O Globo/LD
O Partido Progressista (PP), que hoje ocupa ministério e faz parte da base do governo, decidiu que irá tomar uma posição sobre continuar ou não apoiando Dilma Rousseff somente na segunda semana de abril, após a decisão da Comissão de Impeachment instalada na Câmara dos Deputados.
Parlamentares da legenda se reuniram na manhã desta quarta-feira com o presidente do PP, Ciro Nogueira (PI), e fecharam essa data, quando ocorrerá uma convenção. Cerca de 300 delegados decidirão o destino do partido. Na entrevista coletiva de deputados para anunciar o resultado da reunião, ficou claro a divisão no PP sobre o apoio ao governo. O líder da legenda, e ex-ministro das Cidades do governo Dilma, Aguinaldo Ribeiro (PB), divergiu várias vezes dos outros dois parlamentares que participaram da entrevista e que lideram o desembarque do governo Dilma: Jerônimo Goergen (RS) e Júlio Lopes (RJ).
— Foi acordado que o PP fará reunião do seu diretório para decidir se permanece ou se toma outro rumo em relação ao governo — disse Aguinaldo, logo apartado por Júlio Lopes.
— Não haverá decisão de ocupar cargo ou desembarcar até a reunião. A maioria (dos deputados) quer se retirar do governo — disse Lopes.
— Não é momento para discutir cargo, mas contribuir apresentando um manifesto de alternativas para o país. O momento é de recuperar empresas e ajudar o Brasil.
Foi a vez de Goergen se manifestar:
— O PP vai construir uma posição única. Liderei esse requerimento (de antecipar reunião do partido) e temos uma posição majoritária de deixar o governo — disse Goergen, que foi rebatido por Ribeiro.
— Ele (Goergen) não pode falar como líder. Não é líder. Não tenho essa avaliação.
No final, os dois voltaram a divergir:
— Queremos, antes da votação do impeachment em plenário, fechar uma posição de sair do governo, que nunca deveria ter entrado — disse Goergen, contestado por Ribeiro:
— O PP entrou no governo por decisão aprovada pelo diretório.
Jerônimo Goergen é investigado na Lava-Jato, acusado pelo doleiro Alberto Yousseff de estar na lista dos integrantes do partido beneficiados com uma mesada do esquema. O parlamentar nega a acusação e já depôs sobre o assunto na Polícia Federal.
ALIADOS DIVIDIDOS
Assediados pelo Palácio do Planalto, PP e PR começaram a discutir, nesta quarta-feira, o posicionamento em relação ao governo Dilma Rousseff. Mas, segundo integrantes dessas legendas, as negociações devem se prolongar enquanto as bancadas seguem divididas sobre o que fazer: se devem ficar ou não na base. Parlamentares mais experientes afirmam que, agora, as análises se referem à participação no atual governo e num eventual governo Michel Temer. O PP, que se reuniu nesta manhã rachado, conta com 49 deputados, e o PR, 40.
A senadora Ana Amélia (PP-RS) lidera o movimento para o desembarque do governo Dilma.
— A posição do Rio Grande do Sul é essa. Não podemos ser o último a sair desse barco. O PP do Rio Grande do Sul sempre foi maltratado por esse partido — disse Ana Amélia.
No entanto, outros parlamentares defendem aguardar o desenrolar do que ocorrerá na comissão especial do impeachment.
O deputado Ricardo Barros (PP-PR) negou qualquer ida para o ministério e disse que não há razão para o PP sair do governo agora.
— Como disse mais cedo, antes da comissão especial do impeachment não ocorre nada. E o PP sempre será da base, de qualquer governo — disse Ricardo Barros.
Segundo interlocutores, o ex-presidente Lula estaria conversando com integrantes do partido.
OUTRO ALIADO RACHADO
No PR, o cenário também é de racha. Apesar do esforço do governo em tentar garantir votos de partidos da base aliada em troca de cargos, a operação não tem garantia de sucesso. O PR, que já tem o Ministério dos Transportes, está ouvindo propostas da presidente Dilma, mas, mesmo que aceite comandar mais alguma pasta na Esplanada, isso pouco deverá influenciar na posição da bancada da Câmara.
A legenda definiu até o momento que não irá desembarcar formalmente, a exemplo do que fez na terça-feira o PMDB, mas irá liberar o voto dos parlamentares no processo de impeachment. Dos 40 deputados, segundo as contas de dirigentes, 25 são a favor do afastamento da presidente Dilma. Este número vem crescendo a cada dia. Na semana passada, último levantamento feito pela direção, eram 20 a favor e 20 contra.
— Não vamos desembarcar, nem fechar questão a favor do impeachment, porque quem descumprir terá que ser punido até com expulsão e não queremos isso. A posição majoritária é pela liberação — disse um cacique do PR.
Integrante da base aliada de Dilma mas sem uma identificação ideológica, como PCdoB e PDT, o PR aguardará os desdobramentos da crise. Se a presidente se mantiver no cargo, deverá permanecer no governo. Se houver impeachment, o desembarque, nas palavras de um líder do partido, "será natural".
NOVA REFORMA À VISTA
Após o já esperado rompimento formal do PMDB com o governo, a presidente Dilma Rousseff começou a preparar uma reforma ministerial, que deverá ser anunciada até sexta-feira. Escalado para falar em nome do governo, o ministro da Chefia de Gabinete da presidente, Jaques Wagner, chegou a falar em “governo novo” e a dizer que a saída do principal aliado abre uma “boa” oportunidade para que Dilma inicie uma nova fase, com outros aliados nos espaços deixados pelo PMDB. O governo conta com um mapa dos cerca de 580 cargos da máquina federal hoje ocupados por indicação de peemedebistas.