FP/PCS
ImprimirCotado para assumir o Ministério da Fazenda, o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT) passará a integrar o grupo técnico de economia na transição a convite do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a partir desta terça-feira (29).
O grupo tem hoje quatro coordenadores: os economistas Persio Arida, André Lara Resende, Guilherme Mello e Nelson Barbosa. Uma das tarefas da equipe é fazer um diagnóstico da situação econômica e apresentar possíveis sugestões de encaminhamento.
"Eu mesmo passarei a integrar o grupo de economistas a partir de amanhã [terça, 29]. A partir de amanhã, vou encontrar alguns deles para me apropriar desses assuntos", disse Haddad ao deixar o CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil), sede do governo de transição, em Brasília.
Nos próximos dias, ele disse que deve se reunir com Mello e Barbosa, além de tomar café da manhã com Gabriel Galípolo, cotado para presidir o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). "O presidente me pediu para acompanhar o grupo da economia", reafirmou.
Haddad reforçou que não foi convidado para assumir o Ministério da Fazenda, embora a entrada dele no grupo tenha sido vista por aliados como um forte sinal de que ele pode ser o escolhido de Lula para o cargo.
"Fui convidado exclusivamente para interagir com o grupo de economia. Não recebi nenhum outro convite", disse.
Haddad embarcou com Lula para Brasília na noite de domingo (27). Nesta segunda, ele passou o dia no gabinete do presidente eleito no CCBB participando de reuniões, como o encontro com lideranças do MDB.
Em meio a essas agendas, Lula formalizou o convite para que o ex-prefeito integre o grupo de economia.
Haddad já vinha mantendo conversas com representantes do mercado financeiro e, na sexta-feira (25), representou Lula em um encontro com membros da Febraban (Federação Brasileira dos Bancos), entidade que reúne os principais bancos do país. O almoço é organizado anualmente pela entidade, e funcionou como uma espécie de teste do ex-prefeito junto ao setor financeiro, que resiste ao seu nome.
Segundo relatos, após o almoço na Febraban, Lula disse a Haddad que ele deveria conversar com a equipe técnica de economistas. Uma reunião entre eles estava programada para a próxima quarta-feira (30).
A previsão inicial era que o ex-prefeito viajasse a Brasília para participar desse encontro. No entanto, ele antecipou o embarque atendendo a um chamado do presidente eleito.
Antes de ser convidado a compor o grupo de economia, o ex-prefeito chegou a manter contatos informais com seus integrantes sobre diversos temas, incluindo a PEC da Transição, medida em negociação pelo governo eleito para ampliar os gastos com o novo Bolsa Família, desafogar o Orçamento de 2023 e honrar promessas eleitorais de Lula como o aumento real do salário mínimo.
Nesta segunda, ele evitou tecer comentários sobre a proposta, protocolada horas antes com a previsão de retirada do Bolsa Família do teto de gastos -regra fiscal que limita o crescimento das despesas à variação da inflação.
"Eu não vou emitir opinião porque eu vou me reunir a partir de amanhã com alguns integrantes do grupo de economia, e obviamente, como é uma decisão que cabe ao governo que vai compor a sua equipe, eu estou aqui na condição de colaborador", afirmou.
Ele disse ainda que o governo eleito ainda vai se posicionar sobre composição de equipe. "Tem que transcorrer nos protocolos devidos, porque quem vai comandar o Ministério, que vai ser convidado pelo presidente Lula é que vai efetivamente se apropriar dessa questão, que é uma questão transitória que a equipe econômica vai ter que enfrentar", disse.
Haddad, que também já foi ministro da Educação, reúne duas características importantes para Lula: afinidade e confiança. Por isso, ele também já foi citado como possível ministro de outras pastas relevantes, como Itamaraty, Educação e o Planejamento.
O ex-prefeito foi o substituto de Lula na campanha eleitoral de 2018, quando o agora presidente eleito foi impedido de ser candidato. Relembrando aquele momento, ele contou em entrevista à agência Reuters que o ex-presidente o teria escolhido como ministro da Fazenda em caso de vitória na disputa. "Não se sabe disso, mas antes de eu ser convidado para ser vice de Lula, eu fui convidado por ele para ser ministro da Fazenda", afirmou Haddad.
Como mostrou a Folha de S.Paulo, o PT quer formar uma dobradinha entre Haddad e Persio Arida no comando da área econômica, de forma a manter o partido à frente de decisões estratégicas, mas abrindo espaço para a influência de um economista liberal na formulação de políticas públicas. Arida, porém, disse à Folha de S.Paulo que não tem intenção de assumir cargos em Brasília.