O Globo/LD
ImprimirAs autoridades tailandesas correm contra o tempo para definir uma estratégia para resgatar os 12 meninos e seu treinador de futebol presos há 13 dias em uma caverna inundada no Norte da Tailândia. A operação agora se concentra em três principais tarefas, enquanto se analisam os métodos de salvamento: drenar água, disponibilizar mais oxigênio para a zona da caverna onde está o grupo e instalar uma linha de comunicação entre as vítimas e as autoridades.
As autoridades tentam instalar uma mangueira entre a área onde estão os meninos e uma caverna próxima, chamada de Câmara 3, para bombear ar para a câmara dos meninos, chamada de Pattaya Beach. A distância entre os dois pontos é de 1,7 quilômetro, segundo as autoridades. De acordo com o vice-comandante Chalongchai Chaiyakham, o nível de oxigênio na caverna caiu significativamente, de 21% para 15%.
A equipe de resgate também pretende estabelecer uma linha direta entre as duas áreas para facilitar o resgate e permitir contato com as famílias. Até agora, a única forma de comunicação é presencial, o que exige uma jornada de pelo menos seis horas de ida até os meninos e cinco de volta até o centro de comando, devido ao sentido favorável do fluxo da água.
A situação ficou mais tensa na madrugada desta sexta-feira, quando um voluntário morreu por falta de oxigênio enquanto fazia a travessia de volta ao centro do comando, após entregar mantimentos aos 13.
Diante da perspectiva de fortes chuvas no fim de semana, falta de experiência em mergulho e ainda a desnutrição de dois dos 12 meninos e do seu treinador de futebol, a Tailândia mobilizou um verdadeiro exército de militares e especialistas de vários países que avaliam duas principais estratégias de resgate.
Na quinta-feira, mais 30 mergulhadores de elite se juntaram aos 80 já no local, enquanto as autoridades enviavam entre 20 e 30 equipes para rastrear a área sobre a caverna para tentar encontrar uma fenda ou chaminé que a ligue a superfície e evite o resgate subaquático.
O primeiro cenário é retirar, com a necessidade de mergulho, somente aqueles que estiverem prontos e saudáveis. O plano é aproveitar ao máximo a drenagem já feita em zonas alagadas e minimizar a necessidade de fazer arriscadas travessias submersas.
Na segunda opção, ainda hipotética, equipes mobilizadas tentariam cavar um túnel para extrair o grupo a partir da superfície acima da caverna. Para isso, no entanto, buscam alguma abertura que facilite a tarefa, uma vez que a caverna está a entre 800 metros e um quilômetro da superfície.
De acordo com o jornal "Khao Sod English", as autoridades encontraram um buraco a cerca de 200 metros de onde estão os 13. Citando o general tailandês Suchart Teerasawat, a brecha teria cerca de um metro de diâmetro e levaria a uma região que ficaria entre 150 e 200 metros de onde o grupo está refugiado.
PREVISÃO DE CHUVA
Algumas autoridades também defendem que o grupo seja mantido na caverna no local seco onde estão, até que a temporada de chuva na Tailândia, que vai até novembro, normalize as condições da caverna, e eles possam sair em segurança. No entanto, a preocupação com a perspectiva de mais chuva é maior.
— Estamos numa corrida contra a água, que continua fluindo, apesar da drenagem — disse o governador da província de Chiang Rai e chefe da célula de crise, Narongsak Osatthanakorn.
A melhora da previsão climática para hoje deu mais tempo às equipes de socorro para preparar a logística da retirada. Espera-se chuva para esta sexta-feira. Novas previsões indicaram que a precipitação mais forte, que potencialmente alagará todo o complexo, será só no domingo.
— Se a condição estiver adequada e a pessoa estiver 100% pronta, poderá sair — garantiu Osatthanakorn.
TRAJETO DE 11 HORAS
A célula de crise precisa garantir ação rápida. Segundo o governo, os mergulhadores podem levar até 11 horas para resgatar cada adolescente: seis horas para chegar até eles, e mais cinco para voltar — o trajeto de saída tem a corrente a favor.
De acordo com Poonsak Woongsatngiem, funcionário sênior de resgate do Ministério do Interior, o volume de água na caverna já foi reduzido em 40% — numa média de 1,5 centímetros por hora. A intenção é bombear e drenar o suficiente para que as crianças não precisem mergulhar — ou que mergulhem por pouco tempo e com menos risco. No atual estágio, 1,5km do trajeto seria a pé, em terreno seco, e os 2,5km restantes seriam feitos a nado ou em mergulhos mais rasos.
Mas um boletim médico dos adolescentes, obtido pela CNN, mostrou que dois dos garotos e o treinador, de 25 anos, sofrem de exaustão e desnutrição, por causa dos nove dias isolados antes de serem encontrados. E três deles têm problemas intestinais, segundo um mergulhador.
— Se você pede a um garoto de 11 anos que faça um mergulho em que um ex-mergulhador da Marinha especializado teria dificuldades, algumas crianças vão morrer — advertiu, à CNN, o ex-membro de elite da Marinha americana Cade Courtley.
Os receios sobre o resgate fazem a força-tarefa ampliar a busca por chaminés que sirvam de atalho para tirar o time sem mergulhar. Como os meninos respiram normalmente após duas semanas no ambiente, onde o ar é rarefeito, autoridades acreditam ser “muito provável” que haja chaminés ligando a caverna ao exterior.
Enquanto isso, o clima é de otimismo entre os garotos, todos fãs de futebol.
— Sempre perguntam sobre a Copa do Mundo. Disse a eles que as grandes seleções tinham ido para casa — disse um socorrista ao jornal britânico “Guardian”.