Da assessoria/SF
ImprimirCom provas materiais das agressões que sofria, como fotos de hematomas pelo rosto e sinais claros de sofrimento, Stephanie de Jesus Da Silva, mãe da pequena Sophia, que morreu em 26 de janeiro de 2023 em Campo Grande, já havia buscado ajuda, alertando uma amiga sobre a violência constante que sofria de seu então parceiro, Cristhian Campoçano Leitheim. Segundo a defesa, Stephanie sustentava a casa com exaustivas jornadas de 11 horas diárias, das 7h às 18h, mas, ao retornar para casa, era recebida com agressões físicas e verbais. Vivendo presa no ciclo cruel da violência doméstica, se via sem saída.
Desde a trágica morte de sua filha, Stephanie vem sendo retratada como conivente com os abusos de Cristhian. No entanto, o processo mostra que ela sempre cuidou de Sophia e nunca aceitou que Cristhian agredisse a filha, conforme a defesa. “Ele, manipulador, enviava mensagens justificando cada hematoma com explicações falsas — tombos, pequenos castigos para disciplinar — numa tentativa perversa de tranquilizar Stephanie. Ela, exausta após longos dias de trabalho, chegava em casa apenas para suportar mais um ciclo de violência e controle, sem imaginar que Sophia também estava sendo alvo das agressões”, diz um dos integrantes de sua banca de advogados.
A defesa segue explicando que uma amiga relatou que Cristhian havia envolvido Stephanie em uma teia manipuladora da qual ela, fragilizada e carente desde a infância, não conseguia escapar. A jovem foi abandonada pelos pais e criada pela avó, conhecendo o abandono desde cedo. Mais tarde, após descobrir que seu primeiro marido, pai de Sophia, era homossexual e a traía com uma pessoa próxima da família, se viu sozinha novamente, cuidando da menina e sustentando a casa até que Cristhian entrou em sua vida. Narcisista e manipulador, ele a prendeu em um ciclo de violência e humilhação do qual ela tentou escapar, mas acabou presa, ainda mais após descobrir estar grávida dele.
Advogadas que acompanham Stephanie, como Camila Garcia e Katiussa do Prado, afirmam que ela nunca presenciou Cristhian agredir Sophia e acreditava nas desculpas que ele dava para cada marca ou hematoma. A criminalista Ellen Magro, que também representa Stephanie, ficou horrorizada ao ver a solidão e vulnerabilidade da jovem mãe, completamente isolada e sem apoio. Herika Rato, criminalista e perita criminal, assinala que a verdade sobre o caso foi completamente distorcida. No dia da morte de Sophia, Stephanie a levou à UPA, acreditando que a filha estava com uma virose, e entrou em choque ao descobrir o que Cristhian havia feito. Nada disso, porém, foi devidamente noticiado.
O criminalista Alex Viana, último a integrar a defesa de Stephanie, apresentou um Habeas Corpus pedindo a anulação da decisão de levá-la a júri popular, alegando que o juiz demonstrou desproporcionalidade ao tratar do caso. Em entrevista, Viana afirma: “É inaceitável que uma mãe trabalhadora, vítima de violência doméstica, e que acaba de perder a filha, seja tratada como cúmplice daquele que a violentava e assassinou sua filha. Se campanhas contra a violência doméstica realmente têm algum valor, o primeiro passo deve ser proteger a mulher vítima de abusos, não acusá-la injustamente”.
Alex Viana reforça que Stephanie estava presa no ciclo da violência doméstica, marcado pela tensão, explosão de agressões e um breve período de "lua de mel", onde Cristhian prometia mudar, apenas para recomeçar o abuso. “Isolada e manipulada emocionalmente, ela não conseguia escapar da relação, mesmo tentando, como tantas outras vítimas. Essa realidade trágica, somada à falta de apoio, culminou na perda de sua filha e na injusta acusação que enfrenta agora. O caso de Stephanie expõe a urgência de se compreender a complexidade da violência doméstica, para que a sociedade acolha e apoie mulheres em situação de vulnerabilidade, evitando julgamentos e tragédias futuras”, finalizou o criminalista.