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ImprimirDepois de escancarar a relação do chefe da Casa Civil, Jaques Wagner, com o empreiteiro José Aldemário Pinheiro Filho, o Léo Pinheiro, ex-presidente da OAS condenado a dezesseis anos por corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa, as investigações da Operação Lava Jato colocam mais um ministro da presidente Dilma Rousseff na lista de possíveis intermediários da empreiteira em negócios envolvendo fundos de pensão. Enquanto Wagner foi flagrado em troca de mensagens sobre a Funcef, o fundo de pensão dos funcionários da Caixa Econômica Federal, o ministro Edinho Silva, da Secretaria de Comunicação Social da Presidência, aparece em conversas no mínimo questionáveis com o empreiteiro que integrava o famoso "clube do bilhão" das licitações.
Em uma das ocasiões, Léo Pinheiro pede ajuda a Edinho para organizar uma reunião com presidentes de fundos ligados a estatais, como o Petros, dos funcionários da Petrobras, Previ, dos servidores do Banco do Brasil, além da Funcef. Em mensagem enviada no dia 23 de abril de 2014, o empreiteiro pede ao petista, então deputado estadual, uma ajuda. Escreve Léo Pinheiro: "Estava precisando falar com o nosso amigo (AM), junto com Dan (presidente da Previ), Caser (presidente da Funcef) e Carlos Costa (presidente da Petros). Tema: inauguração de Guarulhos. Você pode nos ajudar?". Pinheiro detalha que no encontro será discutida, entre outras questões, a data da inauguração do novo terminal do aeroporto com a presença da "presidenta" da República. O terminal, inaugurado no mês seguinte com a participação de Dilma, é uma obra da Invepar, consórcio que tem como acionistas a OAS e as três empresas de fundos de pensão. Para a Polícia Federal, a sigla "AM" é uma referência a Aloizio Mercadante, ministro-chefe da Casa Civil. Dan é Dan Conrado, à época presidente da Previ. Carlos Alberto Caser é o atual presidente da Funcef e Carlos Fernando Costa comandou a Petros.
O movimento foi calculado: Edinho Silva tem conhecida facilidade de circular nos meandros, nem sempre republicanos, dos fundos de pensão, principalmente na Funcef, órgão com o qual firmou contratos enquanto comandava a prefeitura de Araraquara (SP). Uma dessas parcerias é alvo de investigação da CPI dos Fundos de Pensão, que apura o rombo bilionário em quatro companhias previdenciárias. Uma das apurações em andamento pelos deputados da comissão de inquérito se debruça sobre a liberação de 10 milhões de reais da Funcef para a construção de um complexo de hotéis, shopping e centros comerciais na base eleitoral de Edinho enquanto ele era prefeito. O recurso foi autorizado em 2009, mas o local não foi concluído.
Uma análise dos registros de entrada na Funcef obtidos pelo site de VEJA confirma a ida de Edinho pelo menos seis vezes à sede da empresa, em Brasília, entre 2011 e 2014. Via de regra, as visitas eram duradouras e costumavam se estender por mais de uma hora. O próprio Léo Pinheiro também tinha fácil acesso e bateu à porta do órgão ao menos sete vezes neste período. Outros nomes ligados à OAS, como o de Antônio Carlos Mata Pires, filho de César Pires, dono da empresa, também aparecem nos registros.
Ex-tesoureiro de campanha de Dilma Rousseff, o ministro é investigado no Supremo Tribunal Federal (STF) por irregularidades durante a última campanha da petista, abastecida também com recursos da OAS. Conforme revelou VEJA, o empreiteiro afirma que o ministro-tesoureiro coagiu doadores eleitorais.
"Querido"
As informações interceptadas pela Polícia Federal revelam trocas de mensagens entre Edinho e Léo Pinheiro desde 2007 e demonstram laços de amizade entre os dois. No dia 20 de junho de 2012, por exemplo, quando o petista completava 47 anos, Pinheiro enviou um recado de parabéns ao então deputado chamando-o de "querido", tratativa repetida em outras ocasiões, e concluiu o texto com um "grande abraço".
As conversas também trazem à luz uma série de encontros entre os dois e ainda um cronograma que, de acordo com a PF, indica datas e valores de repasses feitos pela OAS à campanha eleitoral de 2014. As investigações, com base em prestações de contas, constataram a doação de 20 milhões de reais da empreiteira à campanha petista. "Todas as transferências ocorreram após a data das mensagens trocadas entre Edinho e LP", consta no relatório.
Na véspera do segundo turno das eleições passadas, as conversas entre os dois se intensificaram. Pinheiro perguntava para Edinho se havia "boas notícias" e, após a confirmação da vitória de Dilma Rousseff, disse ao então tesoureiro de Dilma: "Parabéns! Você tem sua marca nessa vitória". Ele agradeceu a lembrança ao "amigo".
Questionado pelo site de VEJA, Edinho se limitou a responder que jamais intermediou qualquer reunião entre o empreiteiro e o ministro Aloizio Mercadante - nada respondeu sobre os presidentes dos fundos de pensão. Em tom protocolar, Edinho Silva acrescentou que "mantinha relações institucionais com vários empresários, entre eles Léo Pinheiro".