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ImprimirDe janeiro a abril deste ano, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) detectou um recorde no número de pesquisas de intenções de votos registradas no site da Corte Eleitoral desde o início da série histórica em 2012.
A exatos cinco meses das eleições municipais deste ano, já foram realizados 1.127 levantamentos, quatro vezes mais do que no último pleito para prefeito e vereador, em 2020, quando teve 296 no mesmo período.
Os dados mostram que quase metade, 500 (44,4%), foram autofinanciadas, ou seja, pagas pela mesma empresa que realizou a sondagem.
Nesse formato, ao informar que fazem o levantamento com verba própria, os responsáveis não precisam prestar contas sobre a origem do dinheiro.
Tal fato acendeu um alerta no TSE, bem como já está provocando um debate no Congresso Nacional.
ENTRE OS DEZ
Para se ter uma ideia, de janeiro a abril deste ano, conforme pesquisa realizada pelo Correio do Estado junto ao site do TSE, apenas em Mato Grosso do Sul foram 42 pesquisas e apenas uma não foi autofinanciada, ou seja, quase 100% delas não tiveram um contratante que não fosse o próprio instituto.
Além disso, dessas 42 pesquisas de intenções de votos, quase 15% (6), foram feitas em Campo Grande, enquanto o restante foram duas em Dourados, Anastácio, Aquidauana, Deodápolis, Fátima do Sul, Itaporã, Miranda e Três Lagoas.
Já nos municípios de Angélica, Bandeirantes, Bataguassu, Batayporã, Bodoquena, Camapuã, Corumbá, Coxim, Jardim, Jatei, Ladário, Nioaque, Nova Alvorada do Sul, Nova Andradina, Ribas do Rio Pardo, Rio Brilhante, Rio Verde, Taquarussu, Terenos e Vicentina foram um levantamento para cada.
A consulta feita pelo Correio do Estado junto ao site da Corte Eleitoral apontou ainda que Mato Grosso do Sul é o 9º estado do Brasil que mais registrou pesquisas neste início de ano, perdendo apenas para Goiás (157), Piauí (139), São Paulo (108), Rio Grande do Norte (83), Pernambuco (78), Maranhão (66), Pará (64) e Bahia (50).
Os números da Corte Eleitoral mostram que essa modalidade já havia sido maioria em 2020, respondendo por 74% dos levantamentos, mas caiu na eleição seguinte, de 2022 (36%).
Na ocasião, a Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa (Abep) chegou a pedir uma investigação sobre a proliferação de CNPJs que registravam pesquisas eleitorais bancadas pela própria empresa.
“Empresas de pesquisa não são atividades beneficentes. Se surgem empresas que se dedicam a uma prática reincidente de levantamentos feitos com recursos próprios, isso pode ser um indicativo de que está acontecendo um financiamento implícito, que não aparece”, destacou a Abep.
PROJETO NO SENADO
A proibição de pesquisas autofinanciadas é um dos pontos do projeto que trata do Código Eleitoral, já aprovado na Câmara dos Deputados, mas ainda sem consenso no Senado. O relator, senador Marcelo Castro (MDB-PI), defendeu acabar com essa modalidade.
Na sua justificativa, ele questionou o que um instituto ganha em fazer por conta própria uma pesquisa eleitoral ao invés de ser contratado por um candidato, comparando que seria como uma loja que não vende as suas mercadorias, acabando por quebrar em um futuro próximo.
Portanto, de acordo com o parlamentar, as pesquisas autofinanciadas servem apenas para que o instituto esconda quem realmente o contratou, geralmente com dinheiro em espécie para não deixar pontas soltas.
Em fevereiro, o TSE aprovou uma resolução para dar mais transparência às pesquisas autofinanciadas.
Neste ano, as empresas são obrigadas a mandar à Corte o Demonstrativo de Resultado de Exercício (DRE) do ano anterior para comprovar que tem capacidade financeira para custear os seus próprios levantamentos.
Especialistas em eleições e representantes de empresas do setor também atribuem a alta à popularização dos métodos de coleta de dados.
Se antes os levantamentos eram feitos pessoalmente, hoje, com processos automatizados, é possível enviar uma série de perguntas somente com uma base de e-mails ou telefones.