Quarta-Feira, 26 de Novembro de 2025
Mundo
21/11/2025 10:01:00
Presas 60 dias em navio, 2.850 vacas são devolvidas e devem chegar mortas

UOL/PCS

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No dia 19 de setembro, mais de dois meses atrás, o decrépito navio Spiridon II, um velho cargueiro russo construído há mais de 50 anos — e mais tarde grosseiramente convertido para o transporte de animais —, deixou o porto de Montevidéu, no Uruguai, com destino à Turquia, levando 2 853 novilhas, vacas ainda jovens que seriam usadas para abate e produção de leite.

Pouco mais de um mês depois, no dia 22 de outubro, ele chegou ao seu destino, o porto de Bandirma, mas não recebeu permissão das autoridades turcas para atracar e descarregar os animais, porque, pelo menos 500 deles apresentavam divergências entre as informações de origem e o que constava nos manifestos de carga do navio.

Começava ali uma novela que se arrasta até hoje, e o pavoroso sofrimento daqueles animais, trancados no interior de um navio fétido e insalubre — cujo mau cheiro já pode ser sentido a um quilômetro de distância — desde que teve início aquele martírio, mais de dois meses atrás — e que ainda vai durar outro mês inteiro, porque, neste momento, o Spiridon II está navegando de volta para o Uruguai, em uma jornada de mais 18 000 quilômetros de mar, a fim de devolver os animais.

Foto: Reprodução

Pelo menos aqueles que sobreviverem a esta nova e longa viagem.

Abortos em pleno mar

Na viagem de ida, mesmo sem nenhum contratempo, já haviam morrido cerca de 60 vacas, como estimado por entidades de bem-estar animal, com base em fotos que mostravam suspeitos sacos estocados no convés do navio, muito possivelmente com as carcaças das novilhas que não resistiram à viagem.

Além disso, como cerca de 800 delas estavam prenhes (já que isso estimula a produção de leite), mas apenas 50 bezerros recém-nascidos foram detectados quando o navio chegou à Turquia, os ativistas dos direitos animais arriscam dizer que os demais filhotes também tenham morrido na viagem, em abortos espontâneos causados pelas péssimas condições sanitárias a bordo do Spiridon II, ou na longa e cruel espera de 24 dias a que o navio foi submetido, quando chegou à Bandirma mas não pode desembarcar os animais.

Na ocasião, o capitão do Spiridon II recebeu ordens de aguardar, no mar, a solução para o problema, que por fim não aconteceu.

Isso decretou o retorno do navio ao seu porto de origem, para devolução dos animais, que é o que ele vem fazendo agora.

Mas o pior pode ainda estar por vir.

Pode não ser aceito nem de onde partiu

No dia 9 de novembro, quando ainda aguardava a permissão das autoridades turcas para desembarcar os animais, o Spiridon II recebeu autorização para atracar no porto por algumas horas, apenas para o embarque de suprimentos e rações para os bovinos.

Em seguida foi mandado de volta para o mar e por lá ficou, mais 15 dias.

Durante a breve parada dele no porto turco, relatos deram conta que, por causa do acúmulo de excrementos nos porões do navio, os níveis de amônia e outros gases gerados pelas fezes dos animais já tinham atingindo níveis inaceitáveis.

E isso — mais o acúmulo de novas carcaças de animais mortos, que certamente não suportarão a viagem de retorno — pode fazer com o que o navio seja proibido de atracar também no Uruguai, de onde havia partido, gerando uma crise sanitária e humanitária pior ainda.

Os ambientalistas também temem que, caso haja este risco, o dono da carga (a empresa uruguaia Ganosan Livestock) e o armador do navio (uma suspeita empresa sediada em Honduras, embora o Spiridon II navegue sob a bandeira de Togo, um país africano) optem por se livrar do problema, lançando todos os animais no mar, mesmo os que eventualmente sobrevivam a viagem de regresso, que está prevista para terminar só no dia 14 de dezembro — quando eles já estarão completando 90 dias trancados no interior do navio, em condições difíceis de imaginar.

Por isso, entidades uruguaias de bem estar animal já estão se mobilizando para pressionar o governo local para que não só permita o desembarque das novilhas sobreviventes, como as envie para um santuário animal, uma vez que elas já sofreram o bastante.

Mas, talvez, isso não aconteça.

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