O Globo/LD
ImprimirNo dia em que terá um recurso julgado no Superior Tribunal de Justiça (STJ) para evitar sua prisão, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou em entrevista a uma rádio baiana que acredita que as instâncias superiores não vão impedir sua candidatura à Presidência. Ele disse esperar que os ministros do STJ "leiam o processo" e permitam que ele seja julgado pelo povo, nas eleições de outubro.
Em um programa da rádio "Metrópole", de Salvador, o petista voltou a criticar o juiz Sérgio Moro, os procuradores da força-tarefa da Lava-Jato e os desembargadores do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), que o condenaram a prisão por corrupção e lavagem de dinheiro no caso do tríplex do Guarujá. Chegou a comparar o processo com a inquisição: "onde não precisava de provas, só de convicção".
Já os julgadores das instâncias superiores foram poupados de ataques.
— Se dependesse daquela votação no TRF4 eu não teria porque acreditar na Justiça. Aquilo pareceu uma encenação, pareceu que nenhum dos juízes leu o processo. Por isso acredito nas instâncias superiores — disse o ex-presidente, em referência ao julgamento de 24 de janeiro, em que os desembargadores aumentaram sua pena para 12 anos e um mês de prisão.
— Espero que as pessoas que vão me julgar hoje (nesta terça-feira) no STJ leiam o processo, leiam as acusações e a defesa e permitam que o povo possa me julgar em outubro.
Ao comentar suas chances nas eleições, Lula disse que está os processos na Justiça têm o apoio de seus adversários, que querem que ele fique fora da disputa pois sabem que ele pode vencer no primeiro turno.
— Estão todos tentanddo evitar que eu seja candidato porque eu posso ganhar no primeiro turno. E se eu for pro segundo turno, posso ganhar também — afirmou Lula, que continuou: — Quero ganhar as eleições para restituir a paz. Fazer com que as pessoas sejam petistas, tucanas, do DEM, mas vivam de forma civilizada. Temos que aprender a conviver democraticamente.
'PENA' DE PALOCCI
Durante a entrevista, o ex-presidente foi questionado sobre o que achava da tentativa de delação premiada do ex-ministro Antonio Palocci. Em depoimento a Moro, Palocci afirmou que Odebrecth e Lula tinham um "pacto de sangue" que envolvia o pagamento de propina e de favores. O ex-presidente diz sentir pena do seu antigo aliado:
— Sempre digo que o Palocci foi muito importante num momento da história do Brasil, deu a tranquilidade para a gente poder dar um salto. A única explicação que tenho para ele fazer delação é porque deve ter dinheiro em jogo ou liberdade. (Ele) quer ficar com parte do dinheiro desviado, se é que houve, e quer a liberdade. Nem todo mundo aguenta o tranco na cadeia. Não tenho raiva, tenho pena.