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11/03/2016 07:57:00
Países mais corruptos tendem a ter pessoas mais desonestas, diz estudo

G1/LD

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Uma pesquisa publicada pela revista “Nature” nesta quarta-feira (9) corrobora a ideia de que o nível de corrupção enraizado na sociedade e nos poderes públicos influenciam o grau de honestidade de cada indivíduo.

Os professores Simon Gachter (Universidade de Nottingham) e Jonathan F. Schulz (Universdade Yale) observaram que pessoas que moravam em países mais corruptos são mais suscetíveis a tirar “índices” mais altos de desonestidade do que aqueles que vivem em sociedades mais "corretas". Eles analisaram o entorno dos indivíduos e a frequência da violação das leis e regras, usando parâmetros como corrupção, fraude política e evasão fiscal.

"A conclusão é que as pessoas que vivem em sociedades mais corruptas têm mais probabilidades de ser desonestas do que as que habitam sociedades onde se desaprova a violação das normas", explicou Gachter.

Para provar a teoria, os cientistas elaboraram um índice de 159 países conforme a saúde de suas instituições nas categorias corrupção, evasão fiscal e fraude política, tomando dados de 2003, primeiro ano em que essas informações foram disponibilizadas.

Depois realizaram uma experiência com 2.568 jovens de 23 países representativos, entre eles China, Alemanha, Indonésia, Quênia, Suécia, Reino Unido e Colômbia - Tânzania e Marrocos ficaram entre os mais corruptos. O Brasil não esteve entre os países analisados. A experiência consistia na possibilidade de mentir para benefício próprio sem que ninguém descobrisse.

Fechados em uma cabine sozinhos, os voluntários tinham que jogar duas vezes um dado e informar depois o primeiro número que tinham tirado. Quanto maior fosse o número, maior seria a quantidade de dinheiro recebida. Se as pessoas estivessem sendo honestas, todos os números tinham a mesma probabilidade de sair. Se não, os especialistas podiam calcular a distorção.

"Não podemos dizer em nível individual se os voluntários foram ou não honestos, mas dentro de um grupo de pessoas, podemos extrair conclusões pelas leis da estatística", explicou Gachter, professor de Psicologia.

"O que ficou claro imediatamente nos resultados é que, apesar de algumas trapaças, o povo é surpreendentemente honesto no mundo todo, visto que neste experimento podiam enganar com total impunidade", afirmou Gachter, acrescentando: "Não vimos mentiras flagrantes em nenhum país".

No entanto, eles detectaram que os cidadãos que moravam em países com níveis de corrupção mais elevados tendiam a dizer que tinham tirado os números mais altos (e que rendiam mais dinheiro) que os de sociedades menos corruptas.

"As pessoas limitam seu nível de desonestidade conforme o que percebem como aceitável em sua sociedade e o que enxergam a seu redor", explicou Gachter.

Também foi possível constatar que as pessoas no mundo todo tendem a "trapacear um pouquinho" em seu favor. No experimento isso se traduziu no fato de que, em vez de informar o primeiro número tirado no dado, as pessoas diziam o número mais alto em qualquer das duas jogadas.

Segundo Gachter, isto confirma a teoria psicológica de que "a pessoa quer manter uma imagem positiva de si mesma como honesta, por isso só trapaceará um pouquinho em seu benefício, o que lhe permite manter essa imagem própria".

"Caso você viva em uma sociedade onde todo mundo quebra as normas, tem mais chance de pensar que fazer isso é bom", declarou Gachter.

Os pesquisadores asseveram que as instituições frágeis, que permitem a corrupção e outras violações, "não têm efeitos econômicos negativos apenas para as sociedades, mas também para a honestidade intrínseca dos cidadãos".

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