Abrale/PC de Souza
ImprimirNo Brasil, o coronavírus já é uma realidade. Devido às confirmações no país, vários boatos estão sendo compartilhados nas redes sociais sobre como evitar a contaminação do vírus – e a maioria está incorreta. Isso pode prejudicar, principalmente, pessoas que estão nos grupos de risco, como pacientes oncológicos.
Estar no grupo de risco significa que aquela pessoa, ou grupo, possui uma maior probabilidade de contrair os problemas de saúde causados pelo novo coronavírus. E uma vez que a pessoa tenha contraído, apresenta uma maior possibilidade de pior prognóstico.
A infectologista da rede de Hospitais São Camilo, Drª. Adriana Coracini, conta que no caso dos pacientes oncológicos, isso acontece devido à própria doença e às medicações usadas.
“O câncer e as medicações utilizadas no tratamento dos vários tipos da doença causam uma debilidade no sistema imunológico do paciente. Dessa forma, ele fica mais vulnerável a ter uma evolução pior em caso de infecções virais. ”
Apesar de estarem no grupo de risco, os cuidados recomendados são os mesmos da população em geral:
– Evitar aglomerações – no caso dos pacientes, até para evitar outros riscos respiratórios
– Lavar as mãos com frequência e utilizar o álcool em gel
“Os cuidados são os mesmos que das outras pessoas, porque a forma de contágio é a mesma”, disse a infectologista.
A única diferença está no uso da máscara. Alguns dos pacientes oncológicos já possuem a indicação de utilizar esse acessório em locais com muitas pessoas. Então, para o coronavírus, essa recomendação se repete.
Entretanto, ela não pode e não deve ser utilizada de qualquer jeito. É necessário trocá-la a cada duas ou três horas, pois o elástico, que fica preso na orelha, laceia conforme falamos. Com isso, um pouco da proteção é perdida.
Como os pacientes oncológicos devem proceder com o coronavírus, então?
A rotina desses pacientes inclui frequentes visitas à hospitais e ambulatórios, então é impossível evitar esses locais. Dessa forma, o paciente deve reforçar a lavagem das mãos e seguir os protocolos estabelecidos por seu centro de tratamento. A maioria das clínicas orienta que o paciente utilize a máscara enquanto estiver no local e se apresentar algum sintoma, ele deve avisar a equipe e redobrar o cuidado.
Para o recebimento de sangue ainda não existem regras específicas relacionadas ao coronavírus. Entretanto, para quem for doar, será realizado um teste para identificar a doença. Fora isso, ele não pode ter estado em países com casos confirmados, nem ter tido contato com pessoas infectadas pela doença nos últimos 30 dias e, caso ela mesma tenha contraído a doença, só poderá doar após 90 dias da recuperação.
Devido à maior possibilidade de contrair o coronavírus, é ainda mais importante que pacientes oncológicos evitem o contato com pessoas que estejam com suspeita ou foram diagnosticadas com a doença. Incluindo parentes e pessoas que morem na mesma casa.
Caso o paciente oncológico tenha sintomas relacionados ao coronavírus, deve procurar um hospital o mais rápido possível.
“Os pacientes oncológicos com quadro de febre e sintomas respiratórios devem procurar os seus médicos ou serviços de referência para serem avaliados. Se, de fato, forem diagnosticados, tratamentos específicos serão iniciados e será avaliada a necessidade (ou não) de internação”, explica a infectologista.
Como é feito o tratamento do coronavírus?
O tratamento, na verdade, foca em dar suporte para os sintomas que o paciente estiver apresentando. Por exemplo, se ele estiver com problemas respiratórios, serão administrados medicamentos para a via respiratória. Já em caso de febre, remédio para abaixar a temperatura.
“A cura depende de cada indivíduo de acordo com o condicionamento do seu sistema imunológico. Assim como nos curamos de outros resfriados, várias pessoas estão se curando espontaneamente com o tratamento suporte”, Drª. Adriana fala.
Para pacientes oncológicos o protocolo é o mesmo. Serão administrados medicamentos que ofereçam suporte para as necessidades clínicas daquela pessoa além do cuidado com o sistema imunológico.
Em que momento devo desconfiar que estou com coronavírus?
Os sintomas da doença incluem febre, tosse, dor muscular, cansaço e falta de ar, sinais muito semelhantes a outras gripes.
“Clinicamente, não tem como diferenciar o novo coronavírus de uma gripe comum. Então você desconfia do corona no momento em que você tiver sintomas mais graves. Além de algum grau de dificuldade respiratória ou febre por um período prolongado”, explica a especialista.
A única forma de saber se é coronavírus, é por meio do teste molecular feito com a secreção do nariz e da garganta da pessoa.
De acordo com a Dra. Adriana, “coleta-se material da narina e da garganta da pessoa com um cotonete. Com isso, é realizada uma pesquisa com o material genético para chegar a um diagnóstico preciso. Essa pesquisa é feita com a técnica do PCR, que também acaba pesquisando outros quadros clínicos com os mesmos sintomas.”
Hora dos boatos!
Devido ao fato do coronavírus ser um novo vírus, os estudos sobre ele ainda são poucos. Isso faz com que uma série de informações falsas – ou não totalmente verdadeiras – sejam espalhadas, na intenção de achar prevenções e curas que estejam ao alcance da população.
Entretanto, como dissemos anteriormente, esses compartilhamentos podem, na verdade, acabar prejudicando. Dessa forma, separamos as “dicas” que estão sendo mais comentadas na internet para explicar se são verdadeiras ou não e porquê.
Tomar chá quente mata o coronavírus ou evita a contaminação?
A infectologista explica que não tem nenhuma evidência científica comprovando essa informação.
“Provavelmente, isso veio da ideia que o vírus resiste menos no calor que no frio. Então, elevar a temperatura faria com que o vírus não conseguisse resistir. Mas não há comprovação científica disso. ”
Inclusive, de acordo com a Drª., o boato não faz sentido porque o local no qual o vírus possui maior taxa de replicação é no trato respiratório. Ou seja, há uma quantidade muito maior de vírus nas narinas que na boca.
A mesma explicação vale para o boato que beber água de 15 em 15 minutos faria com que o vírus seja engolido, impedindo que ele chegue ao pulmão.
Não conseguir prender a respiração por mais de dez segundos sem tossir pode ser sinal de coronavírus.
“Não é um teste muito específico para ser levado em consideração para diagnosticar a doença”, conta a infectologista.
Isso acontece porque várias condições respiratórias podem causar uma perda do fôlego, quando falta ar. Então, não conseguir prender a respiração, não é uma indicação muito confiável de coronavírus.
Devido às altas temperaturas do verão brasileiro, o coronavírus encontra maior dificuldade para se multiplicar.
Isso é verdadeiro, porém em partes. A Drª. Adriana considera ser, na verdade, uma questão multifatorial.
“Sem dúvida, isso dificulta, porque no clima frio a multiplicação do vírus é facilitada. Além disso, os hábitos também mudam, então os ambientes ficam menos ventilados, as pessoas mais próximas. É multifatorial, mas a temperatura pode ajudar”.
O ar de dentro do plástico bolha de produtos vindos da China podem conter e transmitir o coronavírus.
Não é bem assim!
Utilizando como base as pesquisas realizadas com os últimos coronavírus, eles podem até sobreviver fora do corpo, entretanto não por mais de poucas horas. Isso porque o vírus precisa de boas condições de temperatura e ambiente para poder se multiplicar. Um pacote ou objeto inanimado não apresentam essas condições, por isso o coronavírus não aguentaria a viagem.
“Em boas condições, ele acaba sobrevivendo algumas horas só, não muito mais do que isso. Então, é improvável que ele consiga sobreviver ao trajeto, porque as circunstâncias de temperatura e afins não são favoráveis”, Drª. Adriana Coracini finaliza.