O empresário Fernando Cavendish, ex-dono da empreiteira Delta, disse nesta segunda-feira (7) em depoimento ao juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal no Rio, que pagou propina para sua empresa participar da obra de remodelagem do Maracanã.

O empresário disse que, na época, tinha grande "proximidade com o então governador".

"Fui a ele perguntar se minha empresa poderia participar da obra do Maracanã, que vinha sendo conduzida pela Odebrecht. Nesse momento, o então governador entendeu meu pedido e disse claramente que tinha acerto de 5% de pagamento de propina. Falou que aceitou, mas que seria necessário acertar esse entendimento de 5% em propina. Concordei e admito que isso aconteceu", confessou.

"Esse pagamento específico foi feito em dinheiro. Orientei uma pessoa da minha confiança, Claudia. Disse que o Carlos Miranda (assessor de Cabral) ia procura-la e ia informar o valor. Foi um pagamento ao longo da execução da obra, da qual nos afastamos por conta da crise. Pagamento se deu ao longo da obra", afirmou.

"A gente tinha tradição, era muito atuante (em obras de pequeno e médio porte) e queria ganhar capacitação técnica para, no futuro, poder enfrentar ambientes mais restritivos. O Maracanã poderia dar um portfólio técnico importante. Certamente pela minha proximidade externalizei vontade de fazer parte do consórcio", acrescentou o empresário.

"A única obra que admito (pagamento de propina) é esta. (Nas) outras desconheço qualquer tipo de irregularidade", concluiu.

Bretas lembrou que o peemedebista tem dito em audiências à Justiça Federal que não cobrou propina e que os valores foram utilizados para campanha. Cavendish negou.

"No meu caso não foi pra campanha. Até porque 2011 não é um ano de campanha".

Operação Saqueador

Cavendish presta nesta segunda depoimento ao juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal no Rio, às 14h desta segunda-feira (7). Cumprindo prisão domiciliar, ele responde sobre a Operação Saqueador.

A operação foi deflagrada há um ano. Os alvos foram Carlinhos Cachoeira, Fernando Cavendish e Adir Assad. Os procuradores do Ministério Público descobriram que, entre 2007 e 2012, a Delta faturou quase R$ 11 bilhões, só com verbas públicas, o que representa 96,3% de tudo que ganhou nesse período. Desse total, o MPF conseguiu comprovar que pelo menos R$ 370 milhões foram desviados.

Segundo a denúncia, que foi aceita pela Justiça e transformou os investigados em réus, o esquema da organização criminosa funcionou com a Delta repassando os valores para 18 empresas de fachada, fazendo contratos fictícios. Depois, tudo era sacado em dinheiro vivo para fazer pagamentos de propina a agentes públicos, inclusive políticos.

O MPF já investigava, na operação Monte Carlo, a relação de Fernando Cavendish com o então governador do Rio, Sérgio Cabral, do PMDB, preso desde o ano passado.

Cavendish e Assad também são réus réus por suspeita de superfaturamento de uma obra de R$ 71,6 milhões que foi paga pela estatal Desenvolvimento Rodoviário S.A. (Dersa) ao consórcio Nova Tietê, cuja liderança pertencia à Delta.

Fernando Cavendish foi preso em julho de 2016, quando desembarcou no Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro. Um mês depois de ser preso, o Supremo Tribunal de Justiça (STJ) decidiu converter a prisão preventiva do empresário em prisão domiciliar.