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Política
16/05/2018 14:21:00
Em pré-campanha 'pulverizada', presidenciáveis adiam acordos por coligações

UOL/PCS

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Foto: Antonio Cruz

Cinco meses antes do primeiro turno das eleições deste ano, o Brasil tinha 23 presidenciáveis. Na manhã do último dia 8, quando o ex-ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Joaquim Barbosa (PSB) anunciou que não pretende concorrer ao Palácio do Planalto, passou a ter 22.

Até agosto, mês em que os partidos devem registrar oficialmente seus candidatos no TSE (Tribunal Superior Eleitoral), esse número tende a diminuir ainda mais. Essa previsão adiou os tradicionais acordos para a formação de coligações partidárias para, pelo menos, o fim de julho.

Embora nenhum pré-candidato admita publicamente a disposição de abdicar da disputa eleitoral até o início da campanha, daqui a exatos três meses, é praticamente consenso entre eles que haverá desistências ou fusões partidárias, avaliação compartilhada também por analistas políticos.

"Não tem espaço para conversa sobre aliança ainda. Ninguém vai decidir agora. Quem tiver que decidir agora vai decidir em julho", declarou ao UOL o presidente da Câmara e pré-candidato do DEM ao Planalto, Rodrigo Maia. "A gente tem que ter serenidade, saber que tem até julho para conversar", comentou Manuela D'Ávila (PCdoB) à reportagem.

O cenário é turvado por uma incógnita que atende pelo nome do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, líder isolado nas pesquisas e pré-candidato do PT, preso desde 7 de abril.

Condenado em segunda instância por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, ele corre o risco de ser enquadrado na Lei da Ficha Limpa e ser impedido de concorrer, mas o partido mantém sua pré-candidatura.

Enquanto o petista ostenta cerca de 30% das intenções de voto no topo dos levantamentos, do outro lado, diversos pré-candidatos ou têm 1% ou não alcançam dois dígitos, com exceção do deputado Jair Bolsonaro (PSL) e da ex-ministra Marina Silva (Rede).

Com tantos presidenciáveis embolados, a tendência é que os campos políticos se aglutinem em algum momento. Enquanto isso não acontece, cada pré-candidato tenta demonstrar força eleitoral.

Outro sinal da pulverização é que apenas dois candidatos, de partidos com menor estrutura, anunciaram seus vices até agora: Guilherme Boulos (PSOL) vai compor chapa com líder indígena Sônia Guajajara, e Vera Lúcia (PSTU) com o militante e professor Hertz Dias. Ambos compartilham as mesmas siglas dos presidenciáveis.

Apesar de não ter sido anunciado por seu partido como pré-candidato, o presidente do Sebrae, Guilherme Afif Domingos, tem rodado o país para apresentar sua plataforma de governo.

Em entrevista ao UOL na semana passada, durante evento da FNP (Frente Nacional de Prefeitos) que reuniu presidenciáveis em Niterói (RJ), ele disse que até as convenções partidárias, que pela legislação eleitoral devem ocorrer de 20 de julho a 5 de agosto, ainda "vai acontecer muita coisa".

"O fato político está muito dinâmico, e você tem um quadro nacional de absoluta insatisfação", declarou. "É a aceitação da base do eleitor que influencia a cúpula do partido. Essas decisões vão ser tomadas não só pela aceitação, mas pelo potencial de crescimento, tendência. E é muito cedo em função de fatores externos", declarou.

Um dos 22 candidatos que disputaram a eleição presidencial de 1989, número recorde na história do país, Afif Domingos disse não acreditar que esse ano não haverá uma "pulverização tão grande" como a de 29 anos atrás.

"Até porque não interessa muito aos partidos usar o dinheiro de campanha em eleição majoritária, preferem terceirizar e investir nos candidatos [estaduais]. Mas aí precisa ver na terceirização se você não vai pegar o bonde errado. Às vezes é melhor estar só do que mal acompanhado", afirmou.

Tido no meio político como provável desistência, Rodrigo Maia disse entender que a população ainda não está interessada no processo pré-eleitoral e que o voto ainda está "muito solto" nas pesquisas. "Está muito incipiente ainda. É um momento de muita incerteza, de muita insegurança", declarou, ao UOL.

"Vai ter que ser muito mais uma decisão política, de articulação, de alianças para se construir o melhor palanque de tempo de TV e de palanque regional", disse Maia. Para ele, o cenário só será visto com mais clareza faltando "uns 15, 20 dias para a eleição".

"Outro dia eu estive com um pesquisador e ele falou assim: 'o que é que você quer que eu te diga, que você tem chance? Tem. Que não tem chance? Não tem. Quer que eu te diga qual é o caminho?'. Eu falei 'quero'. 'Também não sei'", relatou o presidenciável.

Ao ser questionado sobre o que sente diante dos prognósticos de que irá desistir da candidatura, Maia desconversou. "Não tem problema, a vida é assim. Se pesquisa decidisse, não precisava ter eleição, era só contratar o Ibope e resolvia o problema. Boca de urna já errou", comentou.

Para Manuela D'Ávila, os quase cinco meses que restam até o 7 de outubro são "pouco tempo para quem pensa com a cabeça da eleição de 2014". "Mas esta é uma eleição que é diferente", disse a pré-candidata, acrescentando que tem feito um esforço de diálogo, da perspectiva de que precisa se construir uma perspectiva conjunta para o campo da esquerda.

"E acho que as candidaturas devem se empenhar mais em fazer [...] Mas os partidos têm as suas opiniões sobre o processo e a gente tem que ir conversando com mais paciência e menos ansiedade. A ansiedade nunca é uma boa conselheira", declarou.

Do mesmo campo de Manuela, que como ele defende a candidatura de Lula, Guilherme Boulos afirmou que quer trazer mais pessoas para o campo do PSOL, mas destacou: "também existe vida política fora das coligações partidárias".

"Nós não somos o partido ou a candidatura que irá fazer aliança por tempo de televisão, que vai abrir mão do que a gente acredita para compor com PMDB ou com os partidos que representam a política mais velha e oligárquica no nosso país. A aliança que nós queremos construir na nossa candidatura é com movimentos sociais, com o povo, com intelectuais, com artistas, com setores vivos da sociedade", declarou.

Pré-candidato do PDT, o ex-governador do Ceará e ex-ministro Ciro Gomes disse não ter "nenhuma dúvida" que a esquerda estará unida nessa eleição. "A minha dúvida ainda é se isso acontecerá no primeiro turno, ou, absoluta certeza, no segundo turno. E eu não falo isso por palpite, mas porque eu conheço muito bem as forças ou as lideranças dessas forças."

"Se somos tantos candidatos, é porque temos diferenças, se somos tantos partidos é porque não temos programas iguais. É preciso, entretanto, tomar muito cuidado ao explicitar nossas diferenças para não ter que dinamitar pontes", ponderou Ciro.

"Cada um de nós é treinado a engolir coisas, a desconsiderar palavras soltas, especialmente de que não têm tanta experiência quanto nós outros já acumulamos. Mas a nossa turma embaixo briga. Veja bem: o eleitorado da Marina era nosso. E foi votar no Aécio [em 2014] no segundo turno", acrescentou, dizendo que a hora é de "trazer de volta, reunir as pessoas".

Esse negócio de gueto de esquerda não vai resolver o nosso problema não." Ciro Gomes, pré-candidato do PDT à Presidência da República

Lançado no mês passado pelo Solidariedade, o ex-ministro e ex-deputado federal Aldo Rebelo declarou ao UOL que acha que o número de candidatos diminuirá até o início da campanha e defendeu um governo de "composição". "A saída para o país pode e deve reunir amplas forças políticas, sociais, econômicas", apontou.

"Acho que lá para o fim de junho, julho, haverá uma rearrumação de forças", comentou Rebelo. Questionado se estaria disposto a abrir mão de disputar ou integrar outra chapa, Aldo disse que o momento é de cada candidatura cuidar de consolidar suas bases. "Você não pode começar um campeonato dizendo que é candidato a vice. Vice não é uma meta", afirmou o ex-ministro.

Não bastasse a fragmentação evidenciada pelo atual número de presidenciáveis, a pré-campanha traz ainda uma disputa interna, dentro do MDB. Ex-ministro da Fazenda, Henrique Meirelles concorre no partido com o presidente da República, Michel Temer, que já manifestou a intenção de se candidatar.

"O MDB tem uma decisão de uma candidatura própria, agora o presidente Temer vai considerar até que ponto ele deve ou não deve ser candidato, visando o sucesso não só de uma candidatura do partido mas também do prosseguimento das reformas que estão sendo feitas, [...] e se ele decidir que não é candidato à reeleição, nós temos convicção de que eu serei candidato a presidente da República pelo MDB", declarou.

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