G1/LD
Na busca dos votos para aprovar a reforma previdenciária, o Palácio do Planalto pretende atender aos partidos do "centrão" com cargos em estatais, secretarias, departamentos e autarquias, os chamados cargos de segundo e terceiro escalão.
A estratégia do governo tenta contemplar a cobrança por mais espaço do bloco partidário e o desejo do PSDB de não abrir mão dos quatro ministérios que ocupa no governo de Michel Temer.
Conforme apurou o G1, o Planalto tem sido pressionado pelos líderes do centrão, que pedem mais cargos para endossar a reforma previdenciária, em especial, após o auxílio para barrar a denúncia por corrupção passiva contra o presidente da República.
O centrão é um bloco partidário idealizado pelo deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). A aliança de legendas como PP, PR, PSD, PTB, PRB e PSC, foi decisiva na eleição do peemedebista para a presidência da Câmara, em 2015.
Após o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, em 2016, o grupo virou parte importante da base parlamentar do governo Temer e ajudou o peemedebista, no dia 2 de agosto, a barrar o encaminhamento da denúncia apresentada pela Procuradoria Geral da República (PGR) ao Supremo Tribunal Federal (STF).
Consumada a vitória de Temer na Câmara dos Deputados, integrantes do centrão passaram a cobrar um maior espaço dentro do governo. O pleito foi reforçado principalmente após deputados do PSDB, que comanda quatro ministérios, não terem garantido apoio total a Temer na votação da denúncia.
Dos 47 deputados tucanos, 21 votaram contra o governo. No PP, por exemplo, foram 37 votos a favor de Temer e 7 contra.
Alvos tucanos
O alvo preferencial do centrão é o espaço ocupado pelos tucanos no governo, apesar do interesse em cargos do PV, PSB e PPS. O PSDB ocupa quatro ministérios na gestão Temer: Cidades (Bruno Araújo), Relações Exteriores (Aloysio Nunes), Secretaria de Governo (Antonio Imbassahy) e Direitos Humanos (Luislinda Valois).
Das quatro pastas, a que desperta maior cobiça do centrão, segundo apuração do G1, é a da Cidades, em razão do orçamento e das obras executadas nos estados de saneamento, mobilidade e habitação.
O PP gostaria de reassumir o ministério, porém a avaliação dentro do governo é de que o partido está bem contemplado com o comando das pastas da Saúde e Agricultura.
O Ministério das Cidades também está no radar do PSD que, no momento, tem Gilberto Kassab à frente da Ciência, Tecnologia e Comunicações. Seria um retorno do partido à pasta, já que, no governo Dilma, o próprio Kassab foi ministro das Cidades, mas se demitiu às vésperas da votação do processo de impeachment na Câmara, em abril de 2016.
Na análise da denúncia, o PSD garantiu 22 votos para barrar a acusação, enquanto teve outros 14 a favor dela.
Líder do PSD na Câmara, Marcos Montes (MG) admite que há uma “insatisfação” na bancada. “O PSD quer ter o reconhecimento da dimensão da sua fidelidade. Merecemos um tratamento especial, com mais espaço no governo”, afirma.
Segundo Montes, a bancada valoriza a pasta que comanda no momento, porém, trata-se de um ministério com poucas realizações nos estados.
“O PSD não precisa assumir um novo ministério, mas espaços de segundo ou terceiro escalão na base valorizam a fidelidade do partido”, diz o líder.
O PTB também tem interesse em mais cargos. Presidente nacional da legenda, o ex-deputado Roberto Jefferson (RJ) usou sua conta no Twitter para cobrar de Temer a saída do PSDB do governo.
“Temer, respeite quem se expôs por você. Respeite quem deu a cara a tapa por você. Fora do governo com os tucanos”, escreveu.
O PTB foi um dos partidos que demonstrou maior fidelidade a Temer na análise da denúncia. Dos 18 deputados que votaram, 15 se posicionaram para barrar a acusação, 2 pela continuidade e 1 faltou a sessão.
Atualmente, a legenda ocupa o Ministério do Trabalho, comandado por Ronaldo Nogueira (RS) – deputado federal, ele foi exonerado temporariamente, votou com o governo na Câmara e retornou ao cargo.
Análise do Planalto
O presidente Michel Temer tem conversado com seus líderes no Congresso e ministros para encontrar uma forma de contemplar tucanos e centrão. A ordem é evitar falar em reforma ministerial. As punições aos infiéis ficam, por ora, em cargos de segundo e terceiro escalão.
O placar da análise da denúncia – 263 a 227 – indicou que o governo não dispõe dos 308 votos necessários na Câmara dos Deputados para aprovar a reforma previdenciária.
Um dos ministros mais próximos de Temer, Moreira Franco (Secretaria-Geral) afirmou ao G1 que, no caso dos tucanos, é “preciso levar em consideração o aspecto da competência” dos ministros antes de definir possíveis demissões.
“O governo tem mais de um ano, há programas em andamento, não dá para você ficar começando tudo de novo”, ponderou.
De acordo com Moreira, a área política do Planalto fará uma análise de cada voto contrário ao governo na denúncia. Moreira ainda lembra que não é da “cultura política” do PMDB retaliar. “Sempre agimos sem medo, mas também sem ódio”.
A articulação do governo pretende, no momento, distribuir de forma pontual espaços na máquina pública. As exonerações miram parlamentares de diferentes partidos que apoiaram a denúncia e que mantêm discurso contrário à reforma previdenciária.
Quem apoiou a acusação, mas garante voto na reforma, pode preservar ou recuperar eventuais cargos perdidos.
Reação tucana
Rachado na votação da denúncia, o PSDB adotou o discurso de que eventuais mudanças ministeriais são decisões exclusivas de Temer. O Planalto, por sua vez, espera “coerência” dos tucanos, ganhando votos dos deputados na reforma da Previdência.
Líder da sigla na Câmara, que orientou voto favorável à continuidade da denúncia contra Temer, Ricardo Tripoli (SP) garante apoio às reformas. “Se apoiar as reformas é estar na base, então estamos na base”, diz.
No PSDB, apurou o G1, os deputados e senadores não trabalham com a perspectiva de perder espaço no curto prazo, já que os ministros Bruno Araújo e Antonio Imbassahy voltaram à Câmara para votar a favor de Temer e se empenharam em busca de votos.
Responsável pela articulação política do governo, Imbassahy esteve ao lado de Temer durante todo o debate da denúncia. O discurso do presidente licenciado do PSDB, senador Aécio Neves (PSDB-MG), visa reestabelecer os laços com o PMDB.
Na quarta-feira (9), após participar de reunião da executiva nacional do partido, Aécio afirmou a discussão sobre o eventual desembarque do governo é uma questão "superada". Nesta sexta-feira (11), Temer esteve com o presidente interino do partido, Tasso Jereissati.
O líder do PSDB no Senado, Paulo Bauer (SC) garante que a legenda não está preocupada com uma eventual perda de espaço no governo e, tampouco, pensando em uma aliança com o PMDB para as eleições de 2018. "Quando entramos no governo foi para o bem do Brasil. Quando saírmos, não podemos fazer mal ao país, tem que ser em um momento mais calmo", opinou.