CGN/PCS
ImprimirJuliano Ferro Barros Donato, 41, prefeito de Ivinhema reeleito com 81,29% dos votos no dia 6 de outubro de 2024, está no epicentro de investigação da Polícia Federal contra organização criminosa acusada de tráfico de drogas.
O prefeito de Ivinhema, Juliano Ferro, está sob investigação da Polícia Federal por suposta lavagem de dinheiro e ocultação de bens, em conexão com uma organização criminosa acusada de tráfico de drogas. As investigações começaram após a prisão de um caminhoneiro que carregava maconha e levou à descoberta de ligações entre o prefeito e indivíduos envolvidos no tráfico, incluindo a compra de sua casa e de uma caminhonete Silverado avaliada em R$ 519 mil. Embora Juliano Ferro não seja suspeito de participação direta no tráfico, as autoridades investigam possíveis transações ilícitas relacionadas à aquisição de bens de alto valor. A defesa do prefeito nega qualquer ilegalidade e afirma que as transações foram feitas de forma lícita.
Nos últimos dois meses, a PF deflagrou duas operações para desmantelar o esquema de remessa de entorpecentes do Paraguai para grandes centros brasileiros e ambas atingiram pessoas com largo histórico de negociações envolvendo o prefeito. Personalidade da internet, Juliano tem quase 770 mil seguidores no Instagram e se declara “o mais louco do Brasil”.
Oficialmente, Juliano Ferro não é suspeito de ligação direta com o tráfico de drogas, mas fontes ouvidas pelo Campo Grande News nos meios policiais e entre advogados que atuam na defesa dos acusados são taxativas ao afirmar que a investigação mira suposta lavagem de dinheiro e ocultação de bens envolvendo o prefeito. A defesa nega qualquer ilegalidade (leia abaixo).
Delator
A reportagem apurou que toda a investigação que resultou nas operações Lepidosiren (8 de agosto de 2024) e Defray (15 de outubro de 2024) começou em 8 de julho de 2021, após a prisão de caminhoneiro que levava 3,4 toneladas de maconha.
O motorista teria fechado um acordo de delação com a polícia para entregar o esquema envolvendo moradores da região de Ivinhema, entre os quais comerciantes até então considerados “acima de qualquer suspeita”.
Ao cruzar as informações, a Polícia Federal descobriu ligação desses investigados com o prefeito Juliano Ferro em pelo menos duas situações definidas: a compra da casa onde mora atualmente e a famigerada caminhonete importada Silverado, avaliada em R$ 519 mil.
Embora nunca documentadas, as duas transações foram feitas entre Juliano Ferro e Luiz Carlos Honório, dono de loja de móveis em Ivinhema e preso no âmbito da Operação Lepidosiren.
Em depoimento à PF, Honório confirmou que vendeu a casa onde o prefeito mora e também a Silverado preta, recebendo como pagamento da caminhonete um Troller e um cheque de R$ 380 mil pré-datado para janeiro de 2025.
A investigação descobriu, ainda, outra caminhonete importada, uma Dodge RAM, também comprada por Juliano Ferro e, assim como a Silverado, omitida de sua declaração de bens entregue à Justiça Eleitoral.
No dia 24 de agosto de 2024, o delegado Marcelo Guimarães Mascarenhas, da Delegacia da Polícia em Dourados, instaurou inquérito para investigar suposto crime eleitoral praticado por Juliano Ferro ao omitir os veículos de alto valor. A investigação principal (sobre tráfico de drogas) está em sigilo.
Lepidosiren
A primeira operação, em 8 de agosto deste ano, recebeu o nome de “lepidosiren” em referência ao principal alvo daquela fase, Ednailson Marcos Queiroz Leal, o “Pirambóia”. Lepidosiren paradoxa é o nome científico da pirambóia, peixe da bacia amazônica com capacidade de respirar fora d’água.
Ednailson, o “Pirambóia”, é dono da Leal Veículos, loja de carros seminovos localizada no pequeno distrito de Ipezal, no município de Angélica.
No dia da operação, “Pirambóia” conseguiu escapar dos policiais federais, mas a esposa dele, Maria Eliana Ferreira Leal, foi presa. Na mesma ação foi preso Luiz Carlos Honório, o dono de loja de móveis em Ivinhema, por ligações suspeitas com Ednailson.
Com prisão temporária decretada – assim como Luiz Honório e Maria Eliana – Ednailson Leal se entregou na Delegacia da Polícia Federal em Dourados no dia 16 de setembro.
Os mandados de prisão temporária dele e de Luiz Honório foram convertidos em prisão preventiva (sem prazo definido) e os dois continuam recolhidos. Maria Eliana foi beneficiada com prisão domiciliar, monitorada por tornozeleira eletrônica.
A defesa de Luiz Carlos Honório entrou com pedido de habeas corpus no TRF3 (Tribunal Regional Federal) da 3ª Região e aguarda julgamento.
Além dos três mandados de prisão contra Ednailson, Luiz Honório e Maria Eliana, a PF cumpriu, no dia 8 de agosto, o sequestro de pelo menos R$ 33 milhões em patrimônio do grupo investigado. Também foram apreendidos naquele dia uma SUV, uma moto, dois caminhões, um trator R$ 103 mil em espécie e oito imóveis urbanos.
Operação Defray
Na terça-feira (15), a PF desencadeou a Operação Defray (desdobramento da Lepidosiren), para cumprir três mandados de busca e apreensão e um de prisão preventiva e Ivinhema. O alvo do mandado de prisão foi Eldo Andrade Aquino, também suspeito de integrar a organização criminosa responsável pela logística e financiamento do tráfico.
Durante as diligências, foram identificados e apreendidos um imóvel de R$ 458 mil e a caminhonete Silverado que pertencia ao prefeito Juliano Ferro, além do bloqueio de bens dos envolvidos, avaliados em R$ 100 milhões.
A Silverado estava de posse de Luan Vinicius Silva Matos, filho do dono de uma rede de supermercados na região. No mesmo dia da operação, Luan gravou vídeo enquanto pescava com amigos debochando da apreensão da Silverado e dizendo que já havia encomendado outra, branca.
No dia seguinte, após a repercussão do caso, Luan divulgou nota oficial afirmando ter comprado a caminhonete “de boa-fé”, negou envolvimento com o tráfico e disse que o vídeo foi um “mal-entendido” e “retirado de contexto”. A Silverado foi apreendida.
Outro lado
Em nota encaminhada pelo advogado João Comiran, o prefeito Juliano Ferro afirma que a única investigação contra si é a suposta omissão de bens na declaração à Justiça Eleitoral e diz que o caso já foi “devidamente esclarecido” perante as autoridades. Segundo a defesa, alguns dos bens estão registrados em nome da sua empresa.
“Com relação aos fatos recentes, importante registrar que Juliano Ferro não é investigado. A caminhonete apreendida não pertencia mais ao Juliano. Outrossim, é oportuno salientar que o veículo foi adquirido e vendido por meios e recursos lícitos”, afirma a nota.
A defesa nega ordem de sequestro ou bloqueio da residência de Juliano Ferro, como chegou a ser especulado. “A defesa de Juliano Ferro afirma que não há qualquer relação com eventuais ilícitos praticados por terceiros e que todos os atos foram praticados com estrita legalidade”.