Quinta-Feira, 13 de Novembro de 2025
Polícia
12/11/2025 17:08:00
Entenda por que o RS é um dos únicos estados sem atuação do CV
A CNN Brasil ouviu especialistas para entender a que se deve a ausência, no território gaúcho, de uma maiores organizações criminosas do Brasil

CNN/PCS

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Muro pixado com alusão ao Comando Vermelho no Morro dos Macacos, no Rio de Janeiro

Células do Comando Vermelho estão espalhadas em pelo menos 24 estados brasileiros, conforme dados da Senappen (Secretaria Nacional de Políticas Penais). A organização criminosa esteve no centro do debate após a operação policial mais letal da história do Rio de Janeiro, que deixou 117 suspeitos e 4 policiais mortos, em 28 de outubro.

O Rio Grande do Sul está entre os estados sem influência da facção, além de São Paulo e Distrito Federal.

Controle de facções regionais

Conforme o sociólogo, professor de Direito da PUCRS e membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Rodrigo Ghiringhelli de Azevedo, não há lideranças do Comando Vermelho atuando de forma estruturada no Rio Grande do Sul. Porém, isso não significa menor influência do crime organizado no estado.

No território gaúcho, o narcotráfico é comandando por facções regionais, que atuam de forma autônoma e territorializada, explica o professor. É o caso, por exemplo, das organizações criminosas “Bala na Cara” e “Os manos”.

O jornalista e escritor Renato Dornelles, especialista em segurança pública e autor do longa-metragem "Central - O poder das facções no maior presídio do Brasil", explica que o sistema penitenciário é fundamental para a consolidação, organização e crescimento das facções.

“Ao longo da história, desde a primeira facção criminosa, a Falange Vermelha, que virou Comando Vermelho, criada na virada dos anos 1970 e 80, as facções sempre tiveram o presídios como uma base importante”, afirma o jornalista.

Dornelles explica que, no caso do Rio Grande do Sul, nos principais presídios, as galerias e celas foram “loteadas” entre as facções locais. Com isso, não abre-se espaço para facções de outros estados.

Além disso, a questão geográfica também pode estar entre as causas da ausência de células de grandes organizações criminosas nacionais no RS. A localização no extremo Sul do país dificultaria as ligações necessárias com outros estados.

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Disputas por território

Conforme o professor Azevedo, os grupos regionais também possuem grande poder de armamento e controle de territórios. Dessa forma, reproduzem dinâmicas semelhantes às das grandes facções nacionais.

“Ou seja, o RS não é menos violento nem menos organizado em termos criminais, apenas apresenta um ecossistema criminal próprio, mais descentralizado e competitivo, sem uma facção hegemônica como ocorre em Rio ou São Paulo”, pontua.

Para o jornalista Renato Dornelles, pode-se afirmar que as facções locais são organizações criminosas tão perigosas e, em nível estadual, tão influentes quanto Comando Vermelho.

“São influentes aqui as facções por ocuparem determinados espaços em que o estado está ausente, como as periferias, principalmente”, conta.

Dornelles relembra que a disputa entre organizações regionais marcou um período sangrento em Porto Alegre e na Região Metropolitana, entre 2016 e 2017. “Nessa guerra, Porto Alegre acabou ficando entre as três capitais mais violentas do país naquele momento”.

À época, os confrontos ocorreram entre membros dos “Bala na cara” e a coalizão formada para combatê-la, chamada “Anti-bala na cara”.

“Levaram o terror para a rua , em uma guerra com decapitações, esquartejamentos e muitos tiroteios”, segundo Dornelles.

Contudo, mesmo com a disputa violenta entre grupos rivais, o jornalista aponta uma diferença entre as facções regionais gaúchas e o Comando Vermelho: a menor reação às ações policiais, como a que ocorreu no Rio de Janeiro.

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Mesmo independentes, os grupos do Rio Grande do Sul têm histórico de alianças com grandes organizações nacionais, conforme Azevedo.

No caso de “Os Manos”, há registros de aliança com o PCC, especialmente em articulações no sistema prisional e em negociações de drogas e armas. Não há submissão formal, mas um modelo de cooperação e afinidade ideológica.

Já os “Bala na Cara” têm sido associados ao Comando Vermelho, mantendo parcerias logísticas e comerciais ligadas ao tráfico interestadual.

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