G1/LD
A ex-governadora do Rio Rosinha Garotinho manteve o silêncio e o marido dela, também ex-governador do estado, Anthony Garotinho (PRP), disse ter os direitos cerceados na audiência de interrogatório desta segunda-feira (4) no Fórum Maria Tereza Gusmão, em Campos dos Goytacazes, no Norte Fluminense, pela Operação Caixa D'Água.
Segundo a denúncia, foram identificados elementos que apontam contratos fraudulentos para a prestação de serviços com Prefeitura de Campos. Empresários eram coagidos, ainda de acordo com a denúncia, a pagar propina ao governo municipal. O dinheiro seria usado para pagamento de campanha eleitoral.
O ex-governador Anthony Garotinho afirmou que o advogado do casal não pôde estar presente por conta de uma cirurgia e que não acha justo ser defendido por um advogado escolhido pela Justiça. A ausência do advogado foi usada por Garotinho para também ficar em silêncio na audiência, que começou por volta das 13h20.
O advogado deles não veio por conta da cirurgia e eles não reconhecem os advogados dativos nomeados pela Justiça, por isso, ele também não vai responder nada.
Garotinho começou falando que a defesa dele e de Rosinha está sendo cerceada porque o advogado deles tem uma cirurgia marcada para hoje e eles estão sendo defendidos por dois advogados dativos nomeados pela Justiça, o que ele acha errado.
Os políticos são réus na ação eleitoral aberta a partir da Operação Caixa D' Água, que prendeu os ex-governadores e mais seis pessoas em novembro de 2017. À imprensa, na porta do fórum, Garotinho disse apenas que "quem não deve, não teme".
São oito réus ao todo: o casal Garotinho, um ex-subsecretário de Governo da Prefeitura de Campos e atual vereador na cidade, outro ex-secretário, um policial civil aposentado e um empresário. Os outros dois réus, o ex-ministro Antônio Carlos Rodrigues, e o genro dele, vão participar do interrogatório por carta precatória.
O primeiro réu a ser interrogado pelo juiz Ralph Manhães foi Thiago Godoy, ex-subsecretário de Governo da Prefeitura de Campos e atual vereador na cidade. Ele negou qualquer envolvimento no esquema criminoso narrado na denúncia do Ministério Público. Godoy disse ainda que nunca participou de nenhuma reunião sobre arrecadação de dinheiro para campanha.
O segundo réu foi um empresário, que optou por usar seu direito constitucional de ficar calado e preferiu não responder aos questionamentos do juiz, apenas do advogado dele. Ele disse ao advogado que não participou de nenhum esquema criminoso e que nunca solicitou dinheiro a nenhum outro empresário para usar em campanhas eleitorais.
O empresário falou ainda ao advogado, que uma empresa da qual foi sócio e responsável técnico chegou a doar dinheiro para campanhas de Rosinha e Garotinho nas eleições de 2012 e 2014, mas que as doações foram legais e seguiram todos os trâmites pedidos pela Justiça Eleitoral.
O ex-secretário de Controle e Orçamento da Prefeitura de Campos, Suledil Bernardino, o terceiro interrogado, disse que as informações sobre a participação dele em um esquema criminoso são "inverídicas". Suledil afirmou ainda que sempre foi ético.
"Os pagamentos da Prefeitura feitos para empresas prestadoras de serviço seguiam critérios técnicos. Nenhuma empresa ou empresário tinha privilégios na ordem dos pagamentos", disse Suledil.
Após o ex-secretário, Rosinha, o policial civil apontado como "braço armado do grupo", e o ex-governador Anthony Garotinho foram chamados pelo juiz, mas optaram por ficar em silêncio.
A audiência estava marcada para o dia 18 de abril e os ex-governadores chegaram a comparecer ao fórum de Campos, mas o interrogatório foi adiado.
Essa é a fase final do processo. Após os réus serem ouvidos, a defesa e a acusação apresentarão as alegações finais e, em seguida, a Justiça decidirá a sentença de primeira instância. Durante as prisões, todos os réus negaram envolvimento em qualquer crime.
Operação Caixa D' Água
A ação eleitoral foi aberta a partir das investigações da Operação Caixa D’Água. Segundo a Polícia Federal, foram identificados elementos que apontam que a empresa JBS firmou contrato fraudulento com uma empresa sediada em Macaé para a prestação de serviços na área de informática.
Ainda de acordo com a PF, há suspeita, porém, de que os serviços não tenham sido prestados e de que o contrato, de aproximadamente R$ 3 milhões, serviria apenas para o repasse irregular de valores para a utilização nas campanhas eleitorais.
Garotinho foi preso no Rio de Janeiro e Rosinha em Campos. Ambos ficaram presos no Rio.
O casal Garotinho e o ex-ministro Antônio Carlos Rodrigues foram soltos em dezembro por decisão do ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Todos os outros réus também estão soltos.