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ImprimirEm 1923, o jornal inglês The Guardian entrevistou um jovem político em ascensão. Ele prometia acabar com o "bolchevismo em casa". O movimento que, seis anos antes, derrubou 300 anos de monarquia russa e abriu portas para a União Soviética, "é a nossa maior ameaça", continuou. "Mate o bolchevismo na Alemanha e restaure 70 milhões de pessoas ao poder."
Seu nome? Adolf Hitler.
Dias atrás, a Embaixada da Alemanha no Brasil virou a nova vítima da polarização política após divulgar um vídeo em que o nazismo aparece como uma ideologia de extrema-direita. A peça cita o ministro das Relações Exteriores do país, Heiko Mass, dizendo: "Devemos nos opor aos extremistas de direita, não devemos ignorar, temos que mostrar nossa cara contra neonazistas e antissemitas".
A declaração deixou parte da militância direitista brasileira às polvorosas: o nazismo, defendem esses ativistas, seria um movimento de esquerda porque, afinal, Hitler liderava o Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães. Socialista. Coisa de esquerdista. Fim de papo.
Só que o próprio Führer, na entrevista publicada 95 anos atrás, descarta qualquer simpatia com o que o senso comum entende por socialismo, uma ideologia de tintas esquerdistas. Em sua conta no Twitter, o escritor Samir Machado resgatou a reportagem, republicada pelo periódico em 2007.
"Por que vocês se chamam Nacional Socialista, já que seu programa partidário é a antítese do que comumente conhecemos como socialismo?", questiona o repórter.
Eis que Hitler "abaixa sua xícara de chá combativamente", como descreve a reportagem, e rebate: "Socialismo é a ciência de lidar com o bem comum. Comunismo não é socialismo. Marxismo não é socialismo. Os marxistas roubaram o termo e confundiram seu significado. Eu irei tomar o socialismo dos socialistas".
Ele prossegue sua sanha contra a capa de esquerda que a expressão ganhou. "O marxismo não tem o direito de se disfarçar de socialismo. Socialismo, ao contrário de marxismo, não repudia a propriedade privada. Ao contrário do marxismo, não envolve a negação da personalidade e, ao contrário do marxismo, é patriótico."
Hitler arremata seu repúdio à esquerdização do termo dizendo que sua legenda poderia muito bem "ter se chamado Partido Liberal".
Em "Minha Luta", misto de autobiografia e panfleto antissemita que lançou em 1925, o futuro ditador alemão advogou pela "destruição do marxismo em todas as suas formas".
Ele, contudo, já reconheceu que a ideologia fundada por Karl Marx lhe foi de grande serventia para moldar suas próprias convicções políticas, ainda que pela negação do que o conterrâneo pregava. "Aprendi um bocado com o marxismo e não hesito em admitir", declarou certa vez. Com informações da Folhapress.