G1/PCS
Uma multidão de jovens de chinelo de dedo e bermuda se aglomerava no stand na Campus Party nesta quinta-feira (2). Nada incomum se a empresa fosse o Facebook, que também tenta chamar a atenção de jovens no maior evento de tecnologia da América Latina, e sim a John Deere, que há 180 anos fabrica equipamentos para o agronegócio.
Junto de Ford (104 anos) e Banco do Brasil (209 anos), a norte-americana compõe um grupo de empresas centenárias e oriundas de setores tradicionais que correm atrás de participantes da feira, seja para dar aquele retoque básico na compreensão das tecnologias do momento, encontrar novas ideias, mostrar o que estão criando ou, por que não?, achar gente de talento que tope vestir sua camisa.
A galera que se acotovelava na cena que abre este texto acompanhava o lançamento da maratona de desenvolvimento de tecnologia, as chamadas hackatons, da John Deere. Apesar de iniciante nessa modalidade de criação de tecnologia, a empresa conseguiu reunir 121 inscritos -- a título de comparação, o Facebook, experiente nesse tipo disputa, teve cerca de 200 participantes.
John Deere
"Esses jovens são diferentes das outras gerações, porque eles têm um empreendedorismo nato. A minha geração, a dos 'babyboomer', foi preparada pra ser empregada. Essa turminha aqui quer fazer a startup deles, quer inovar", explica Paulo Herrmann, presidente da John Deere no Brasil. "Com 180 anos de existência, nós podemos renovar e encontrar aqui ideias sugestões e fluídos positivos que nos levem a outros 180 anos."
E a empresa até tem em mente quais problemas os jovens podem ajudá-la a resolver. Com tratores, colheitadeiras e outras máquinas cada vez mais dependentes da internet, manter a conectividade entre aparelhos estável em regiões longínquas é um obstáculo. "Com o celular, você anda duas quadras e ele morre em São Paulo. Imagina estando numa fronteira agrícolas no Mato Grosso."
Outros desafio do campo é a integração entre as várias tecnologias usadas. "Na cabeça do agricultor, a máquina é um pedaço da história, a semente é outra, o químico é outra. Essa coisa tem de funcionar integrada."
Ford
Já o enigma diante da Ford é do tipo "decifra-me ou te devoro". "Se você for ao estacionamento do Anhembi [local onde a Campus Party é realizada], vai ver que há poucos carros estacionados. A gente já percebeu que o modelo de propriedade do carro, como a gente está acostumado, não deve mais acontecer, deve ser algo distinto, um aluguel temporário ou uso por demanda", explica David Borges, supervisor de conectividade da Ford para a América do Sul.
Por isso, a montadora de veículos -- que quer se repaginar como empresa de mobilidade -- busca nos jovens de chinelo e bermuda três coisas, de acordo com Borges: a) travar contato com eles para captar as tendências de consumo; b) analisar como pensam para buscar formas de se atualizar; c) mostrar um caminho de entrar na empresa ou criar inovações para ela.
Além da mudança de comportamento dos jovens, que pensam duas vezes antes de comprar um carro, a Ford enfrenta a complicação de criar produtos desenhados ao longo de anos e que, ao chegar ao mercado, têm de se conectar a dispositivos que são atualizados quase que diariamente. "A gente vem buscar na Campus Party esse modo diferente de pensar e de fazer um projeto", explica Borges.
Banco do Brasil
O Banco do Brasil, único brasileiro entre os centenários, quer contar com os jovens para dar um tapa no visual. Por isso, promoveu uma maratona hacker para mudar a forma como seu aplicativo é usado.
"A gente quer entender como está o app do banco na cabeça do jovem", comenta Carlos Rudnei, gerente-executivo na diretoria de Negócios Digitais do BB. O executivo diz ainda que a empresa financeira "quer estar mais próximo do empreendedorismo, da inovação digital, quer crescer junto com esse público jovem no Brasil".
"A gente não domina todas as técnicas, todas as tecnologias", diz, para completar em seguida: "A gente sempre aprende."