Tecnologia
14/02/2014 06:25:37
Moeda virtual bitcoin começa a ganhar espaço no comércio brasileiro
Hostel em Florianópolis e bar em SP já aceitam pagamentos nesse meio. Taxa de transações é atraente, mas volatilidade da cotação pode ser risco.
G1/PCS
O programador André Horta (à esq.), de Belo Horizonte, pagou a revisão de seu carro na oficina de Diego Silva em Bitcoins (Foto: Pedro Ângelo)
\n Transferir bitcoins, hoje, não custa nada. Esse cenário torna a moeda atrativa\n para quem precisa transferir dinheiro entre países diferentes, nos quais taxas\n bancárias e de câmbio inflam o custo do processo. Já existem brasileiros donos\n de hostels, lojas de suplementos vitamínicos e até taxistas, chaveiros e bares\n que fazem suas transações com a moeda virtual. Em Santos, SP, um apartamento de\n 90 m² (três quartos e dois banheiros) é vendido por US$ 250 mil. O empresário\n Rodrigo Souza (que mora em Nova York) aceita apenas Bitcoins como pagamento.\n \n Adepto do bitcoin há cerca de dois meses, o Caracol Hostel de Florianópolis\n recebeu pela estadia de um hóspede alemão o valor de R$ 240, pouco menos de 0,1\n BTC à época. Outros dois turistas, da Polônia, entraram em contato, fizeram\n reservas para se hospedar no local e avisaram que pagarão com bitcoins.\n \n Por que a gente não deveria aceitar?, pergunta Enzo Baldessar, funcionário\n do hostel responsável pela implantação. As operadoras de cartão de crédito\n cobram 5%. Em uma operação recente, um cara mexeu US$ 150 milhões sem pagar\n nada de tarifa. É muito eficiente. Quanto ele não pagaria se fizesse uma\n operação interbancária? Seria dinheiro jogado fora?.\n \n O bar e bicicletaria Las Magrelas, de São Paulo,\n entrou para o time pró-Bitcoin relativamente cedo, em maio de 2013, e já\n registrou sete transações com a moeda. Isso vai bombar a qualquer momento,\n diz Talita Noguchi, de 27 anos, uma das proprietárias. É absurdamente simples.\n Quando você vê o negócio acontecendo, percebe o quão fácil é. É meio sem\n sentido as pessoas terem medo, porque ainda por cima é superseguro.\n \n Com clientes fora do país, o escritório de design Modern Lovers, de São\n Paulo, adotou a moeda em outubro, quando recebeu o equivalente a US$ 6 mil em\n bitcoins para criar a identidade visual de lâmpadas de LED carregadas com\n energia solar. O serviço foi encomendado por um australiano, que chefia a\n subsidiária na África do Sul de uma firma do Reino Unido.\n \n A gente passou a usar bitcoin porque a gente recebia via banco. Além de\n demorar dias, recebendo US$ 1.000 ou US$ 100 vão cobrar aquelas taxas\n gigantes", afirma Fabrício Bellentani, um dos sócios do escritório.\n "Mas ainda são muitos poucos os clientes que usam e que têm essa noção.\n \n 1 bitcoin = R$ 1.900\n \n É bom lembrar que as transações via bitcoin, apesar de não terem o registro\n de instituições financeiras, constituem comercialização de bens e sem a\n declaração à Receita Federal podem representar fraude.\n \n E, sim, há riscos envolvidos: uma das preocupações de economistas é a\n volatilidade da moeda. Um bitcoin valia US$ 0,01 em 2011 e sua cotação já\n atingiu US$ 880 (R$ 1.900), o que mantém alguns comerciantes com um pé atrás.\n "Transformo isso em real quasenbsp; imediatamente", diz Talita, do\n bar Las Magrelas, entusiasta da moeda.\n \n Baldessar, do hostel de Florianópolis, afirma que "por ser uma novidade\n ainda, existe uma grande volatilidade nos preços do bitcoin, por isso é\n interessante para o lojista e para o cliente fixarem o valor a ser pago em real\n e depois fazer a conversão para bitcoin. Acredito que, quando o mercado estiver\n mais maduro, esse procedimento não será mais necessário. Os preços poderão ser\n fixados em diretamente em bitcoin".\n \n Já o analista de sistemas Felipe Micaroni Lalli pensa de forma bem diferente\n sobre manter bitcoins: "Para mim é uma forma de poupança, armazenamento de\n valor, assim como o ouro. É uma forma de fugir da volatilidade, inflação e\n incerteza estatal. Eu não confio no governo, então não vou manter meu dinheiro\n em uma moeda emitida e controlada por alguém que eu não confio."\n \n O administrador de sistemas Dâniel Fraga resume três usos do Bitcoin: moeda\n de troca, meio de pagamento e investimento ou poupança. Mas há outros usos\n possíveis, até alguns que não envolvem a moeda em si. Em maio de 2013, um programador\n argentino sugeriu que o sistema seja usado para confirmar a existência e\n integridade de documentos em um determinado momento algo como um\n "serviço notarial" digital. Algo assim hoje depende de certificados\n que custam cerca de R$ 300. "Imagine as inúmeras possibilidades do Bitcoin\n que ainda não foram sequer exploradas", avalia Fraga.\n \n E os gigantes dos atuais meios de transação eletrônica, como veem o bitcoin?\n Para Edward McLaughlin, diretor de pagamentos emergentes da MasterCard, a\n utilização que é dada para a moeda hoje e seu caráter anônimo fazem com que a\n MasterCard, por meio de suas políticas, não a inclua em seu circuito. Se e\n quando, [o bitcoin] se tornar parte do sistema regulatório aceitável, nós\n saberemos como tratá-la da mesma que tratamos as várias moedas com que trabalho\n hoje, disse o executivo ao G1.\n \n Sem mediação de governos\n \n Para o professor Pedro Duarte Garcia, da Faculdade de Economia e\n Administração da Universidade de São Paulo (USP), o bitcoin não se diferencia\n muito de outras moedas, do ponto de vista monetário: É uma moeda virtual que,\n como qualquer moeda atual hoje no mundo, é baseada na confiança. Ela funciona e\n é usada enquanto todo mundo que usa acredita que ela funciona. Isso é comum a\n qualquer moeda que a gente carrega no bolso.\n \n Além disso, o bitcoin não passa pelo sistema bancário e por isso não é\n regulado por nenhuma autoridade, o que gera preocupação de alguns países.\n Organizações que podem ter suas economias bloqueadas por pedidos de governos,\n como o Wikileaks, empresa que já teve sua conta bancária bloqueada, se\n beneficiam das facilidades de transferências de dinheiro entre países que não\n passam pelos sistemas convencionais.\n \n A atividade econômica não vai ser atingida por uma mudança. Mas quem sofre\n diretamente o impacto disso é o governo, porque a capacidade de arrecadação\n diminui, pois há uma série de impostos que dependem do sistema bancário ou de\n um sistema que conte com o CPF da pessoa, o que deixa de existir. Gera desafios\n para o governo e o governo pode ter impacto sobre a economia, porque compra\n bens na economia, oferece bens, participa da atividade.\n \n Na onda do bitcoin, mais de 200 moedas virtuais surgiram, aumentando a\n pressão sobre as autoridades financeiras e mesmo sobre empresas que lidam com\n dinheiro. O bitcoin e outras moedas virtuais, se vierem para ficar, e não é\n claro que isso vá ocorrer, vão gerar uma série de desafios que a gente vai ter\n que enfrentar e com os quais não estamos acostumados, diz Duarte Garcia.\n \n A dificuldade de gerar bitcoins (veja como funciona uma transação)\n preocupa alguns entusiastas da moeda, que acreditam que o seu valor, que já\n flutua em R$ 2 mil, tende a apenas subir. Por esse motivo, uma alternativa mais\n barata foi criada: o Litecoin.\n \n Ao contrário do bitcoin, que usa o ouro como símbolo, o Litecoin usa a\n prata. Em vez de cálculos que demoram cerca de 10 minutos para validar uma\n transação, o Litecoin almeja dois minutos e meio. O total de litecoins geradas\n será de 84 milhões, quatro vezes mais do que bitcoins. Dessa forma, o Litecoin\n sempre valerá menos, servindo em especial para transações menores.\n \n Em meio a incertezas sobre a cotação e sua origem, quem já está nessa não\n diminui a empolgação: "O bitcoin é a maior invenção desde a internet, é\n uma tecnologia, um protocolo, que já foi inventado e já é útil. E não tem como\n desfazer uma invenção genial", afirma Micaroni Lalli, o analista de\n sistemas.\n \n \n