Folha/PCS
ImprimirA campanha de Jair Bolsonaro (PSL) se dividiu sobre a conveniência de lançar uma carta aos eleitores na qual o candidato faz juras de respeito à democracia, prega a unificação nacional e lança acenos a minorias.
A carta foi escrita há cerca de dez dias, a partir de um texto-base do general da reserva Augusto Heleno, considerado o cérebro do programa de governo de Bolsonaro. Recebeu várias sugestões e modificações de colaboradores próximos.
A versão atual fala de governar "independentemente das diferenças" e traz negativas do candidato sobre acusações de homofobia e racismo, decorrentes de seu longo histórico de declarações polêmicas enquanto era deputado federal. Defende até a integração à sociedade de indígenas e quilombolas, grupos atacados mais recentemente por Bolsonaro. A existência do texto foi divulgada no sábado (22) pelo site G1.
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A questão é que o time de Bolsonaro não sabe se divulgar um texto desses não servirá justamente para seus adversários o acusarem de ter "passado recibo" das acusações de ser pouco democrata. É a leitura do grupo partidário de sua campanha, liderado pelo presidente interino do PSL, Gustavo Bebianno.
Para eles, é melhor pontuar as cada vez mais frequentes falas do convalescente deputado, que se recupera da facada levada durante campanha em Juiz de Fora no dia 6 passado.
Na prática, foi o que ocorreu durante sua entrevista à rádio Jovem Pan na segunda (17), onde disse defender tolerância e união no país. A partir da semana que vem, já em casa se tudo correr conforme o previsto, Bolsonaro pretende fazer uma transmissão ao vivo por dia na internet -ao mesmo tempo do horário eleitoral.
Isso não quer dizer que a carta ainda não possa afinal ver a luz do dia. Grupos ligados às formulações do programa de um eventual governo Bolsonaro, como o liderado pelo general Heleno e o de empresários apoiadores da campanha, acreditam que o texto teria um efeito semelhante à "Carta ao Povo Brasileiro" de 2002.
Lançado no meio da campanha daquele ano por Luiz Inácio Lula da Silva, o ambíguo texto trazia o compromisso com rigor fiscal que era ausente de programas do PT até então. Se não acalmou o mercado imediatamente, lançou as bases para a transição que levou à ortodoxia econômica bem-sucedida do primeiro mandato do petista.
Hoje, a "Carta" virou exemplo de manual político quando o que está na mesa é tentar desarmar imagens pregressas de candidatos.
A questão daqueles que são contra dar caráter de manifesto ao texto é a avaliação de que ele não converterá nenhum antibolsonarista agora. Por outro lado, num eventual segundo turno, Bolsonaro beijar a cruz da democracia assim como Lula beijou a do mercado em 2002 pode ser instrumental para capturar votos centristas que rejeitam a volta do PT ao poder mas torcem o nariz para as posições extremas do deputado. Com informações da Folhapress.