G1/LD
ImprimirA Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou, nesta quarta-feira (17), que o surto de ebola na República Democrática do Congo (RDC) se tornou uma emergência internacional de saúde pública. Em uma entrevista coletiva com jornalistas por telefone, o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, afirmou que, embora ainda não haja registros de transmissão de ebola em países vizinhos, dois casos de pessoas que estiveram na fronteira da RDC com a Ruanda e Uganda e depois foram diagnosticadas com o vírus levaram a organização a tomar a decisão.
"O risco de disseminação na RDC e na região segue muito alto, mas o risco de disseminação fora da região permanece baixo", ressaltou Ghebreyesus a jornalistas.
Na segunda-feira (15), a OMS havia informado que mais de 1.600 pessoas já morreram desde o início do surto de ebola no leste da República Democrática do Congo, há um ano. O surto foi declarado oficialmente em 1º de agosto de 2018, e é considerado o segundo maior da doença de todos os tempos.
O diretor-geral explicou que "não há evidência de transmissão" do vírus na Uganda e na Ruanda. "Mas, como os dois eventos indicam uma disseminação do vírus, o comitê pediu que eu declarasse emergência de preocupação internacional."
Ebola não é ameaça global
Robert Steffen, presidente do Comitê de Emergência de Regulações Internacionais de Saúde da organização, explicou ainda que essa "ainda é uma emergência regional e de forma alguma uma ameaça global".
Por outro lado, a OMS fez um apelo para que os doadores e governos aumentem as doações de combate ao surto, o que também é uma forma de evitar que o vírus se espalhe pela África ou chegue a outros continentes. "Não é arrecadação, é para prevenir a disseminação internacional da doença", disse o diretor-geral.
"O governo da República Democrática do Congo está fazendo todo o possível. Mas eles precisam do apoio da comunidade internacional. Isso inclui apoio financeiro", disse Ghebreyesus. "A menos que a comunidade internacional aumente seus fundos para a resposta agora, vamos pagar por esse surto por um bom tempo ainda."
Ajuda da comunidade internacional
Apesar da declaração de emergência internacional, as duas autoridades recomendaram aos países que, além de aumentar suas doações, não fechem fronteiras nem restrinjam as viagens e negócios com a RDC ou os países vizinhos.
"Isso provocaria um impacto terrível na economia da região", explicou Steffen, ressaltando que as "consequências negativas" do isolamento da RDC e de outros países da região incluem, por exemplo, menos dinheiro para prevenir a disseminação do vírus.
Além disso, segundo ele, o fechamento de fronteiras ou limitação de viagens estimularia a população a buscar alternativas ilegais de cruzamento de fronteiras, que atualmente estão sendo monitoradas de perto justamente para evitar que pessoas saiam do país portando o vírus.
Por isso, a consequência desse isolamento não afetaria apenas os países já afetados, mas aumentaria o risco de outros países acabarem entrando na zona de transmissão do vírus.
"Mais de 75 milhões de checagens para detectar o ebola já foram feitas em fronteiras e outros checkpoints", ressaltou Ghebreyesus sobre uma das ações locais para prevenir a epidemia.
Segundo o relatório divulgado pelo comitê nesta quarta, 70 pontos de entrada passam por essa checagem e 22 casos já foram detectados dessa forma. Atualmente, a localidade de Beni é a mais afetada por novos casos (leia mais abaixo).
Recomendações da OMS
Nesta quarta-feira, a OMS divulgou uma lista de recomendações para todos os países em relação ao combate da disseminação do ebola.
Para os países afetados:
Continuar fortalecendo a conscientização da população, principalmente em pontos fronteiriços e com pessoas em risco;
Continuar a verificação de viajantes nas fronteiras e principais rodovias domésticas;
Continuar a coordenação com a ONU e parceiros para reduzir as ameaças e mitigar riscos de segurança no controle da doença;
Reduzir o tempo entre o diagnóstico e o isolamento;
Estratégias de vacinação para aumentar o impacto de conter o surto devem ser implementadas rapidamente;
Mapear postos de saúde e fortalecer outras medidas para aumentar o monitoramento e supervisão de infecções hospitalares.
Para os países vizinhos aos afetados:
Trabalhar com urgência com parceiros para se preparar para a detecção e gerenciamento de casos "importados", incluindo o mapeamento dos postos de saúde e a vigilância ativa;
Continuar a mapear o movimento e padrões sociológicos da população para prever riscos de disseminação;
Aumentar ações de engajamento e comunicação com a comunidade, especialmente nas fronteiras;
Priorizar pesquisas de vacinas e tratamentos.
Para todos os países:
Nenhum país deve fechar suas fronteiras ou restringir viagens e negócios, medidas que incentivam o movimento informal e não monitorado de pessoas e produtos entre os países e comprometem as operações de segurança e logística;
Autoridades nacionais devem trabalhar com as companhias aéreas e outros meiores de transporte e turismo;
Não é necessário implantar medidas de verificação em aeroportos e outros portos de entrada nos países que estão fora da região.
Disseminação do ebola
O caso mais recente que levou a OMS a aumentar o nível de alerta aconteceu neste domingo (14) em Goma, uma cidade da República Democrática do Congo que fica na fronteira com a Ruanda. Um pastor saiu da cidade de Butembo e viajou por 200 km em um ônibus até Goma.
Ele esteve em contato com pessoas que portavam o vírus, e foi diagnosticado com ebola no domingo, depois que acudiu a um centro de saúde. Segundo Ghebreyesus na tarde desta quarta, o homem morreu em decorrência da doença. Como a cidade tem mais de 2 milhões de habitantes, fica em uma fronteira internacional e representa um importante eixo de transportes no leste da RDC, autoridades locais e ruandesas ficaram em alerta.
O Ministério da Saúde da RDC afirmou que o homem foi rapidamente diagnosticado e isolado, e que 75 pessoas foram foram vacinadas, entre o motorista e os demais 18 passageiros do ônibus e demais indivíduos que entraram em contato com o paciente.
O outro caso, segundo Ghebreyesus, foi de uma mulher que vivia na RDC e cruzou a fronteira com Uganda para comprar peixe. Depois que retornou, ela também foi diagnosticada com ebola e não sobreviveu.
Atualmente, segundo o comitê da OMS, o número de casos nas cidades de Butemo e Mabalako, na RDC, aumentaram, mas o epicentro do surto é a localidade de Beni, que concentrou 46% dos casos nas últimas três semanas.