France Presse/AB
ImprimirO presidente americano, Barack Obama, decidiu encurtar sua viagem a Europa depois do ataque em Dallas, onde cinco policiais foram mortos por um franco-atirador que pretendia vingar os abusos das forças de segurança contra os negros, o que reaviva o doloroso debate da questão racial.
Obama, que visitaria a Espanha a partir deste sábado (9) e até a segunda-feira (11), reduziu a viagem ao continente europeu para estar no início da próxima semana no cenário da tragédia, Dallas, a convite do prefeito da cidade texana, Mike Rawlings.
O presidente chamou na sexta-feira o ataque de "perverso, calculado e desprezível".
Ao mesmo tempo, os apelos de calma e tolerância se multiplicam nos Estados Unidos, um país em estado de choque com o massacre de policiais, aparentemente cometido por um atirador solitário, com um desejo de vingar os abusos das forças de segurança contra os negros.
O vice-presidente Joe Biden afirmou neste sábado que, "como americanos, estamos feridos por todas estas mortes".
Os agentes mortos e os feridos "estavam protegendo os que protestavam pacificamente contra as injustiças raciais no sistema criminal de justiça. Estas pessoas marchavam contra o tipo de imagens chocantes que vimos em St. Paul e Baton Rouge - que temos observado com muita frequência em outras partes - de muitas vidas negras perdidas".
O único suspeito, morto pela polícia horas depois do massacre da noite de quinta-feira em Dallas, foi identificado como Micah Johnson, um ex-soldado negro de 25 anos que não tinha antecedentes criminais, reservista do exército e que esteve no Afeganistão entre novembro de 2013 e julho de 2014.
Johnson foi morto após um grande cerco policial, que incluiu o uso de um robô com explosivos.
Os tiros de quinta-feira foram registrados a poucas ruas da Dealey Plaza, o local onde foi assassinado o presidente John F. Kennedy em 1963, também atingido por um franco-atirador solitário.
Durante as infrutíferas negociações para tentar obter sua rendição, Johnson teria afirmado aos policiais que não pertencia a nenhuma organização e pretendi apenas matar "brancos, em especial policiais brancos".
Ele parece ter atuado de maneira solitária, segundo o secretário de Segurança Nacional, Jeh Johnson, que - assim como a Casa Branca - descartou qualquer vínculo com uma "organização terrorista".
A polícia de Dallas informou que durante uma operação na residência de Johnson, os detetives encontraram material para fabricar bombas, coletes à prova de balas, fuzis, munições de um caderno pessoal de táticas de combate.
Em uma página do Facebook atribuída a Micah Johnson e depois desativada, ele parece apoiar organizações de defesa dos negros, de acordo com o Southern Poverty Law Center, que monitora estes movimentos nos Estados Unidos.
Em algumas fotos ele aparece com o punho elevado, um gesto símbolo da luta pelos direitos civis dos negros nos Estados Unidos.
Problema racialO tiroteio reativou o já emocional debate sobre o uso de força letal por parte da polícia, assim como o comportamento das forças de segurança com as minorias raciais, especialmente os afro-americanos.
Os líderes do movimento Black Lives Matter (As Vidas dos Negros Importam) condenaram a violência, ao mesmo tempo que confirmaram a realização das manifestações previstas para o fim de semana.
"Black Lives Matter luta pela dignidade, a justiça e a liberdade. Não pelo assassinato", afirmou a organização.
Na sexta-feira aconteceram manifestações em Houston, Nova Orleans, Detroit, Baltimore e San Francisco, após as mortes de dois negros em ações da polícia durante a semana, em operações filmadas na Louisiana e em Minnesota.
As mortes provocaram a indignação da opinião pública.
Na sexta-feira, depois de desembarcar na Polônia para participar em uma reunião da Otan, o presidente Barack Obama afirmou que "não há uma justificativa possível para este tipo de ataques".
Além de retornar da Europa antes do inicialmente previsto, no domingo à noite da Espanha, Obama decretou luto oficial até 12 de julho.
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, condenou os assassinatos dos policiais em Dallas, mas também pediu uma investigação "imparcial" sobre as mortes de negros em ações das forças de segurança.
A tensão levou os dois candidatos à presidência dos Estados Unidos, a democrata Hillary Clinton e o republicano Donald Trump, a cancelar os atos de campanha na sexta-feira.