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Mundo
02/04/2014 09:00:00
“Corrijo erros de Deus”, diz cirurgião que já fez 320 mudanças de sexo
Conhecido como o “pai dos transgêneros sul-coreanos”, o médico Kim Seok-Kwun desafia os costumes conservadores de seu país.

G1/LD

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Conhecido como o “pai dos transgêneros sul-coreanos”, o médico Kim Seok-Kwun\n desafia os costumes conservadores de seu país. Ele já fez mais de 320 cirurgias\n de mudança de sexo em sua carreira – acredita-se que seja o maior número de\n operações desse tipo feitas por um único médico na Coreia do Sul. Cerca de 210\n dessas cirurgias foram para transformar corpos masculinos em femininos.\n \n Kim é cirurgião plástico no Hospital Universitário Dong-A, na cidade de\n Busan, no sul do país. Ele se especializou em deformidades faciais e começou a\n fazer cirurgias de mudança de sexo em 1986, após ser procurado por vários\n pacientes homens usando roupas de mulher, que pediram que ele construísse\n vaginas para ele.\n \n Protestante, o médico diz que inicialmente se questionou se deveria\n realmente fazer esse tipo de procedimento. Seu pastor foi contra. Amigos e\n colegas de trabalho brincaram que ele iria para o inferno.\n \n "Decidi desafiar a vontade de Deus", diz Kim, de 61 anos, em uma\n entrevista logo antes de operar um monge budista que nasceu mulher, mas toma\n hormônios e vive como homem há muitos anos. “No início, eu pensei muito se\n deveria fazer essas operações porque pensava se estaria desafiando a vontade de\n Deus. Mas meus pacientes precisavam das cirurgias desesperadamente. Sem isso,\n eles se matariam”, diz. Ele acredita estar corrigindo o que ele chama de\n "erros de Deus".\n \n Agora, Kim afirma ser um profissional realizado por ajudar pessoas que se\n sentem aprisionadas no corpo errado. A cirurgia do monge, que não quis dar\n entrevista, durou 11 horas.\n \n Cantora transexual
\n A maioria dos pacientes de Kim tem cerca de 20 anos. As cirurgias para\n transformar homens em mulheres custam de US$ 10 mil (cerca de R$ 22,7 mil) a\n US$ 14 mil (cerca de R$ 31,8 mil). O procedimento oposto, mais complexo, custa\n cerca de US$ 29 mil (R$ 65,8 mil).\n \n Sua cliente mais conhecida é a mais famosa transexual do país, a cantora,\n modelo e atriz Harisu. Segundo ela, a dor que sentiu após a cirurgia que a\n transformou em mulher em 1995 era “como se um martelo estivesse batendo em seus\n genitais”. Mas dias depois, ao deixar o hospital, ela se sentiu renascida.\n \n Kim é um pioneiro na lenta mudança na visão sobre sexualidade e gênero na\n Coreia do Sul, onde mesmo discussões básicas sobre sexo são um tabu para muita\n gente.\n \n Mas a situação vem mudando. Filmes e seriados com personagens gays se\n tornaram famosos. Um ator que já foi banido do show business por ser\n homossexual voltou a trabalhar. Um conhecido diretor de cinema fez uma\n cerimônia simbólica para se unir ao seu parceiro – o casamento gay não é\n reconhecido na Coreia do Sul.\n \n Antes de operar seus pacientes, Kim pede que eles tenham o testemunho de ao\n menos dois psiquiatras afirmando que ele sofre de transtorno de identidade de\n gênero. Eles também são orientados a viver por ao menos um ano usando roupas do\n gênero oposto e a conseguir a aprovação dos pais.\n \n Muitos pacientes veem a operação como uma questão de vida ou morte. Antes da\n cirurgia, Harisu assinou um termo afirmando ter conhecimento de que poderia\n morrer durante o procedimento – apesar de Kim dizer que isso nunca aconteceu\n com nenhum de seus pacientes. “Se eu continuasse vivendo como um homem, eu já\n estaria morto, de qualquer forma”, diz Harisu. “Eu já era mulher, exceto pelos\n meus genitais. Eu sou uma mulher, então eu queria viver como uma.”
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