Veja/PCS
ImprimirAssim que começaram a vazar os primeiros detalhes do depoimento de Marcelo Odebrecht, o mundo político oscilou entre aliviado e tenso. Aliviado, porque logo se divulgou uma leitura segundo a qual fora positivo para o presidente Michel Temer, pois o empreiteiro confirmara o controvertido jantar no Palácio do Jaburu, em maio de 2014, mas garantira que o então vice-presidente não mencionara valores.
Tenso, porque não precisou mais de um dia para que se disseminasse a percepção de que as razões para o alívio eram um tanto ligeiras. Odebrecht falou por quatro horas, respondeu a mais de cem perguntas e destravou o pino de uma bomba. VEJA teve acesso aos principais trechos, como a confirmação de que a chapa Dilma-Temer disputou a eleição em 2014 forrada com dinheiro de caixa dois e que o PT recebeu 150 milhões de reais.
As revelações detonam a versão de Dilma Rousseff de que jamais tratou de dinheiro clandestino “com quem quer que seja”. Odebrecht rememorou o encontro com a então presidente durante viagem ao México, no qual lhe avisou que a Lava Jato podia chegar ao dinheiro “contaminado” que vinha de uma off-shore da empreiteira. No caso de Temer, o impacto é menos intenso, mas, por estar no auge do seu poder político, as consequências tendem a ser mais relevantes.
Odebrecht deu elementos suficientes para o ministro Herman Benjamim, do Tribunal Superior Eleitoral, pedir a cassação da chapa vitoriosa em 2014. Para complicar, Lúcio Funaro, conhecido operador financeiro que atuava para o PMDB, envia recados ameaçadores ao Palácio. “Se eu quiser, eu destruo o Temer”, já disse ele a mais de um interlocutor.
A VEJA, ele confirmou que esteve com José Yunes, amigo de Temer, quando lhe entregou um pacote, e com o próprio presidente. “Já estive com ele (Temer), já falei, mas não me lembro do contexto.”