Terra/PCS
ImprimirO ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) tentou relacionar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a uma publicação do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) que utiliza uma imagem de Jesus Cristo crucificado enquanto um dos soldados romanos diz: "bandido bom é bandido morto". Na Bíblia, livro sagrado dos cristãos, a crucificação de Jesus ocorre após pressão popular, mesmo sem a comprovação de cometimento de crimes.
A postagem feita nesta sexta-feira, 29, no X (antigo Twitter) motivou críticas de pré-candidatos à Prefeitura de São Paulo e parlamentares de direita ao deputado Guilherme Boulos (PSOL).
Também pré-candidato, ele não integra mais o MTST, mas foi uma liderança da organização na qual militou por 20 anos e ainda tem a imagem ligada ao movimento. O parlamentar classificou as críticas como "terrorismo moral".
Na publicação feita no Instagram neste sábado, 30, Bolsonaro compartilhou uma notícia sobre o post do MTST com uma foto de Lula ao fundo, usando um boné do MTST. O registro é de abril de 2022, quando o petista visitou condomínios construídos pelo MTST com recursos do Minha Casa Minha Vida ao lado de Boulos e Fernando Haddad, atual ministro da Fazenda.
O MTST disse que faltou interpretação sobre a publicação e usou a passagem bíblica de Lucas, capítulo 23, para se justificar. "A falta de interpretação da imagem e da mensagem desse post é de se impressionar", escreveu o movimento, horas depois da primeira postagem. Apesar da ressalva, o grupo continuou sendo duramente criticado.
No trecho da Bíblia, o governador romano Pôncio Pilatos inicialmente queria libertar Jesus após interrogá-lo, mas, após pressão do povo, decidiu condená-lo à crucificação. Em seu lugar, também com pedido popular, foi libertado Barrabás, que havia sido detido por assassinato e por estimular um motim.
No X, Boulos rebateu as críticas, direcionando o comentário ao seu principal adversário, o prefeito Ricardo Nunes (MDB), que se disse "indignado" com a postagem do MTST.
"Ricardo Nunes tirou a Sexta-feira Santa para distorcer o post de um movimento social e criar terrorismo moral". "Isso mostra que sua aliança com o bolsonarismo não é apenas eleitoral. É de princípio e de método", afirmou o pré-candidato do PSOL.
Expressões como "bandido bom é bandido morto" e "CPF cancelado" são, geralmente, usadas por setores políticos à direita para defender a pertinência da execução de criminosos, algo que não é previsto na legislação brasileira. O ex-presidente Jair Bolsonaro ajudou a popularizar as expressões ao longo da sua trajetória política.
A passagem bíblica costuma ser usada, atualmente, como uma reflexão sobre condenações e prisões injustas e para críticas ao populismo penal que prevê o encarceramento sem fundamentação.