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ImprimirO juiz Sérgio Moro comentou nesta segunda-feira (5) a decisão de deixar a Operação Lava Jato para comandar o Ministério da Justiça no governo do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) e disse que não se vê "ainda como um político verdadeiro".
Moro fez palestra em Curitiba, durante evento sobre o mercado de construções sustentáveis no Brasil e no mundo.
"Eu, aqui, faço uma respeitosa divergência, não me vejo ingressando na política, ainda como um político verdadeiro. Para mim, é um ingresso num cargo que é predominantemente técnico", afirmou.
Ele disse ainda que, como ministro, vai trabalhar com aquilo que conhece, que é a Justiça.
Na palestra, que durou cerca de uma hora, o juiz ressaltou que mantém válida a promessa que fez anos atrás, de que jamais entraria para a política.
"Não pretendo jamais disputar qualquer espécie de cargo eletivo. Mas Ministério da Justiça e da Segurança Pública, para mim, eu estou em uma posição técnica, para fazer o meu trabalho", ressaltou.
Férias e exoneração
Moro se afastou das atividades de juiz federal e da Lava Jato logo após aceitar o convite para ser ministro. Em ofício, ele comunicou que vai sair de férias por 17 dias a partir desta segunda e que vai pedir a exoneração da magistratura em janeiro.
Com a saída de Moro, a juíza Gabriela Hardt, substituta da 13ª Vara Federal de Curitiba, fica à frente dos processos da Lava Jato interinamente, até que seja escolhido um novo responsável.
Nesta segunda, Gabriela ouviu os depoimentos de dois réus no processo da Lava Jato que investiga se o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu propina de empreiteiras por meio da aquisição e de reformas em um sítio em Atibaia. O depoimento de Lula nessa ação está marcado para o dia 14.
O novo juiz da Lava Jato será definido pelo Tribunal Regional Federal da Quarta Região (TRF-4).
Mensagem aos colegas
Em uma mensagem encaminhada na quinta-feira (1º), pela intranet da Justiça Federal, Moro afirmou aos colegas que a decisão de abandonar a carreira de juiz foi difícil, mas ponderada.
Ele disse que, em Brasília, vai trabalhar principalmente para "aprimorar o enfrentamento da corrupção e do crime organizado, com respeito à Constituição, às leis e aos direitos fundamentais".
Moro mencionou, na mensagem, o juiz italiano Giovani Falcone, um dos responsáveis pela Operação Mãos Limpas, na Itália.
O juiz afirmou que "depois dos sucessos em romper a impunidade da Cosa Nostra, decidiu trocar Palermo por Roma, deixou a toga e assumiu o cargo de Diretor de Assuntos Penais no Ministério da Justiça, onde fez grande diferença mesmo em pouco tempo".
"Se tiver sorte, poderei fazer algo também importante", escreveu Moro.
Ele encerrou o comunicado pedindo aos juízes que continuem "dignificando a Justiça com atuação independente", mesmo contra, se for o caso, o Ministério da Justiça.
Veja, abaixo, o comunicado na íntegra:
Prezados colegas magistrados federais,
A todos que me endereçaram congratulações aqui, meus agradecimentos.
Foi uma decisão muito difícil, mas ponderada.
Em Brasília, trabalharei para principalmente aprimorar o enfrentamento da corrupção e do crime organizado, com respeito à Constituição, às leis e aos direitos fundamentais.
Lembrei-me do juiz Falcone, muito melhor do que eu, que depois dos sucessos em romper a impunidade da Cosa Nostra, decidiu trocar Palermo por Roma, deixou a toga e assumiu o cargo de Diretor de Assuntos Penais no Ministério da Justiça, onde fez grande diferença mesmo em pouco tempo. Se tiver sorte, poderei fazer algo também importante.
Da minha parte, sempre terei orgulho de ter participado da Justiça Federal e os magistrados terão sempre o meu respeito e admiração. Continuem dignificando a Justiça com atuação independente (mesmo contra, se for o caso, o Ministério da Justiça).
Abs a todos, Sergio Fernando Moro.