VERSÃO DE IMPRESSÃO
Tecnologia
22/03/2017 18:48:00
"Já me ofereceram US$ 200 mil", diz dono do único PlayStation da Nintendo

UOL/PCS

Em um tempo no qual é comum vermos jogadores discutindo e argumentando que seu console favorito vendeu milhões a mais do que os concorrentes, um jogador em especial se orgulha ao dizer que somente ele tem o seu videogame. Essa é a história do norte-americano Dan Diebold (25), único dono do mundo de um PlayStation feito pela Nintendo e pelo qual já recebeu ofertas de ate US$ 200 mil.

Trata-se de um protótipo (também conhecido como Super NES CD-ROM System, Super Disc ou SNES-CD) desenvolvido em parceria entre Nintendo e Sony no começo dos anos 1990. Estima-se que 200 desses protótipos foram produzidos, porém a maioria deles foi destruída.

Não é exagero, portanto, considerar que a unidade que pertence a Diebold é a única do mundo. "Eu já tentei diversas vezes encontrar outro desse console, mas não tive sorte. Quando aparece alguém que diz ter um outro desses, na verdade a pessoa acaba aparecendo com um Super Famicom ou um Super NES", conta, em entrevista exclusiva ao UOL Jogos.

Dono por acaso

A história sobre como esse videogame chegou até Diebold é curiosa. Seu pai, Terry, trabalhava em uma empresa chamada Advanta, que acabou falindo em 2009. No processo, houve um leilão e ele acabou comprando umas caixas. "Ele acabou dando um lance em umas caixas com pratos e itens de prata e recebeu algumas caixas a mais do que imaginava. Quando chegou em casa, nós abrimos e encontramos o videogame lá", lembra.

A primeira aparição pública do console aconteceu em uma feira de games retrô, em Hong Kong, em 2015. "As pessoas ficaram empolgadas e eu fiquei feliz por ter a oportunidade de mostrar a todos que ele não era falso", brinca.

Ter um console desses também fez com que Diebold mudasse alguns hábitos. "Eu sempre joguei muitos games, mas nunca fui o tipo de cara que vai a convenções. É muito legal ser o dono dele. É uma ótima maneira de iniciar uma conversa e eu posso jogá-lo a hora que eu quiser". O aparelho também poderia se tornar uma mina de ouro para Diebold, ainda mais se considerarmos que ele foi obtido praticamente de graça por seu pai. "Já recebemos diversas ofertas por ele, sendo uma de US$ 200 mil a mais alta". Ele aponta, porém, que o console não está à venda.

Após o caso vir a público e por se tratar de um aparelho bem raro, seria de se esperar que as suas criadoras procurassem Diebold em algum momento. Não foi o que houve, porém. "Sony e Nintendo não tentaram contato comigo. Na verdade, eu tentei falar com elas por diversas vezes para conseguir mais informações sobre o aparelho, mas não me responderam".

E funciona?

Em termos práticos, a resposta para a questão acima é "sim". "Ele roda games de Super Famicom e Super NES, mas não funciona com CDs. Por enquanto", diz Diebold.

De início, o console não aceitava CDs. Diebold, porém, o emprestou para o youtuber Ben Heck, que conseguiu fazer alguns progressos nesse sentido ao abrir o videogame e tentou fazer o drive de CD ficar operacional. "Já é a quarta vez que ele tenta, mas o áudio que sai é horrível".

O videogame, inclusive, ganhou um game exclusivo chamado "Super Boss Gaiden", lançado por fãs em 2016. Curiosamente, nesse game você controla o "chefe" da Sony, que tem a missão de destruir o último protótipo do SNES PlayStation que, acidentalmente, caiu nas mãos do público. Chega a ser irônico.

O nascimento de uma gigante

O aparelho que tanto orgulha Dan Diebold, na verdade, pode ser considerado o "videogame que nunca existiu" mais importante da indústria. A relação entre Nintendo e Sony começou na criação do Super Nes, quando Ken Kutaragi, um engenheiro da Sony, desenvolveu secretamente um chip chamado Sony SPC 700, que viria a equipar o videogame da Nintendo. A qualidade sonora do SNES, aliás, sempre foi uma dos pontos positivos do console em relação à concorrência.

As duas empresas, então, começaram uma parceria em 1988 para que a Sony produzisse em acessório para o SNES, que faria o videogame ser capaz de rodar CDs. Três anos após, durante a CES de 1991, a Sony apresentou um console chamado Play Station, que seria compatível tanto com games de SNES quanto com jogos em CDs.

No dia seguinte à apresentação e nessa mesma feira, a Nintendo anunciou que fechava uma parceria com a Philips - uma das principais concorrentes da Sony - para produzir o acessório que permitiria o SNES ler CDs. Chamado CD-i, o aparelho acabou sendo lançado em 1991, mas não como acessório do videogame da Nintendo. Foi um fracasso, tendo vendido apenas 1 milhão de unidades.

Tudo isso foi resultado de uma disputa entre Sony e Nintendo por direitos autorais dos games para o "SNES PlayStation", algo que nunca foi resolvido pelas duas produtoras.

A confusão toda acabou resultando em algo bom para os jogadores: o surgimento de uma nova e bem-sucedida linha de videogames. Em 1994, a Sony lançou o primeiro PlayStation, um sucesso comercial que gerou um legado que dura até hoje. A Nintendo, por sua vez, colecionou alguns erros nos anos seguintes - como a opção por ainda utilizar cartuchos no Nintendo 64 -, voltando a se destacar significativamente no mercado de consoles apenas com o Wii, em 2006.