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Mundo
02/01/2014 07:47:31
Inflação e risco de apagões desafiam Argentina em 2014
Após um fim de ano marcado por saques e apagões, a Argentina chega a 2014 com desafios como a alta do custo de vida e o baixo crescimento da economia.

BBC Brasil/PCS

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Após\n um fim de ano marcado por saques e apagões, a Argentina chega a 2014 \n com desafios como a alta do custo de vida e o baixo crescimento da \n economia. \n Os apagões de luz, que afetaram cerca de 800 mil pessoas em Buenos Aires\n e arredores, começaram a arrefecer entre terça e quarta-feira, quando \n autoridades informaram estar restaurando o suprimento de energia aos \n lares afetados. Ajudou o fato de a onda de calor ter começado a ceder no\n mesmo dia.\n Até então, panelaços, ainda que isolados, e bloqueio do trânsito em ruas\n e avenidas, ainda sinalizavam a insatisfação popular diante da crise \n energética do país.\n Os protestos começaram pouco depois da onda de saques a casas, lojas e \n supermercados no início do mês em várias províncias, como Córdoba, \n Chaco, Catamarca, Neuquén e Río Negro.\n Os saques, por sua vez, vieram em meio à greve dos policiais por \n melhores salários e estima-se que tenham deixado 13 mortos. Na ocasião, \n comerciantes e moradores se uniram com armas e paus para proteger seus \n negócios.\n Em meio às incertezas, a presidente Cristina Kirchner foi criticada pela\n oposição por ter mantido, no dia 10 de dezembro, a festa que marcou os \n 30 anos do retorno da democracia do país, em 1983.\n A oposição também a criticou por não ter se pronunciado sobre os \n blecautes de energia e outros temas que preocupam os argentinos, como a \n inflação e o aumento nos índices de pobreza – os dados oficiais são \n questionados no país desde 2007 quando passaram a ser apontados como \n "maquiados".\n O governador da província de Buenos Aires, Daniel Scioli, \n responsabilizou as fornecedoras de energia pela crise e prometeu uma \n "avaliação profunda para readequar o sistema elétrico", segundo a \n agência Efe.\n Antes, o chefe da Casa Civil, Jorge Capitanich, também havia dito que \n "não existe um problema de geração de energia, mas claramente de \n distribuição, que é responsabilidade exclusiva das empresas que prestam \n esse serviço".\n Ele afirmou ainda que a situação energética do país vai melhorar a \n partir de abril, quando será inaugurada a central nuclear de Atucha II, \n que aumentará a capacidade de eletricidade em mais de 700 megawatts.\n Já as empresas atribuíram os apagões à onda recorde de calor, que levou a um aumento no uso de aparelhos de ar-condicionado.\n Pessimismo\n Neste clima a Argentina parece entrar com pessimismo em 2014 nas áreas política, econômica e social.\n Um problema que continua atormentando os argentinos é a inflação - \n oficialmente medida em 10%, mas que consultorias e institutos privados \n estimam possa ser três vezes maior.\n "Em dezembro do ano passado, uma família composta por dois adultos e \n duas crianças precisava de 1.695,95 pesos para se alimentar durante 30 \n dias. Hoje, são necessários, no mínimo, 2.272,41 mensais, enquanto o \n Indec (IBGE local) insiste que 680 pesos são suficientes", informou o \n Instituto de Investigação Social, Econômica e Política da Cidadania.\n Para o instituto, a inflação anual teria sido de 34,03%.\n A alta de preços deverá ser um dos principais temas nas discussões \n salariais previstas para 2014, de acordo com os principais sindicatos do\n país.\n Neste mês de dezembro, para conter a greve dos policiais, várias \n províncias quase dobraram seus salários, e economistas passaram a \n questionar a capacidade dos caixas locais para sustentar os ajustes.\n Baixo crescimento\n Entrevistados pela reportagem, os economistas Orlando Ferreres, da \n consultoria Ferreres e Associados, e Dante Sica, da consultoria Abeceb, \n apontaram o combate à inflação e ao baixo crescimento como os principais\n desafios do governo para 2014, reforçados pela percepção de que os \n dados estatísticos do país não refletem a realidade.\n "Neste quadro, de desconfiança dos investidores e dos próprios \n argentinos, que costumam sacar seus depósitos do sistema financeiro \n quando percebem que algo não vai bem, a economia deverá crescer em torno\n de 1,5% no ano que vem", disse Ferreres.\n Desde a implantação do controle cambial, em 2011, que o argentinos \n retomaram a prática de sacar dinheiro dos bancos e poupar em dólares. \n Isso vem provocando queda nas reservas do Banco Central - 30% menores em\n 2013 na comparação com 2012, de acordo com o site de notícias Infobae.\n A redução de reservas e o "crescente deficit fiscal" limitam a margem de\n manobra do governo, segundo o economista Marcelo Elizondo, da \n consultoria DNI. O economista diz que desde a chegada de Néstor Kirchner\n à Presidência, em 2003, o governo passou a "dar maior atenção" ao \n superavit fiscal e de conta corrente (que inclui o comércio exterior), \n mas que nos últimos tempos, com o aumento do gasto público "essa equação\n ficou desequilibrada".\n Apesar dessa situação, o ex-presidente do Banco Central, Aldo \n Pignanelli, acredita que "quando vemos que hoje os preços do que \n exportamos são maiores dos que importamos, vemos que o país está \n passando por um dos melhores ciclos de sua história".\n "A Argentina tem enormes possibilidades de superar esta fase e de \n crescer, mas o problema é que o governo não sabe o que fazer", disse ao \n jornal El Cronista. \n Pignanelli, que foi presidente do BC durante o governo do então \n peronista Eduardo Duhalde, hoje desafeto político dos Kirchner, faz eco a\n outros setores da oposição, que veem "desorientação" na atuação do \n governo frente aos principais problemas do país.\n "O problema da presidente é a desorientação diante dos itens que antes \n eram resolvidos com dinheiro, que agora começa a ficar escasso", disse o\n senador Ernesto Sanz, da opositora União Cívica Radical (UCR).\n Pouco depois, a Economist Intelligence Unit, centro de estudos ligado à \n revista britânica The Economist, incluiu a Argentina, junto com Bolívia,\n Egito e Iraque, entre outros, na lista das nações de "muito alto risco"\n de instabilidade. \n Outro problema preocupante no país é a pobreza. Na semana passada, a \n Universidade Católica Argentina (UCA), que realiza o Observatório da \n Dívida Social, informou que a pobreza afeta atualmente cerca de 25% da \n população nacional.\n País com aproximadamente 40 milhões de habitantes, a Argentina teria \n cerca de 10 milhões de pobres, segundo o estudo. Já para o Indec, o \n índice é de cerca de 4% da população.
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