Sexta-Feira, 1 de Agosto de 2025
Política
30/07/2025 16:27:00
Não vamos negociar como se fosse um país pequeno contra um país grande, diz Lula ao New York Times

BBC/PCS

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Faltando dois dias para que as tarifas de 50% sobre produtos brasileiros comece a valer nos Estados Unidos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) diz que ainda não conseguiu fazer contato com o governo americano.

"Todos sabem que pedi para fazer contato", afirmou em entrevista ao jornal americano The New York Times publicada nesta quarta-feira (30/07). "O que está impedindo é que ninguém quer conversar."

Na entrevista publicada, Lula não diz que tentou falar diretamente com seu homólogo americano, Donald Trump.

As tentativas de diálogo estão sendo realizadas, segundo a secretaria da Presidência informou à BBC News Brasil, pelo vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), o chanceler Mauro Vieira e o ministro da Fazenda Fernando Haddad (PT).

Logo depois de ter anunciado a nova tarifa, no dia 9 de julho, Trump disse a repórteres que poderia conversar com Lula, "em algum momento, mas não agora". Isso ocorreu em 11 de julho.

Na entrevista ao jornal americano, Lula disse que está tratando a questão das tarifas com "máxima seriedade. Mas seriedade não exige subserviência".

Trump impôs as novas taxações alegando que as acusações de tentativa de golpe de Estado que recaem sobre o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) equivale a uma "caça às bruxas".

"Talvez ele não saiba que aqui no Brasil o Judiciário é independente", afirmou Lula, que diz que Trump está infringindo a soberania do Brasil.

"Em nenhum momento o Brasil negociará como se fosse um país pequeno contra um país grande", afirmou o petista ao jornal americano.

"Conhecemos o poder econômico dos Estados Unidos, reconhecemos o poder militar dos Estados Unidos, reconhecemos o tamanho tecnológico dos Estados Unidos. Mas isso não nos assusta. Nos preocupa."

O jornalista Jack Nicas, autor da entrevista, afirma que "talvez não haja líder mundial desafiando o presidente Trump com tanta veemência quanto Lula", e que o petista está "indignado".

A ofensiva de Trump de sobretaxar o Brasil causou uma resposta do governo brasileiro, que criou uma campanha com o slogan "O Brasil é dos brasileiros".

O governo Lula também anunciou que estuda tarifas retaliatórias, mas ainda não há nenhum anúncio oficial. Para Lula, todos saem perdendo com as taxações.

"Nem o povo americano, nem o povo brasileiro merecem isso", disse ele. "Porque vamos passar de uma relação diplomática de 201 anos de ganha-ganha para uma relação política de perde-perde."

Na terça-feira (29/07), o secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick, afirmou que as importações de alguns produtos que não são produzidos nos Estados Unidos poderiam ser isentas de tarifas, como o cacau, café e a manga, mas ele não mencionou o Brasil.

'Não vamos resolver isso até o dia 1º', diz Jaques Wagner

Em missão oficial realizada por senadores brasileiros a Washington, Jaques Wagner, líder da bancada petista no Senado, afirmou nesta quarta-feira (30/07) que um possível encontro de Lula com Trump pode demorar para acontecer, ultrapassando o prazo de 1º de agosto, quando as tarifas começarão a valer.

"Não vamos resolver isso até o dia 1º. É sexta-feira. O encontro de dois presidentes da República não se prepara da noite para o dia", afirmou a jornalistas.

Os senadores brasileiros estão em Washington desde o início da semana para fazer reuniões e tentar negociar. Um dos principais focos é a tentativa de ampliar o prazo para a entrada em vigor das tarifas sobre produtos brasileiros.

"Todos os países tiveram 60, 90 dias; em 20 dias, como é que os empresários se organizam?", questionou Wagner.

Por outra frente, Alckmin, que tem liderado conversas com empresários e representantes do governo americano, afirmou nesta quarta-feira que o governo trabalha para que a tarifa seja reduzida, assim como ocorreu com a União Europeia, que passou a ser de 15% após negociações.

"Nós estamos trabalhando para que a diminuição da alíquota seja para todos. Não tem justificativa você ter uma alíquota de 50% para um país que é um grande comprador. Você tem uma balança comercial superavitária", afirmou.

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