O Globo/LD
ImprimirO ex-procurador Marcello Miller chegou às 15h10 desta sexta-feira na sede da Procuradoria Regional da República da 2ª Região, no Centro do Rio, onde vai prestar depoimento no procedimento interno do Ministério Público Federal (MPF) que apura se houve fraude no acordo de delação premiada dos executivos da JBS.
O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, abriu o procedimento após um áudio entre Joesley Batista e o executivo Ricardo Saud indicar que Miller poderia ter atuado de maneira ilícita na negociação do acordo. Em nota, o ex-procurador já negou as acusações.
Miller chegou acompanhado de dois advogados: André Perecmanis e Paulo Marcio Ennes Klein. Ele não falou com a imprensa, mas os defensores disseram que vão conversar com os jornalistas após o depoimento.
Os depoimentos dos executivos da Jamp;amp;F, proprietária da JBS, ocorreram nesta quinta-feira, feriado de 7 de Setembro, a integrantes da PGR. O dono da JBS Joesley Batista afirma ontem que não recebeu orientação do ex-procurador para gravar conversa com o presidente Michel Temer ou qualquer outra autoridade investigada numa das frentes da Operação Lava-Jato. Em seu depoimento, ele também alegou que a gravação foi uma "conversa de bêbados". E que não se deveria dar crédito ao conteúdo porque seria o mesmo que acreditar em bêbado falando que a Coreia do Norte vai invadir os Estados Unidos. Na gravação, há som de bebida sendo servida e de gelo em copo.
Na gravação de quatro horas, entregue à PGR há uma semana, Joesley e Saud falam sobre como planejavam envolver ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) na delação, sobre supostos crimes não delatados e sobre a suposta atuação de Miller para a dupla antes mesmo de uma formalização do acordo na PGR. O áudio levou à abertura do procedimento de revisão da delação.
Depois de ouvir os depoimentos, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, decidiu anular os benefícios concedidos a Joesley e ao diretor da JBS Ricardo Saud e deve pedir ao Supremo Tribunal Federal (STF) nos próximos dias a prisão preventiva de ambos. O ministro Edson Fachin, relator do caso, estaria disposto a determinar a prisão dos dois colaboradores se avaliar que existem indícios mínimos da necessidade de tomar essa medida.
O pedido de prisão deverá ser encaminhado junto com a rescisão do acordo de colaboração premiada firmado por eles com a Procuradoria-Geral da República (PGR). Como o acerto previa imunidade total aos delatores, ele terá de ser revisto para que os dois vão para trás das grades.
A expectativa é que Fachin não tome qualquer decisão antes de segunda-feira. Outros ministros do STF têm procurado o relator para convencê-lo da necessidade de prender logo os dois delatores. Desde a última terça-feira, quando o áudio com o diálogo entre os executivos veio à tona, o sentimento de indignação tomou conta da mais alta Corte do país. Como o grampo atingiu também a reputação do procurador-geral, a prisão dos delatores seria uma forma de melhorar a imagem de Janot quando ele se prepara para deixar o cargo, no fim da semana que vem.