Nas sete horas em que ficou sob a mira de duas armas, o caminhoneiro \n de 34 anos vítima do assalto em que um bandido foi morto conta que \n chegou a ter certeza de que seria morto e rezou, confessando os pecados.\n \n “Eu fiquei rezando o tempo todo. O ladrão disse que ia me matar \n porque eu tinha visto o rosto de muita gente e ficava sempre com as duas\n armas apontadas para o meu rosto, parecia que estava fazendo \n roleta-russa”, diz.\n \n Ele foi deixado no cativeiro, um matagal às margens da BR-163, em \n Campo Grande, com um dos ladrões o vigiando. A prece da vítima chegou a \n incomodar o bandido, mas ainda assim o caminhoneiro continuou confiante.\n \n “Ele perguntou o que estava cochichando e eu disse que estava \n rezando. Passou um tempo e acho que ele ficou incomodado de novo e \n perguntou o que eu ainda estava falando e respondi que, já que ia \n morrer, estava confessando meus pecados, que são muitos”, conta.\n \n Os momentos de pânico terminaram por volta da 1h30 da madrugada de \n hoje, quando policiais descobriram o local e o bandido fugiu sem \n provocar nenhum ferimento no caminhoneiro.\n \n “Talvez se tivesse demorado mais uns 40 minutos eu tinha morrido”, diz. Ele foi encontrado de bermuda, descalço e sem camisa.\n \n O bandido, que só foi identificado até agora pelo apelido de \n “gordinho”, foi morto pelos policiais durante perseguição no matagal. \n Ele estava com uma pistola e um revólver calibre 38, mas apenas o \n revólver foi encontrado.\n \n A Polícia chegou até o cativeiro depois do comparsa do bandido ser \n interceptado pela Polícia Rodoviária Federal em posto próximo a Ponta \n Porã. Diocledes Bispo de Jesus, de 28 anos, tentava levar o caminhão até\n o Paraguai para vender o veículo.\n \n Frete falso
O sequestro começou com um contrato de\n frete, proposto em Cuiabá (MT). O caminhoneiro conta que estava \n voltando de um frete e passou pela cidade, quando um homem, conhecido de\n outros caminhoneiros, passou o contato de uma pessoa de Campo Grande, \n que seria “um bom contratante de frete”.\n \n O caminhoneiro encontrou o contratante no posto Caravágio, na BR-163,\n de onde partiu para o falso frete de equipamentos de frigorífico, que \n deveria ser entregue no interior de São Paulo.A vítima e dois “chapas”, como chamam quem vai junto com o frete para\n ajudar a descarregar a carga, seguiram por cerca de 3 km até que um \n deles disse que precisa ir ao banheiro e logo em seguida anunciou o \n assalto.\n \n Os bandidos disseram que iam levar o caminhão para Ponta Porã, mas \n como o veículo estava sem diesel suficiente resolveram passar antes na \n casa da esposa de um dos autores, em Campo Grande. Eles pegaram R$ 400 \n para abastecer e seguiram a viagem.\n \n O caminhoneiro e um dos chapas ficaram no cativeiro enquanto Diocledes seguiu com o caminhão para o Paraguai.\n \n Mudar de profissão
O caminhoneiro conta que o caminhão Mercedes 112 já é antigo e acredita que foi o escolhido para o assalto por acaso.\n \n “Acho que precisavam de um caminhão para levar e acabou sendo eu, por acaso”, diz.\n \n Ele é caminhoneiro há 4 anos, mas garante que vai mudar de profissão.\n “Só quero dirigir um caminhão agora se for da garagem pra calçada”, \n diz.\n \n Investigação
A vítima diz que nunca foi vítima de \n outro assalto e também nunca tinha visto um roubo seguido de sequestro \n dessa forma. “Já trabalhei no nordeste, onde é muito mais perigoso, mas \n lá pegam o caminhão e largam o motorista”, diz.\n \n O caminhoneiro suspeita que o roubo tenha contado com a participação \n de mais pessoas e que o homem que conheceu em Cuiabá seja o chefe da \n quadrilha. “Com certeza não fui a primeira e nem a última vítima”, diz.\n \n O caso foi registrado na Depac (Delegacia de Pronto Atendimento) \n Piratininga pelo delegado Ivahir Luiz de Campos e deverá ser investigado\n pela Defurv (Delegacia Especializada de Furtos e Roubos de Veículos). \n Diocledes está preso em Ponta Porã.\n \n \n