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ImprimirDepois de décadas enfrentando o isolamento com a inundação do Rio Taquari, em processo de assoreamento desde os anos de 1970, os pequenos sitiantes das colônias situadas entre as subregiões da Nhecolândia e Paiaguás, no Pantanal de Corumbá, estão vivendo um drama ainda pior: o rio desapareceu, com a seca dos últimos anos, a terra empobreceu e não mais produz, a água de poço é salobra e o acesso à cidade agora é possível em carro traçado.
A tradicional comunidade é dividida em sete colônias – são 230 famílias, mas já foram mais de 600 – hoje vive na dependência dos benefícios sociais do governo e das ações humanitárias, como a que está sendo realizada esta semana pela Defesa Civil de Mato Grosso do Sul, e aguarda a conclusão de uma obra que pode mudar o destino do lugar: a abertura de uma estrada cascalhada para facilitar o ir e vir das pessoas e a chegada de insumos e o socorro médico.
“O rio (Taquari) está completamente seco, seu leito virou um areião”, conta o morador Márcio Avellar, 53 anos, há 20 na região.
“Até o ano passado, o acesso era pelo rio com o transporte feito pelas lanchas e barcos num labirinto de águas rasas. Hoje, temos camionetes freteiras, que cobram R$ 250 para nos levar à Corumbá. Só elas (camionetes) chegam, a estrada boiadeira é uma bitola feita pelos caminhões e atola no seco, tem que conhecer o caminho”, conta Márcio.
A nova estrada é considerada crucial para renovar as esperanças dos colonos e garantir direitos mínimos, como o acesso a água potável dos quatro poços artesianos construídos pela prefeitura, os quais estão sem manutenção por dificuldades de acesso à região.
O Governo do Estado iniciou a construção de 80 km do acesso, mas a obra foi paralisada. A estrada vicinal ligará a MS-228 ao Porto Rolon, passando por grandes fazendas, como a da família do cantor Michel Teló.
A secretaria estadual de Infraestrutura e Logística (Seilog) informou que a obra de R$ 46 milhões será retomada após processo de desapropriação, já concluído. Enquanto não acontece, os colonos gastam parte do dinheiro dos benefícios para ir à cidade numa viagem cansativa de 10 horas por 200 km.
“A estrada é uma necessidade urgente”, diz Avellar. “Aqui só não piorou mais porque o governo trouxe a energia solar. Mas, muita gente estava indo embora”, acrescenta o morador.
ÊXODO RURAL
As colônias do Taquari (Cedrinho, Corixão, São Domingos, Cedro, Limãozinho, Bracinho e Rio Negro) eram autossuficientes na produção de alimentos para a cidade em grande escala, como banana e mandioca. Com a inundação no passado, estimada em 1 milhão de hectares, a mata virou um paliteiro de troncos secos e o solo encharcou, provocando êxodo rural.
Mais de 300 famílias foram para Corumbá à época (década de 1980). Quem resistiu, vive agora o dilema da seca.
SECA
A seca que assola a população, não apenas da comunidade, mas em todo o Estado, vai permanecer no mês de setembro.
De acordo com o meteorologista Vinicius Sperlimg, do Centro de Monitoramento do Tempo e Clima de MS (Cemtec), este mês continuará com temperaturas acima da média e chuvas abaixo do esperado históricamente.
Essa situação agrava não apenas a situação de seca nos rios do Estado, mas também aumenta os riscos de incêndios florestais. A primeira quinzena será marcada também por uma onda de calor.