Sexta-Feira, 17 de Outubro de 2025
Meio Ambiente
16/10/2025 16:08:00
Estudo mostra que calor da Terra divide a África e pode gerar novo oceano
Pesquisa demonstra que o calor interno da Terra sobe pelo manto, empurra as placas tectônicas de Afar e cria rachaduras que podem abrigar futuro oceano

CNN/PCS

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As rachaduras gigantescas da Junção Tripla de Afar são observáveis do espaço

Um fenômeno geológico raro, que normalmente só vemos descrito em livros, a chamada Junção Tripla de Afar, na Etiópia, está permitindo que acompanhemos, em tempo humano, a separação de placas tectônicas, atividade vulcânica, formação de vales e depressões e, quem sabe, o surgimento de um novo oceano.

Nessa região geologicamente muito ativa, três grandes fendas da crosta terrestre se encontram: o Rifte da África Oriental, o Rifte do Mar Vermelho e o Rifte do Golfo de Áden. Esses vales estreitos, compridos e profundos se formam com o afinamento da crosta terrestre pelo afastamento das placas tectônicas.

Essa origem única foi determinada pela repetição de assinaturas geoquímicas (combinações de elementos e isótopos) entre os riftes. Quando os pesquisadores compararam amostras de mais de 130 vulcões jovens, perceberam a repetição de “matches” nos diferentes braços das zonas de fratura.

O mais surpreendente é que esse processo de variação de assinaturas não é contínuo nem uniforme, mas segue um padrão cíclico. Ou seja, cada “batimento” dessa atividade pode gerar novos surtos de vulcanismo e alterações na crosta, moldando o modo como o continente africano vai se fragmentando aos poucos.

Como as placas tectônicas estão abrindo o leito de um novo oceano na África

Em um comunicado, o coautor Tom Gernon, professor da Universidade de Southampton (UoS), na Inglaterra, explica: “O listramento químico sugere que a pluma está pulsando, como um batimento cardíaco. Esses pulsos parecem se comportar de forma diferente dependendo da espessura da litosfera e da velocidade com que ela se separa”.

Quando o magma sobe, ele esfria, cristaliza parcialmente, e se mistura com as rochas ao redor ou interage com minerais preexistentes. São esses processos que alteram a proporção de elementos e isótopos no material, gerando diferentes assinaturas geoquímicas nas rochas vulcânicas formadas.

Para Gernon, “Em fendas de expansão mais rápida, como o Mar Vermelho, os pulsos se propagam de forma mais eficiente e regular, como um pulso através de uma artéria estreita”. Isso significa que, naquela região, as placas tectônicas se afastam mais rapidamente, como se “a Terra se abrisse mais depressa”.

O calor interno do planeta, ao subir no manto, empurra as placas tectônicas da região de Afar, forçando-as a se afastar. O movimento cria rachaduras gigantescas, que se estendem por milhares de quilômetros e podem ser observadas do espaço, em imagens de satélite.

Esse processo, parecido com a ruptura continental que deu origem ao oceano Atlântico no passado geológico, pode, em milhões de anos, produzir um novo oceano que separaria o leste da África do resto do continente. Essa transformação geográfica teria impactos nos padrões climáticos, na biodiversidade e nas rotas marítimas.

Desafios e próximos passos na compreensão da ruptura continental de Afar

Usando análise de dados, o estudo ajuda a entender um dos processos fundamentais da geologia: a forma como os continentes se partem. O trabalho descreve como o manto responde ao esticamento da crosta, como ele promove fusões, vulcanismo e acaba inaugurando uma nova crosta oceânica.

Segundo o coautor Derek Keir, professor da UoS, a placa que está "por cima" (litosfera) não é sempre passiva, mas molda onde, como e com que eficiência o manto pode subir, se fundir “e ajudar a concentrar a atividade vulcânica onde a placa tectônica é mais fina”, conclui o geólogo.

Isso significa que modelos de pluma mantélica (corrente de rocha derretida e quente) devem sempre levar em conta a espessura da crosta e taxas de extensão. Uma melhor compreensão do risco de novas erupções vulcânicas ou formação de fissuras pode ajudar no planejamento do uso da terra nas regiões afetadas.

Finalmente, o estudo ilustra como a formação de um novo oceano via ruptura continental pode ocorrer de forma gradual, ao longo do tempo: em Afar, o rifteamento do Golfo de Áden começou há cerca de 35 milhões de anos, o do Mar Vermelho há 23 milhões de anos, e o Rifte Principal Etíope há 11 milhões de anos.

Mesmo com tantos achados, algumas questões ainda permanecem sem resposta, como de que forma os pulsos do manto se originam e o por que eles variam de intensidade entre os braços do rifte. Próximas etapas da pesquisa poderão esclarecer também “como e em que velocidade o fluxo do manto ocorre sob as placas”, promete Keir.

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