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ImprimirO segundo turno das eleições presidenciais no Chile será realizado neste domingo (17) e deve ser marcado pelo suspense até o último minuto, segundo indicam as pesquisas eleitorais.
O ex-presidente Sebastián Piñera enfrenta o candidato da situação, Alejandro Guillier, famoso apresentador de TV, para substituir Michelle Bachelet.
A última pesquisa eleitoral Cadem, divulgada no dia de 1º de dezembro, apontava Piñera com 40% das intenções de voto e Guillier com 38,6%, um empate técnico. Outros 21,4% dos entrevistados indicaram que não sabiam em quem votar, votariam em branco ou nulo ou não iriam às urnas. O Chile tem um prazo de 15 dias em que não podem ser divulgadas pesquisas antes da eleição.
Piñera conquistou mais votos no primeiro turno (36,6%), como esperado, mas a vitória foi com uma margem bem menor do que o previsto (Guillier obteve 22% dos votos). Além disso, contrariando todas as expectativas, a representante da coalizão de partidos de esquerda Frente Ampla - a jornalista Beatriz Sánchez - ficou muito perto de ir para o segundo turno (20%).
O surpreendente desempenho da Frenta Ampla dificulta a vitória de Piñera e transforma numa incógnita o resultado de Guillier. O resultado dependerá, sobretudo, do que decidirem os eleitores da Frente Ampla, que apoia Guillier.
O jornalista também recebeu o apoio do Partido Democrata-Cristão, que apresentou a candidatura de Carolina Goic, e do representante do Partido Progressista Marco Enríquez-Ominami, em seu objetivo de criar uma frente "todos contra Piñera".
A atual presidente Michelle Bachelet evitou dar um apoio explícito a Guillier, mas defendeu, fortemente, a continuidade das reformas sociais empreendidas por ela.
Piñera, por sua vez, traçou um objetivo para a campanha ao segundo turno: conquistar o "centro moderado". Recebeu o apoio do ex-candidato de ultradireita à presidência, José Antonio Kast, que reivindica o legado da ditadura de Augusto Pinochet, e do senador Manuel José Ossandón, que foi seu rival nas primárias do partido Chile Vamos. Segundo análise da agência France Presse, esses apoios dificultam suas pretensões de modernizar a direita e dar uma guinada ao centro.
No Chile, o voto não é obrigatório. No primeiro turno de novembro, o comparecimento às urnas foi de quase metade dos mais de 14 milhões de eleitores. O índice de participação no próximo domingo será vital para a disputa acirrada.
Mauricio Morales, diretor do Centro de Análises da Universidade de Talca, disse à AFP que as eleições de domingo estão cercadas de "um dos maiores graus de incerteza desde o retorno da democracia”.
Campanha para o 2º turno
Ao contrário do primeiro turno, em que se mostrou mais sereno, Piñera foi mais errático e disperso na campanha do segundo turno.
O ex-presidente chegou a denunciar uma possível fraude no primeiro turno a favor de Guillier e Sánchez, o que rendeu uma chuva de críticas e levou a candidata da esquerda radical a anunciar voto no candidato de centro-esquerda.
No caminho oposto, Guillier, jornalista, cresceu na campanha, sobretudo após o apoio de Sánchez.
Sem maioria no Congresso
Independentemente do vencedor, o novo presidente não terá maioria no Congresso. Nas eleições parlamentares, realizadas em paralelo com o primeiro turno, estreou um novo sistema proporcional de eleição, que deixou uma configuração totalmente fragmentada.
"Seja quem for o presidente, terá um Congresso em minoria e precisará fazer coalizões" com outros grupos parlamentares, disse o cientista político Rodrigo Osorio, da Universidade de Santiago, que acredita que nesse sentido Guillier teria mais facilidade do que Piñera.
Veja a seguir as principais propostas dos dois candidatos:
Economia
Piñera:
-Colocar o Chile no grupo de países desenvolvidos em 2025. -Duplicar o crescimento da economia, que este ano se situará em torno de 1,4%, impedido pela queda do preço do cobre, do qual o Chile é o principal produtor mundial. -Criar 600 mil empregos em 4 anos e reduzir a pobreza dos 11,7% atuais. -Financiar parte do programa mediante "um esforço de austeridade e redesignação" do orçamento do Estado.
Guillier:
-Fomentar o valor agregado à produção chilena e criar 900 mil empregos. -Descentralizar a economia. -Subir os impostos das empresas de 25% para 27%.
Educação
Piñera:
-Diminuir os juros do Crédito com Aval do Estado (CAE), ao qual tiveram acesso cerca de 800 mil jovens desde a sua criação, em 2006, e com o qual contraíram uma dívida de US$ 8,260 bilhões, o equivalente a 3,6% do PIB chileno. -Manter a gratuidade para quem já desfruta dela e aumentá-la para 90% dos estudantes de institutos de formação técnica com menos recursos. -Alcançar o acesso universal e gratuito à educação infantil.
Guillier:
-Aumentar a gratuidade universitária de 60% - cerca de 260 mil estudantes atualmente - para 70% no próximo ano. -Apoiar o projeto de lei que estabelece, sob certos parâmetros de crescimento econômico, a educação gratuita para 100% dos estudantes para o ano de 2020. -Perdoar a dívida contraída com o CAE de 40% dos mais pobres.
Saúde
Piñera:
-Criar um "Ministério da Família" e um seguro contra doenças catastróficas, como o câncer.
Guillier:
-Oferecer atendimento primário para todos os chilenos mediante a criação de um Fundo Solidário Nacional, que será coberto com a arrecadação de 3% da cotização obrigatória.
Aposentadorias
O Chile tem um sistema de aposentadoria de capitalização privada que se mantém como herança da ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990).
Piñera:
-Fazer o empregador cotizar 4% ao fundo de pensões dos funcionários.
Guillier:
-Fazer o empregador cotizar 5% para o fundo de pensões, que irá em parte aos fundos de pensões particulares, e outra alimentará um fundo solidário. Isso permitirá aumentar em 20% as aposentadorias atuais (US$ 300 em média) e as futuras em 50%.
Migração
Piñera:
-Criar um Conselho de Política Migratória, concessão de vistos para trabalhadores qualificados e tornar mais ágil o trâmite para expulsão de migrantes que infringirem a lei.
Guillier:
-Criar um registro nacional de estrangeiros, fixar regras para as entradas e um controle estrito de permissão de trabalho, a fim de evitar o tráfico de pessoas.