema.
“Confirmo e digo que isso é no meu entendimento", afirmou o doleiro.
‘Injustiçada’
Já Iara Galdino disse que se sentia injustiçada com as acusações. Ela afirmou que abria as empresas de fachada, em nome de laranjas, mas não tinha contato com clientes. Galdino garantiu que jamais assinou nenhum contrato de câmbio, que fazia parte do “terceiro escalão” do esquema, e que foi usada por uma “organização criminosa”.
A doleira já foi condenada em um dos processos decorrentes da Lava Jato por evasão de divisas, por operar instituição financeira irregular, corrupção ativa e por pertencer a organização criminosa. Somadas as penas foram de 11 anos e nove nesses de reclusão.
Bate-boca
A sessão da CPI teve um momento acalorado durante o depoimento de Fernando Soares, o Fernando Baiano, que permaneceu em silêncio. Em determinado momento, o deputado Onix Lorenzoni (DEM-RS) sugeriu ao investigado que considerasse fazer um acordo de delação premiada, porque o silêncio não seria uma boa estratégia. O advogado de Fernando Baiano retrucou: “A estratégia de defesa é minha, não é sua”, o que deu início a uma discussão.
Os parlamentares criticaram a postura do advogado, uma vez que apenas o investigado teria direito à palavra. O bate-boca durou cerca de dois minutos até que foi controlado pelo presidente da CPI, deputado Hugo Motta (PMDB-PB). Lorenzoni e o criminalista voltaram a discutir ainda ao final da sessão pelo mesmo motivo.
Cerveró
O ex-diretor área Internacional da Petrobras Nestor Cerveró também não quis responder às perguntas dos parlamentares. Ele afirmou, no início do depoimento, que deveria estar respondendo aos processos em liberdade e que só falaria após “ser devolvido” o seu direito constitucional à liberdade.
Os depoimentos de Mário Góes, Guilherme Esteves de Jesus e Adir Assad, acusados de serem operadores do esquema também transcorreram com silêncio dos investigados.