Segunda-Feira, 9 de Junho de 2025
Política
18/11/2012 09:58:41
Baixa proficiência de inglês no Brasil expõe deficiências no sistema de ensino
“Do you speak English?” Disfarçado de turista estrangeiro, o repórter do Estado fez essa pergunta a 110 pessoas que passavam pela esquina da Avenida Paulista com a Rua Haddock Lobo.

Agência Brasil/HJ

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\n \n “Do\n you speak English?” Disfarçado de turista estrangeiro, o repórter do Estado fez\n essa pergunta a 110 pessoas que passavam pela esquina da Avenida Paulista com a\n Rua Haddock Lobo.
Dessas, 22 responderam que sim, e conseguiram explicar em\n inglês, com diversos graus de fluência, como chegar ao Museu de Arte de São\n Paulo (Masp), a 500 metros dali. Uma em cada cinco.\n \n Isso,\n num dos pontos do País por onde transita mais riqueza e, com ela, a maior\n proporção de profissionais liberais e empregados de grandes empresas. \n \n Todos\n os 88 que responderam “não” aparentavam ter concluído ao menos o ensino médio\n e, portanto, ter passado no mínimo oito anos tendo duas aulas de inglês por\n semana. “No, sorry”, desculparam-se alguns, antes de emudecer.\n \n Dois\n policiais militares - cuja corporação exige o ensino médio - ficaram olhando,\n até que um deles balbuciou: “no stand”, querendo talvez dizer “we don’t\n understand” (não entendemos). Os que falavam fizeram cursos particulares de\n inglês e até mesmo intercâmbio nos Estados Unidos e na Inglaterra, e em geral\n usam o idioma no dia a dia.\n \n A\n Paulista é um oásis cosmopolita em um deserto monoglota. A Education First\n (EF), rede mundial de intercâmbio, aplicou, entre 2009 e 2011, exames em 1,67 milhão\n de adultos interessados em aperfeiçoar seu inglês, em 54 países onde o idioma\n não é nativo.
O Brasil ficou em 46.º lugar, atrás de países como Argentina,\n Uruguai, Irã, Peru, China, Venezuela e Síria. A nota média obtida pelos\n brasileiros, 46,86, colocou o País no pior nível, o de “proficiência muito\n baixa”.\n \n De\n acordo com o relatório da pesquisa, quanto melhor a posição do país no ranking,\n maior a renda e o valor de suas exportações per capita, maiores os gastos com\n pesquisa e desenvolvimento, mais usuários de internet por 100 habitantes, mais\n alto o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), maiores o gasto público com\n educação e o nível de escolaridade da população.
O estudo indica que o\n conhecimento de inglês está para a economia assim como a infraestrutura. \n \n Luciano\n Timm, diretor de Marketing da EF no Brasil, observa que grande parte dos\n trabalhos que resultam no Prêmio Nobel é feita em colaboração. “O cientista só\n pode colaborar se falar inglês.” Esse é também o idioma dos negócios e das\n relações internacionais, adotado, por exemplo, na União Europeia, apesar de o\n francês ser a língua nativa do maior número de países membros, a começar pela\n sua sede, a Bélgica.
Timm cita o filósofo austríaco naturalizado britânico\n Ludwig Wittgenstein: “Os limites da linguagem significam os limites do meu\n mundo.” \n \n O\n repórter esteve em 35 dos 54 países. Neles, escolas de idiomas não são tão\n comuns como no Brasil. Quem fala inglês em geral aprendeu no ensino regular.\n \n Ensino. Para o sociólogo Simon Schwartzman, do\n Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (Iets), a baixa colocação do\n Brasil no ranking é compatível com outras comparações internacionais, como o\n Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), que testa a compreensão\n de leitura, matemática e ciências. No último exame, divulgado em 2009, o Brasil\n ficou em 57.º, de um total de 74 países. Há um problema geral de qualidade de\n ensino. \n \n Dos\n cerca de 2 milhões de professores do nível fundamental e médio do Brasil, 182\n mil ensinam inglês (134 mil na rede pública e 48 mil na particular), segundo o\n Ministério da Educação. Com duas aulas por semana ao longo de oito anos, “daria\n para ensinar muita coisa”, atesta Vinícius Nobre, presidente do Braz-Tesol, que\n reúne 2 mil professores da língua. Inglês parece ser uma disciplina de segunda\n classe.
“O inglês entrou no currículo como algo obrigatório, cuja necessidade\n não era comprovada”, analisa Nobre. “É sempre a aula de inglês que é cancelada\n quando tem reunião de pais ou festa junina.” \n \n Kelvin\n Oliveira, de 17 anos, conta que só começou a estudar inglês na 7.ª série,\n embora o ensino da língua seja obrigatório a partir da 5.ª. “Na 6.ª série, a\n professora entrou de licença e não tive nenhuma aula”, diz o jovem, que na\n época estudava em uma escola municipal no Jardim Rodolfo Pirani, no extremo\n leste de São Paulo. “Na 5.ª, não lembro de ter tido inglês.” \n \n Hoje\n aluno do 3.º ano em uma escola estadual, Kelvin é aficionado pela língua: “Eu\n sempre quis ver a neve.” No ano passado, prestou a seleção para o programa\n Jovens Embaixadores, do governo americano, que envia estudantes para os Estados\n Unidos, mas não passou.
Em dezembro, graças a sua intimidade com computadores,\n conseguiu estágio na rede Acessa São Paulo e, com o salário de R$ 390, passou a\n pagar escola de inglês. Além disso, ingressou no Curso de Inglês Online da\n Secretaria Estadual de Educação. Resultado: passou em nova seleção dos Jovens\n Embaixadores e vai ficar três semanas nos EUA em janeiro, começando por\n Washington. Onde verá muita neve. \n \n \n \n \n
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