Mundo
26/12/2013 09:00:00
Os perigos de ser uma mulher gorda na França
Há décadas a imagem da mulher parisiense chique e esbelta é o padrão e epítome do estilo na França, mas ela também faz com que algumas mulheres francesas se sintam inadequadas.
BBC Brasil/PCS
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Isabelle, de 50 anos, diretora de uma galeria de arte da moda em Paris, diz:\n "É simples. Chique mais magra é igual a sucesso", ao se referir sobre\n os corpos femininos.\n \n "É assim que funciona para as mulheres aqui", explica. "Se\n você for gorda, não conseguirá aquele emprego. Mas se tiver a silhueta -\n chique, muito magra, elegante - você está mais ou menos feita."\n \n Isabelle é uma rara exceção à regra - ela é bastante gorda - mas, por ser\n autônoma, ela diz que consegue escapar do padrão e que gosta de estar acima do\n peso em uma sociedade tão obcecada com a magreza e a conformidade.\n \n "Ser gorda me faz sentir livre, mesmo que nunca consiga encontrar nada\n para usar nas lojas de Paris. Eu me lembro vividamente da última vez em que\n tentei, do olhar de horror no rosto da vendedora", conta.\n \n "Ela disse: Senhora, com certeza não temos nada para\n você aqui", relata.\n \n Receita mágica\n \n Diz-se que toda mulher francesa acha que precisa perder pelo menos dois\n quilos, e a indústria do emagrecimento na França é enorme.\n \n As farmácias estão cheias de produtos de dieta que se proclamam milagrosos,\n e as revistas femininas têm extensas colunas de conselhos para emagrecer.\n \n A maior parte da pressão que as mulheres francesas sentem para ser magras\n vem de outras mulheres francesas e de uma sociedade que tem tolerância zero à\n gordura.\n \n A mulher não é "gorda", ela é chamada de ronde,\n robuste, forte, solide, dodu, rondelette\n - roliça, robusta, forte, sólida, rechonchuda, fofinha - ou até mesmo enrobee,\n um adjetivo que também é usado para descrever uma cobertura geralmente grossa\n de chocolate em doces e bolos, mas que neste caso se refere a uma mulher que é\n bem coberta com sua própria massa. \n \n E existe ainda uma ideia veiculada no que os franceses chamam de\n "imprensa anglo-saxônica" de que as mulheres francesas não engordam.\n \n Eles seguiriam apenas uma série de regras místicas, passadas de mãe para\n filha, que conduzem a manutenção de sua aparência, o seu comportamento e,\n principalmente, os seus hábitos alimentares.\n \n Uma dieta sensata e balanceada. Muitos produtos frescos. Três refeições por\n dia. Absolutamente nenhum lanche. Exercícios regulares. Nada em excesso.\n \n É o que qualquer mulher ocidental educada ensinaria às suas crianças -\n mulheres e homens - seja qual for sua nacionalidade.\n \n Muitas mulheres seguem este regime e mantêm corpos saudáveis e razoavelmente\n magros, mas para ter esta silhueta tão magra, algumas precisam praticamente\n passar fome.\n \n Há muitas famílias parisienses de classe média que se reúnem para uma\n refeição frugal de vegetais cozidos e uma xícara de chá de ervas à noite para\n evitar ganhar peso.\n \n Espartilho mental\n \n "Não há mistério. É claro que mulheres francesas engordam", diz\n Sonia Feertchak, editora-chefe da publicação LEncyclo des Filles\n (Enciclopédia das Garotas), um popular guia de saúde e beleza para\n adolescentes. \n \n "Mas a questão é que elas não têm coragem (de engordar), e algumas até\n passam fome, porque nesta sociedade ser uma mulher gorda é ser um\n fracasso", afirma.\n \n Segundo Feertchak, mulheres gordas são vistas como "estúpidas" e\n julgadas como "perdedoras feias e esquisitas".\n \n "As mulheres chegaram tão longe na França - temos voz política, creches\n de qualidade, acesso ao trabalho - mas ao invés de estarmos mais confiantes,\n estamos cada vez mais obcecadas com nosso peso e nosso corpo", afirma.\n \n "Coco Chanel nos libertou do espartilho há mais de 80 anos, mas ficamos\n à mercê de um espartilho mental - uma silhueta de suposta perfeição que é\n inalcansável e leva à tristeza e aos distúrbios alimentares", diz.\n \n Para qualquer lugar que se olha em Paris ela está lá, a mulher francesa\n idealizada, posando glamurosamente em ônibus, outdoors e anúncios em estações\n de metrô; pequena, frágil e muito magra; anunciando tudo, de lingerie a\n descontos em seguros de carro e até comida - um sorvete, talvez, ou um\n delicioso queijo francês colocado provocantemente fora do alcance, por pouco,\n de sua bela boca semi-aberta.\n \n "É uma tirania absoluta, que chamamos de tirania da silhueta, mas é\n também uma espécie de sonho, porque representa o sucesso total", diz\n Marjorie, uma executiva de 49 anos, que é também muito magra.\n \n "Não é como na Grã-Bretanha, onde os programas de TV mostram mulheres\n de todos os tamanhos. Eu adoro isso - mulheres rechonchudas de 55 anos beijando\n homens na boca. Eu nunca veria isso aqui", afirma.\n \n Marjorie trabalha próximo ao subúrbio de Saint Denis, em Paris, onde há uma\n grande população de imigrantes do noroeste da África.\n \n Ela se inspira naquelas mulheres, com seus corpos cheios e curvilíneos, na\n maneira como andam altivas.\n \n "Elas são tão mais femininas do que a nossa chique parisiense, mas a\n triste verdade é que se elas querem ter carreiras nesta sociedade, terão que\n ficar magricelas para conseguir", conclui.\n \n \n
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