Agência Brasil/AB
ImprimirO senador Cristovam Buarque (PPS-DF) negou hoje (29) ter sido convidado a integrar o ministério de um eventual governo do vice-presidente Michel Temer, caso a admissibilidade do processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff seja aprovado pelo Senado. O senador disse que, durante uma conversa com o vice-presidente ontem (28) à noite, informou a Temer não “estar disponível” para integrar um possível governo do vice.
O senador afirmou que tem um papel a cumprir no Senado e não tem motivação para entrar num governo como ministro. “Não serei ministro do governo Temer. Sou da comissão que estuda o impeachment e é muito ruim ser ministro. Afinal, sou um dos que vai escolher o próximo presidente: seja a Dilma, caso ela continue, seja o Temer, caso o impeachment passe”, reiterou Cristovam durante entrevista coletiva.
Ao deixar a comissão, Cristovam mostrou ter ficado balançado com os argumentos de Cardozo durante os esclarecimentos do AGU no colegiado. O senador disse acreditar que as chamadas pedaladas fiscais (atrasos de repasses a bancos públicos referentes ao pagamento de benefícios de programas sociais, como Bolsa Família, seguro-desemprego e abono salarial e uma das acusações contra Dilma por crime de responsabilidade) talvez não sejam crime.
“Ele [Cardozo] mostrou que, de fato, alguns dos argumentos de pedaladas talvez não sejam crime. Fiquei balançado em relação à criminalização ou não de alguns itens, mas em relação ao voto não”, destacou Cristovam Buarque.
Cristovam, que já foi do PT e do PDT e faz oposição ao governo, disse acreditar que a Comissão Especial do Impeachment no Senado aprovará a admissibilidade do processo contra Dilma. “Me atrevo a dizer que a admissibilidade vai ser aprovada. O que não sei é se o mérito do impeachment será aprovado. Não me atrevo a fazer a contabilidade de que o governo terá 28 votos [necessário para impedir o impeachment] ou não".
A votação está prevista para o dia 6 no Senado e, de acordo com o senador, deve refletir o acirramento de posições políticas vivido pela sociedade recentemente. Segundo ele, o país vive um crime de sectarização com “PTs de um lado e PSDBs de outro".
"As pessoas não estão falando mais o mesmo idioma. Vai ser uma disputa muito dura aqui e nas ruas. O pior é que não acho que, no dia seguinte a um novo governo, as coisas vão se tranquilizar. Tanto a presidenta Dilma, se permanecer, quanto o Temer, se o impeachment passar, terão de recuperar a credibilidade perdida pela Presidência e fazer com que os brasileiros se reencontrem, apertem a mão, em vez de cuspir um no outro.”.
Nesta sexta-feira, durante a apresentação da defesa da presidenta Dilma, Cristovam criticou o uso da palavra “golpe” pelo advogado-geral da União, José Eduardo Cardozo, para caracterizar o processo de impedimento da presidenta.
Para o senador, que classificou como “vergonha” o uso da expressão, não há quebra da institucionalidade. “Acho uma vergonha o uso da expressão golpe para algo que se dá dentro do processo democrático. Pode dizer que há erro, que não fizeram dentro das normas totais, mas golpe não.”