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Política
19/03/2016 07:33:00
'Temos que restabelecer a paz', diz Lula

G1/AB

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse em discurso em ato em apoio ao governo federal, na Avenida Paulista, em São Paulo, nesta sexta-feira (18), que voltou ao governo não para brigar, mas para ajudar a presidente Dilma Rousseff a fazer o que tem que ser feito no Brasil. "Eu entrei pra ajudar a presidenta Dilma, porque precisamos restabeler a paz e a esperança e provar que esse país é maior que qualquer coisa no planeta terra", disse Lula.

Ele afirmou ainda que "tem gente que prega a violência contra nós 24 horas por dia" e que "não existe espaço para ódio nesse país."

A CUT, organizadora do ato em defesa democracia, estimou o público em 380 mil pessoas na Paulista no início da noite. A PM afirmou que o protesto reuniu 80 mil pessoas. Segundo o Datafolha, foram 95 mil participantes na manifestação.

O ato começou às 16h. Lula chegou por volta das 19h. Em seu discurso, ele também repetiu o bordão dos grupos que apoiam o governo federal e são contra o impeachmente da presidente Dilma: "Não vai ter golpe!", afirmou Lula.

"Eu aceitei entrar no ministério porque faltam dois anos e seis meses pra Dilma acabar o mandato dela e é tempo suficiente pra gente mudar este país", afirmou Lula. Ele disse que se não estiver ainda impedido por liminares da Justiça, vai começar as funções como ministro na terça-feira.

Além de se manifestarem em defesa da presidente Dilma e do ex-presidente Lula, os manifestantes gritaram palavras de ordem e exibiram cartazes contra a TV Globo.

No pico da manifestação, 11 dos 23 quarteirões da Paulista estavam ocupados. Pela manhã, a PM dispersou o ato contra o governo federal iniciado na quarta-feira, quando Lula foi nomeado Ministro da Casa Civil, e que fechou a Paulista por 39 horas.

Lula voltou a discursar na Avenida Paulista quase 14 anos depois do discurso que fez quando foi eleito presidente pela primeira vez, em 2002.

Ele chegou ao local por volta de 19h, subiu no carro de som e fez discurso inflamado. "Eu espero que seja uma lição para aqueles que não acreditam na capacidade do povo brasileiro. Eu espero que seja uma lição para aqueles que nos tratam como cidadão e cidadã de segunda classe", afirmou Lula.

"Democracia não é um direito morto. O povo não quero que democracia seja apenas uma palavra escrita", disse.

"Eu vim para cá pensando em falar como não ficar nervoso. Quando a companheira Dilma me chamou, relutei muito, desde agosto do ano passado, a voltar ao governo. Quando aceitei ir ao governo, voltei a ser Lulinha paz e amor. Não vou ao governo para brigar. Eu vou lá para ajudar a companheira Dilma a fazer as coisas que tem que fazer por esse país", disse Lula.

"Em época de crise, a gente junta todo mundo e come o que tem, faz o que pode naquele momento que estão vivendo. Por isso, vou ajudar a companheira Dilma a fazer o que precisa fazer.

Lula falou sobre as manifestações de grupos contrários ao governo e pregou a convivência pacífica. "Precisa entender que democracia é a convivência da diversidade. Não quero que quem votou na Aécio goste de mim. Eu quero que a gente aprenda a conviver de forma civilizada com as nossas diferenças", disse.

"Alguns setores ficaram dizendo que nós somos os violentos e tem gente que prega violência contra nós 24 horas por dia. Companheiros e companheiras, tem gente nesse país que falava em democracia da boca pra fora."

Ao mesmo tempo, Lula afirmou que sempre respeitou os resultados nas urnas. "Eu perdi eleição em 1989, em 1994, em 1998. Já tinha perdido em 1982 para o governo de São Paulo. Em nenhum momento vocês viram eu ir para a rua protestar contra quem ganhou."

"Eles acreditavam que ia ganhar. Eles não imaginavam que no segundo turno ia aparecer a juventude, os intelectuais apoiando a Dilma. Eles que se dizem pessoas estudadas não aceitaram o resultado e faz um ano e três meses que estão atrapalhando Dilma a governar esse país."

"Eles vestem amarelo e verde pra dizer que são mais brasileiros do que nós", afirmou. "Eles não são mais brasileiros que nós. Eles são o tipo de brasileiro que gostariam de ir pra Miami fazer compras todo dia. Nós somos o tipo de brasileiro que compra na 25 de março [rua de comércio popular em São Paulo]".

Em certo momento, Lula olhou para o público e gritou: "Não vai ter golpe!".

Antes de encerrar, Lula disse: "Essas pessoas que estão aqui não estão aqui porque tiveram metrô de graça, não estão aqui porque foram convocadas pelos meios de comunicação a semana inteira, estão aqui porque sabem o valor da democracia, estão aqui porque sabem o que é uma filha de uma empregada doméstica chegar a uma universidade, porque sabem o que é um jovem que não tinha esperança fazer um curso técnico, essas pessoas que estão aqui sabem o valor que é um coveiro de cemitério que estuda e vira um diplomata, um médico. É esse país que essa pessoas querem."

"A nossa bandeira verde e amarela está dentro da nossa consciência e do nosso coração, está dentro do nosso ambiente de trabalho."

Lula deu ainda recado aos militantes para não aceitar provocação de grupos contrários. "Vocês foram e são a melhor coisa que esse pais já produziu, a sua gente, é o nosso jeito alegre, e nosso jeito de lidar com a diversidade. Não aceite provocação na volta pra casa. Quem quiser ficar com raiva, que morda o próprio dedo."

O ex-presidente deixou o local acompanhado de vários simpatizantes.

Haddad O prefeito foi o primeiro a discursar. "É a avenida da democracia, da participação. Esse ato histórico, não é um ato em defesa de um governo, de um partido, de um homem ou de uma mulher,é um ato em defesa da República Federativa do Brasil", afirmou Haddad. "O estado democrático de direito corre riscos. Temos ideologia, ponto de vista, mas o que está em jogo são as garantias individuais de cada um de vocês. De quem está aqui e de quem veio no dia 13. Estamos defendendo a segurança política deles e de todos", disse.

Haddad também criticou a condução coercitiva de Lula para prestar depoimento à Polícia Federal e disse que a Constituição está sendo desrespeitada. "Ninguém pode ter suas conversas íntimas publicadas quando não são de interesse público. Ninguém pode ser acordado às 6h da manhã e conduzido coercitivamente", afirmou. "Não existe um cidadão que está na Paulista hoje que não queira levar as investigações às ultimas consequências".

"O que se tem hoje no Brasil é um julgamento sumário", afirmou Haddad.

A concentração começou ainda pela manhã, no vão livre do Museu de Arte de São Paulo (Masp). Além da CUT, estão presentes outros movimentos sociais como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e Central de Movimentos Populares (CMP), CTA da Argentina, UPes e União Estadual dos Estudantes (UEE).

Em frente ao prédio da Fiesp, um grupo de manifestantes gritava palavras de ordem, como "Cadê o pato", "Não vai ter golpe", "o Lula é meu amigo, mexeu com ele mexeu comigo". O local foi isolado pela Polícia Militar.

Gilmar Mauro, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), disse que se houver golpe, haverá protesto todos os dias.

O ministro Miguel Rossetto, do Trabalho e Previdência Social, diz que aqueles que ousarem enfrentar o povo serão derrotados pelo povo na rua.

Tensão Durante o ato, houve uma confusão em frente ao prédio da Fiesp. Por volta de 17h, um grupo contra o governo Dilma Rousseff, que permaneceu na Avenida Paulista dentro da barreira da Polícia Militar, ergueu uma faixa a favor do impeachment. Os manifestantes a favor da democracia se irritaram e avançaram contra o pequeno grupo, mas foram dispersados pela PM com spray de pimenta. Ninguém foi ferido ou preso (veja no vídeo acima).

Antes do início do evento, por volta de 15h, manifestantes contra o governo disseram que não iriam sair durante o protesto pró-Lula e houve momentos de tensão, em que membros dos dois grupos discutiram e foram separados pela Polícia Militar. (veja vídeo abaixo)

O secretário da Segurança Pública de São Paulo, Alexandre de Moraes, disse que a Polícia Militar irá garantir que não haja confronto no ato a favor da democracia e do governo federal que ocorre nesta tarde na Avenida Paulista, Centro da capital.

A Tropa de Choque está posicionada na esquina da Rua Haddock Lobo com a Avenida Paulista durante o protesto pela democracia.