Sábado, 23 de Novembro de 2024
Política
31/07/2018 17:15:00
A veia autoritária do candidato Ciro Gomes
Useiro e vezeiro na arte das diatribes, o candidato do PDT volta a soltar suas pérolas. Agora, promete colocar juízes na “caixinha” e soltar Lula, se eleito, mostrando completo desconhecimento dos limites do cargo

IstoÉ/PCS

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Ciro, graças ao veneno de sua língua, pode morrer de novo pela boca (Foto: Dida Sampaio)

Se vivesse no mundo da fábula, o candidato do PDT à Presidência, Ciro Gomes (PDT), seria o escorpião. Reza a história que o escorpião pediu ao sapo que o transportasse de uma margem a outra de uma lagoa. No meio do caminho, porém, o escorpião ferroou o sapo, inoculando nele o seu veneno. Questionado da razão de tal gesto, o escorpião disse ao sapo: “É da minha natureza”. Na sequência, ambos morreram afogados.

Em 2002, então como candidato à Presidência pelo PPS, Ciro pareceu ter chances de vitória até começar a proferir frases absurdas e bater boca com eleitores e jornalistas. Perdeu-se de vez ao responder que a função de sua mulher à época, a prestigiada atriz Patricia Pillar, na campanha era “dormir com ele”. Agora, desde o início Ciro foi alertado da necessidade de se conter. Ele mesmo prometeu que faria isso. Mas prevaleceu a natureza do escorpião. E Ciro, graças ao veneno de sua língua, corre o risco de morrer novamente afogado em uma disputa presidencial.

O problema maior de Ciro é quando a falta de controle de sua língua expõe um perigoso viés autoritário. Foi o que aconteceu na terça-feira 24, quando Ciro perdeu as estribeiras numa entrevista a uma emissora de TV no Maranhão. Ciro afirmou que somente uma vitória sua nas eleições de outubro daria chances de Lula sair da cadeia.

“O Lula tem alguma chance de sair da cadeia? Nenhuma. Só tem chance de sair da cadeia se a gente assumir o poder e organizar a carga. Botar juiz para voltar para a caixinha dele, botar o Ministério Público para voltar para a caixinha dele e restaurar a autoridade do poder político”, disse Ciro. Na quarta 25, ele disse que foi mal interpretado. É o que alega até hoje sobre a frase de Patricia Pillar.

Pendor totalitário

A leitura do que disse Ciro, sem maiores necessidades de interpretação, demonstra considerável pendor por soluções não democráticas no exercício do poder. Quem condena e absolve, prende ou solta Lula ou qualquer outro cidadão no Estado Democrático de Direito não é o presidente da República, é o Poder Judiciário nas suas variadas instâncias. A “caixinha” do juiz não é no Poder Executivo, e, numa democracia, não há hipótese de um magistrado ser enquadrado por um presidente da República.

Já o Ministério Público, conforme a Constituição de 1988, é uma instituição independente de qualquer poder, e essa independência é indispensável para que ele exerça seu poder de fiscalização em nome da sociedade. Um presidente, na democracia, precisa respeitar os limites e a autoridade das demais instituições e poderes. É tudo o que Ciro parece desconhecer.

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