Sexta-Feira, 6 de Junho de 2025
Mundo
04/06/2025 12:29:00
Após 10 anos nos palcos dos EUA, bailarino brasileiro tem visto negado

UOL/PCS

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Foto: Arquivo pessoal

Após dez anos percorrendo alguns dos principais palcos dos EUA com todos seus documentos regularizados, o bailarino brasileiro Luiz Fernando da Silva foi informado pelas autoridades americanas que não teria seu visto aprovado para trabalhar numa das companhias de dança mais respeitadas do país.

No dia 27 de abril, o artista recebeu a notícia de que ele não poderia voltar aos EUA, mesmo tendo um contrato com uma das companhias mais tradicionais do país, na região de Nova York.

"Foi um choque", afirmou ao UOL o brasileiro de 29 anos e que hoje está com sua família em Barra Mansa (RJ).

O caso do bailarino é um exemplo de milhares de profissionais estrangeiros, acadêmicos e artistas que, hoje, vivem num limbo e na incerteza nos EUA. Sob a administração de Donald Trump, a política migratória passou a ser alvo de uma intensa revisão, abalando contratos, planos e vidas.

Por uma década, o bailarino fez parte da Miami City Ballet. Em 2024, ele optou por deixar a companhia e foi contratado pela Dance Theater de Harlem, em Nova York.

Com o fim de seu contrato em Miami, seu visto também foi encerrado. Ele tinha a opção de ficar nos EUA esperando pelo novo documento. Mas não poderia nem trabalhar e nem ter renda. Sua escolha, portanto, foi para aguardar pelo novo visto no Brasil, aproveitando para acompanhar a família.

Mas, com um contrato assinado, não pensou que corria risco. "Nunca pensei que aconteceria comigo", disse.

Luiz Fernando admite que, quando Donald Trump venceu a eleição no final de 2024, começou a ficar evidente que a situação poderia ser complicada. "Eu não contava com tudo que aconteceria no mundo. O plano nunca foi de ficar no Brasil. Eu já tinha um contrato assinado com Harlem quando decidi ir ao Brasil", contou.

Ainda em dezembro de 2024, as autoridades americanas pediram informações para que ele comprovasse que estava apto a assumir as funções de sua nova companhia. O bailarino enviou cartas de recomendação de outros artistas e mostrou que havia dançado com os maiores coreógrafos da atualidade nos EUA. "Se isso não é suficiente, o que vai ser?", disse.

Segundo ele, as autoridades americanas explicaram apenas que, depois de revisar as evidências, concluíram que seu visto não poderia ser aprovado.

"Quando recebi a notícia, pensei: meu sonho acabou", disse. "Não tinha previsto que minha carreira simplesmente pararia", afirmou o bailarino.

Sua sensação era de que nada convenceria a imigração. "Poderia mostrar o maior currículo e seria indiferente para eles", lamentou.

O bailarino diz que ainda está se recuperando do choque. "Se eu continuar, tenho pensado em explorar a Europa e América Latina. Por enquanto, não sei se estou preparado para pedir um novo visto aos EUA, onde eu tenho que me provar como ser humano", disse.

O brasileiro disse que usou os últimos meses para "despertar e entender os ataques racistas que viveu nos EUA". "Foi um tempo para eu processar tudo o que ocorreu. Foram momentos silenciosos de ataques", lamentou.

Uma história de superação

Sua história com o balé começou aos onze anos de idade, num curso de dois meses. Naquele momento, ele não pensava no balé como sua profissão. Foi apenas aos 15 anos quando decidiu voltar a apostar na dança e foi levado para uma escola em Porto Real (RJ).

"Foi aprovado para ser aluno da escola. Mas tinha de percorrer mais de uma hora de transporte público. Saia da escola e viajava todos os dias. Inicialmente, ia com sua mãe. Mas começou a ficar muito pesado, financeiramente", lembra.

A decisão da família é de que ele não teria como continuar. Mas, diante de seu talento, a escola ofereceu um vale transporte.

Luiz Fernando começou a participar de festivais e, em 2012, chegou a ir para Nova York para as finais de um concurso. "Eu tinha 16 anos e não tinha dimensão da mudança que estava prestes a ocorrer", afirmou.

No mesmo ano, apareceu uma oportunidade para uma bolsa de verão no Miami City Ballet. A audição ocorreu no Brasil e ele foi um dos aprovados para passar cinco semanas na cidade americana, no ano seguinte.

Ao final daquela experiência, a companhia ofereceu uma bolsa para estudar nos EUA. Em 2014, depois de ser autorizado por sua mãe, o garoto se estabeleceria em Miami.

Dois anos depois, no último dia de seu curso, o balé da cidade da Flórida anunciou que estava oferecendo um contrato ao brasileiro. "Fiquei tão eufórico", lembra. Naqueles anos, ele dançou com a companhia em diversos palcos americanos, incluindo Washington, Chicago, Berkley, Nova York.

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