Auto Esporte/PCS
A Honda começa a vender no Brasil, em novembro, a inédita CB 650F, que substitui a bem-sucedida CB 600F Hornet. Com uma proposta de menos esportividade e preço menor, partindo de R$ 28.990, o modelo chega ao país 1 ano após sua estreia mundial no Salão de Milão 2013. O G1 avaliou a motocicleta na pista e na estrada.
O nome Hornet está presente no imaginário de todo motociclista brasileiro, para o bem e para o mal. Desde do seu lançamento, em 2004, foram emplacadas 47.304 unidades no país e o modelo liderou o segmento das nakeds, inclusive, tornando o Brasil o local de maior quantidade de vendas da moto no mundo. Essa fama da moto também a tornou grande alvo de criminosos. É de conhecimento dos motociclistas que o modelo é visado, o que se tornou até um inibidor de vendas, de acordo com a própria Honda.
Como já não mostrava a mesma força no mercado europeu e não atenderia às novas regras de emissões do Velho Continente e do Brasil, a Hornet "disse adeus", ao menos por enquanto. Para seu lugar foi desenvolvida uma moto 100% nova, diz a marca, e com nova proposta, mais econômica e racional.
O mesmo ocorreu com sua irmã esportiva, a CBR 600F, também descontinuada para dar lugar à CBR 650F. A configuração da Hornet, com motor de 4 cilindros e 599,3 cc, acabou deixando o modelo no meio do caminho entre motos mais simples e baratas, como a Yamaha XJ6 N, e outros de motores maiores, como a Kawasaki Z800.
Com a concorrência apertando nas duas pontas, a marca resolveu simplificar a linha e abandonar o nome. Mas a Honda não esconde que a Hornet deve voltar no futuro, ainda mais esportiva e com motor de maior cilindrada.
Não é a nova Hornet
Além de a própria Honda tomar um cuidado enorme para desvincular a CB 650F da Hornet, ao rodar com o modelo fica nítido tratar-se de uma moto completamente diferente.
Para começar, ambas versões, com freios ABS e sem o sistema, ficaram mais baratas. A opção de entrada passou de R$ 32.300 para R$ 28.990, enquanto a com ABS baixou de R$ 35.300 para R$ 31.190.
As duas são disponíveis na cor preta. Com a coloração inspirada no Honda Racing Team (HRC), equipe de competições da marca, a moto sai por R$ 31.690 (com ABS). Este grafismo especial traz misto de branco, vermelho e azul, além de receber a cor dourado nas rodas.
O preço será um grande chamariz para a CB 650F, que se aproximou da XJ6 N. A principal rival da CB custa a partir de R$ 28.890, na opção standard, e sobe para R$ 31.990, quando equipada com freio ABS. Além de preços muitos similares, o conjunto de ambas motos se tornou parecido.
A CB 600F Hornet, mais cara, ficava um degrau acima da XJ, porém, a CB agora se equivale ao modelo da Yamaha.
Durante a avaliação, separada em duas partes: a primeira em uma pequena estrada e a segunda em circuito, a CB 650F se mostrou mais mansa do que sua antecessora. Parte dessa nova proposta vem das imensas diferenças entre os motores de ambas.
A CB 600F é conhecida por seu ímpeto esportivo, muitas vezes exagerado.
Com motor de 4 cilindros e 599,3 cc, a Hornet alcançava expressivos 102 cavalos de potência a 12.000 rotações por minuto, enquanto o seu torque máximo de 6,53 kgfm aparecia a 10.500 rpm. Na prática, a moto “pedia” para deixar o motor sempre em altos giros para ter bom funcionamento, ficando opaca em baixas rotações.
O objetivo com a CB 650F é o oposto. Com ficha técnica mais recatada, seu motor de maior cilindrada, com 649 cc, atinge 87 cavalos a 11.000 rpm e 6,4 kgfm a 8.000 rpm. Números menores que o da CB 600F, porém, superam a XJ6, com sua 4 cilindros de 600 cc, que faz 77,5 cavalos a 10.000 rpm e 6,08 kgfm a 8.500 rpm.
Mais conforto, menos esportividade
Pelo percurso em estradinhas, a CB 650F mostrou uma força muito maior em baixos e médios giros que sua antecessora, o que é transformado em mais conforto e menos trocas de marchas – por sinal, o câmbio de 6 velocidades da CB apresenta engates precisos.
Em manobras de baixa velocidade, o comportamento é preciso e o motor transmite muita confiabilidade para dosar as acelerações.
Para manter velocidade de cruzeiro, em 120 km/h, por exemplo, ele fornece a força necessária, sem se mostrar “cansado”.
Ergonomia e suspensões também garantem conforto ao usuário, mesmo em asfalto em ruim estado.
No Autódromo Velo Città, em Mogi-Guaçu, no interior de São Paulo, foi possível levar a CB 660F ao limite. O chassi do tipo diamond, no qual o motor faz parte de sua base, de dupla trave, mostrou boa rigidez e absorção de irregularidade vindas do solo. Apesar de ser feito de aço, enquanto o da Hornet é de alumínio, um material mais leve, não comprometeu o comportamento.
A CB 650F é 3 kg mais pesada que sua antecessora, com 192 kg (standard) e 194 kg (ABS), isso quando se fala no peso seco das motos, sem fluidos e combustível. Mesmo assim, o modelo mostrou bastante agilidade no circuito, com muita leveza para trocas de direções rápidas.
Como o circuito tem curvas bem fechadas, foi possível levar a moto à inclinação máxima, até as pedaleiras rasparem no chão, e ela sempre demonstrou estabilidade.
Repleta de subidas e descidas, a pista possibilitou perceber que o torque, que aparece mais cedo no motor da nova CB, é muito bem-vindo. Ele garante melhor força em retomadas e força suficiente para encarar serrinhas com facilidade.
No entanto, em giros mais altos, começa perder um pouco de seu brilho, exatamente onde o da Hornet “falaria mais alto”.
Em outro quesito, a CB também é mais espartana. Na dianteira, a moto utiliza bengalas do tipo convencional, enquanto a Hornet se vangloria de suspensões invertidas, notadamente mais esportivas. Como já mostra a proposta da moto, seu comportamento não é destinado à uma pilotagem “racing”, assim fica abaixo neste ponto. Mas, pensando no uso estrada/cidade, elas estão bem calibradas para dar conforto e firmeza.
Os freios também garantem segurança para frenagens, sem mordidas muito bruscas. E o ABS não entra em ação cedo demais, o que dá mais confiança para “abusar” dos freios.
Mais acessível e racional
A palavra que melhor define a CB 650F é acessibilidade. O modelo é extremamente fácil de conduzir e, como promete a Honda, mais econômico. Enquanto a Hornet, apostava em emoção, a CB 650F invoca a racionalidade de seu conjunto para conquistar consumidores.
Como a maioria dos modelos Honda, a nova moto traz um pacote “com tudo no lugar”, sem exageros e com confiabilidade. Até agora, a Hornet era uma das únicas motos a sair uma pouco desta linha empregada dentro da empresa.
No entanto, ainda há uma dose de emoções em seu conjunto, principalmente em seu visual, mais agressivo que o da “falecida”.
A fabricante japonesa também promete resolver o problema de seguros altos para o segmento, criando um plano especial para seus clientes.
No cenário atual e com seus atributos, a CB 650F tem tudo para ser um modelo bem vendido, mas dificilmente alcançará o sucesso da Hornet em relação à paixão dos consumidores. Para estes fanáticos, resta aguardar pelo renascimento da "verdadeira".