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Polícia
25/05/2017 17:34:00
Os bilhetes cifrados de Fernandinho Beira Mar que levaram sua família à prisão
Traficante repassava ordens de presídio de segurança máxima em mensagens em papel Cinco filhos dele foram presos nesta quarta

EL PAÍS/PCS

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Fernandinho Beira Mar no Forum do Rio de Janeiro, em 2015 (Foto: Fernando Quevedo)

A Polícia Federal assestou nesta quarta-feira um duro golpe à família de Luiz Fernando da Costa, Fernandinho Beira Mar, o famoso e lendário traficante do Comando Vermelho cujas condenações somam quase 320 anos de prisão. Os agentes descobriram que Beira Mar, apesar de trancafiado num presídio de segurança máxima em Rondônia, enviava com frequência ordens ao exterior graças a bilhetes codificados que saiam da sua cela e depois, já fora da prisão, eram digitalizados e repassados aos comparsas. Entre os mensageiros e parceiros, a PF apontou dez parentes do traficante, entre eles cinco filhos, a mulher, já presa, e a irmã, Alessandra da Costa, considerada sua conselheira e uma das suas advogadas. Os 35 mandados de prisão em Rondônia, Rio de Janeiro, Paraíba, Ceará, Mato Grosso do Sul e o Distrito Federal tiveram também como alvos dois advogados e seu braço direito no Ceará.

Foi graças a essas mensagens que a PF identificou um novo perfil empresarial de Fernandinho Beira Mar que, além de com o tráfico de drogas e de armas, estaria lucrando cerca de um milhão de reais por mês com a exploração de serviços nas favelas do Rio que ainda controla. Seu modus operandi foi comparado pelos investigadores com o adotado pelas milícias, pois parte dos seus benefícios viria da venda de botijões de gás, instalação de internet, venda de cestas básicas, cigarros, bebidas e até de máquinas caça níqueis.

A investigação começou após o achado, em 2015, de um bilhete na marmita vazia de Beira Mar, também apelidado pelos comparsas de “avô” ou “psicopata”. A nota continha instruções precisas sobre a compra de celulares com tecnologia que permitisse criptografar as comunicações. Mas, depois de mais de um ano de investigação, a polícia comprovou a variedade dos assuntos comandados por Beira Mar. Dele partiriam instruções para a compra de armamento no exterior, para a aquisição de drogas, o passo a passo da receita para processar a cocaína, assim como ordens que estipulavam seus lucros e os caminhos para lavar o dinheiro do tráfico. Segundo a PF, Beira Mar dispunha de, pelo menos, 11 empresas em nome de terceiros, como casas de shows, lojas e um lava-jato, para disfarçar o dinheiro ilícito.

O monitoramento do preso e seus comparsas revelou que Beira Mar entregava os bilhetes ao preso da cela do lado, Cleverson Santos, que, por sua vez, repassava para sua mulher nas visitas íntimas. Ela levava o papel, provavelmente escondido na genitália, para uma outra mulher que digitalizava o conteúdo e enviava, via e-mail ou telefone, ao destinatário final. O esquema era engenhoso, não só pela quantidade de pessoas envolvidas e os códigos utilizados para despistar as autoridades, mas porque olhando a cela de Beira Mar –uma porta com duas pequenas aberturas– parece impossível intercambiar qualquer coisa com outro preso.

Câmeras da penitenciária federal flagraram o sistema desenvolvido por Beira Mar para arremessar os bilhetes ao colega de cela.

Mas eles eram “muito habilidosos”, relata a denúncia do MP de Rondônia, cujos detalhes foram revelados, em primeiro lugar, pelo G1. Os presos desfiavam uma pequena parte de seus lençóis para fazer um barbante ao qual colocavam um peso na ponta. Com essa espécie de fio de pescar conseguiam arremessar os papéis de madrugada quando os agentes baixavam a guarda. Segundo a denúncia, não há indícios de participação dos Agentes Federais de Execução Penal lotados no presídio.

Esta não é a primeira vez que Beira Mar, em presídios federais de segurança máxima desde 2006, é flagrado dirigindo a quadrilha atrás das grades. Ele, em eventuais entrevistas, sempre negou ter qualquer tipo de influencia na facção –“isso é uma ilusão, não existe”, dizia–, mas em 2007 a Polícia Federal deflagrou uma operação que revelou que ele mantinha o fornecimento de maconha e cocaína para o Comando Vermelho, o principal grupo criminoso do Rio.

A influência de Beira Mar, segundo esta investigação, ultrapassava o mundo do crime e chegava à política. Conforme se depreende de uma conversa virtual com a mulher, também presa, o traficante tinha o poder de empregar parentes na Prefeitura de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. Beira Mar revela que conseguiu um trabalho para a sogra, uma mulher de idade, garantindo assim sua aposentadoria. Não foi a única, vários membros da organização criminosa, seus familiares, foram nomeados para ocupar cargos na Câmara Municipal da cidade, segundo confirmaram os investigadores. Foi também no município de Caxias, terra natal do traficante onde começou a delinquir já com 13 anos, onde uma das filhas, a dentista Fernanda Izabel da Costa, tentou se eleger vereadora pelo PP na última eleição municipal. Com 3.098 votos, ficou em 33º lugar.

Não em vão, no ano passado, quando Beira Mar foi entrevistado para reportagem de Conexão Repórter respondia assim à pergunta sobre o que dava mais dinheiro no mundo do crime.

– É o tráfico de armas, de cocaína ou de maconha?

– O que mais dinheiro dá eu acho que é a política.

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