O Globo/LD
ImprimirO líder do Hezbollah, Sayyed Hassan Nasrallah, acusou nesta sexta-feira a Arábia Sáudita de declrar guerra contra o grupo e o Líbano. Além disso, acusou o reino saudita de forçar o primeiro-ministro libanês, Saaf al-Hariri, a renunciar e detê-lo à força contra a sua vontade. Numa viagem a Riad, Hariri deixou o cargo inesperadamente e não voltou mais ao território do seu país. Não estão claras as circunstâncias políticas deste momento na região, enquanto o presidente do Líbano pressiona Hariri a retornar.
Num discurso televisionado, Nasrallah afirmou que a renúncia de Hariri foi resultado de uma imprecedente intervenção saudita na polícia libanesa e pediu que o primeiro-ministro volte ao seu país. Ao justificar a sua renúncia, o premier disse que temia ser assassinado e acusou a organização xiita Hezbollah e seu aliado Irã de ter o controle do Líbano. O presidente do país, Michel Aoun, disse a um enviado saudita nesta sexta-feira que o primeiro-ministro precisa retornar, classificando a situação atual de inaceitável.
Em meio a uma crise crescente, o Líbano se encontra na linha de frente de uma disputa de poder entre Arábia Saudita e Irã. O presidente da França, Emmanuel Macron, fez uma visita surpresa ao reino saudita na quinta-feira, uma vez que estava nos Emirados Árabes Unidos. Após a viagem, o ministro das Relações Exteriores da França, Jean-Yves Le Drian, disse que as autoridades francesas não acreditam que Hariri esteja sob o controle da Arábia Saudita, mas sim livre para se movimentar. O premier viajou aos Emirados Árabes Unidos e retornou à Arábia Saudita no início da semana.
— Acreditamos que ele esteja livre para se movimentar e cabe a ele fazer as suas escolhas — disse o chanceler francês.
O anúncio do pedido da Arábia Saudita para que seus cidadãos deixem o Líbano coincide com a megaoperação anticorrupção que prendeu 200 pessoas, entre elas 11 príncipes e membros do governo local, solidificando o poder do príncipe herdeiro, Mohammed bin Salman. Desde sua chegada ao cargo, o príncipe tem intensificado as tensões com o Irã, e no Líbano, muitos acreditam que a demissão de Hariri pode ter sido forçada pela coroa saudita para implodir o governo libanês, que conta com a presença do Hezbollah. Um raro consenso entre iranianos e sauditas permitiu que Hariri, um sunita, formasse um governo de coalizão com Aoun, um cristão maronita apoiado pelo Hezbollah.
Anteriormente, Nasrallah havia destacado que a renúncia de Hariri acontecia após repetidas visitas do então primeiro-ministro à Arábia Saudita, afirmando que há “uma óbvia influência saudita” na decisão. Apesar da presença do Hezbollah no governo, a milícia buscou amenizar provocações à comunidade sunita do país, mas muitos libaneses agora temem que a Arábia Saudita decida expandir sua influência no país para compensar derrotas em outros países.
IRÃ X ARÁBIA SAUDITA
As relações entre Irã e Arábia Saudita vêm se deteriorando desde o final de semana, quando um míssil foi disparado do Iêmen contra o aeroporto da capital saudita, e o governo — que acusou o Hezbollah de ter fornecido o projétil a rebeldes houthis xiitas — voltou a acusar Teerã de cometer ato de guerra. Os dois países apoiam lados rivais em conflitos em diversas nações do Oriente Médio, como no Iêmen e na Síria. Ambos também influenciam a política do Líbano, ainda que nos últimos anos os partidos libaneses tenham se esforçado para evitar que as desavenças tragam de volta a violência na guerra civil que assolou o país entre 1975 e 1990.