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09/12/2016 14:32:00
Mais de mil atletas russos participaram de esquema de doping em quatro anos, diz Wada

G1/LD

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Um novo relatório do investigador independente da Agência Mundial Anti-Doping (Wada), divulgado nesta sexta-feira, aponta mais revelações bombásticas sobre um escândalo de doping patrocinado pelo governo da Rússia. De acordo com o relatório, elaborado pelo canadense Richard McLaren, mais de mil atletas russos de 30 modalidades esportivas participaram do esquema de dopagem entre 2011 e 2015.

A primeira parte do relatório de McLaren, que veio a público em julho, um mês antes da Olimpíada do Rio, havia apontado a participação de autoridades da Rússia no encobrimento de casos de doping nos Jogos de Inverno de Sochi, em 2014. O novo documento, por sua vez, mostra que o escândalo prosseguiu após a competição e atingiu uma escala maior do que se imaginava.

  • Podemos confirmar que o encobrimento de casos de doping vem pelo menos desde 2011, e continuou após os Jogos de Sochi. O processo evoluiu e foi refinado desde a Olimpíada de Londres, em 2012. Esse encobrimento aconteceu em uma escala sem precedentes - afirmou McLaren. - É impossível saber quão profunda e quão distante no passado chega esta conspiração. Por anos, competições internacionais foram fraudadas, sem que soubessem, por atletas russos. Os torcedores foram enganados - prosseguiu o canadense.

O relatório divulgado nesta sexta implica ao menos quatro medalhistas russos em Sochi-2014 e cinco medalhistas do país em Londres-2012 por envolvimento no escândalo de dopagem. A lista de atletas que se beneficiaram do esquema envolve até nomes do futebol, de acordo com os achados de McLaren.

  • Era um processo simples e efetivo para conciliar o uso de substâncias proibidas, que permitiu a atletas russos que competissem dopados. Atletas conhecidos e de alto rendimento tiveram seus resultados falsificados - resumiu o canadense.

TRUQUES COM SAL E CÁPSULAS DE CAFÉ

A primeira parte do relatório de McLaren, divulgada em julho, foi um dos argumentos para o veto a mais de 100 atletas da Rússia na Olimpíada do Rio, disputada em agosto. À época, o Comitê Olímpico Internacional determinou que cada federação internacional determinasse quais atletas da Rússia poderiam disputar os Jogos do Rio-2016, tomando por base a capacidade de avaliar se os atletas em questão haviam sido submetidos a controles satisfatórios de uso de substâncias proibidas.

Ao divulgar este novo relatório, McLaren detalhou alguns truques usados pelos atletas e oficiais do governo da Rússia para manipular as amostras de urina que seriam submetidas à análise anti-doping. De acordo com o canadense, sal e até cápsulas de café eram artifícios usados com frequência para mascarar os testes. Algumas amostras dos Jogos de Sochi, segundo McLaren, apresentavam quantidades de sal que não seriam "fisicamente possíveis" em um ser humano saudável.

O relatório de McLaren aponta outras situações curiosas na tentativa russa de manipular testes anti-doping. De acordo com as evidências colhidas pelo canadense, os exames de duas jogadoras da seleção feminina de hóquei da Rússia, realizados nos Jogos de Sochi em 2014, apresentavam DNA masculino.

PROVAS ENCAMINHADAS À WADA

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, não é citado na segunda parte do relatório da comissão independente da Wada. Perguntado sobre o ex-ministro de Esporte russo Vitaly Mutko, McLaren afirmou que não há "evidência direta" de que ele sabia do escândalo de doping. Mutko foi promovido por Putin, em outubro, a vice-premier de Esporte, Turismo e Políticas para os Jovens.

Por se tratar de um investigador independente, McLaren não tem autoridade para abrir denúncias formais contra atletas por violações do código anti-doping. O canadense explica, no relatório, que as informações recolhidas a respeito de cada atleta russo envolvido no escândalo foram repassadas à Wada, e espera que sejam encaminhadas às respectivas federações internacionais. Até lá, os nomes dos atletas não são divulgados.

  • Não cabe a mim decidir se eles devem competir na próxima Olimpíada - ressaltou McLaren, que também preferiu não avaliar o peso do relatório na preparação da Rússia para sediar a Copa do Mundo de 2018.

IAAF E IPC APOIAM RELATÓRIO

Primeira entidade esportiva internacional a se manifestar sobre o relatório de McLaren, o Comitê Paralímpico Internacional (IPC) classificou as descobertas como "sem precedentes e chocantes", que atingem em cheio "a integridade e a ética do esporte". Em seu comunicado, o IPC apoiou o pedido de McLaren para que a comunidade esportiva mundial trabalhe de forma conjunta com o intuito de "consertar o sistema anti-doping quebrado e corrompido da Rússia".

Já a Federação Internacional de Atletismo (IAAF) afirmou, também em comunicado divulgado em seu site oficial, que concorda com a necessidade de que a manipulação de testes anti-doping na Rússia chegue ao fim.

A IAAF diz já ter recebido alguma das evidências contra atletas russos descobertas por McLaren, e que mais da metade dos esportistas envolvidos já receberam punições ou são alvos de procedimentos disciplinares no momento. Na última semana, a IAAF manteve a suspensão da Federação de Atletismo da Rússia (Araf) de competições internacionais - o banimento já completou mais um ano.

O Comitê Olímpico Internacional (COI) ainda não se pronunciou sobre a segunda parte do relatório do investigador independente da Wada. Há dois dias, em reunião do seu Conselho Executivo na Suíça, o COI decidiu manter as sanções internacionais à Rússia, exigindo que os atletas do país provem ter sido submetidos a um controle eficaz de doping para que possam participar de competições internacionais. Trata-se do mesmo procedimento pelo qual os atletas do país tiveram que passar antes dos Jogos do Rio-2016.

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