O Globo/LD
ImprimirHomem da estrita confiança do governador Luiz Fernando Pezão (PMDB), o secretário de Governo do Rio, Affonso Monnerat, aparece em anotações encontradas na casa de Luiz Carlos Bezerra, apontado como operador no esquema que, segundo o Ministério Público Federal (MPF), era comandado pelo ex-governador Sérgio Cabral (PMDB), hoje preso. Os investigadores afirmam que se trata de uma espécie de contabilidade da propina.
De acordo com investigadores, a inscrição “Monerá” nas anotações de Bezerra diz respeito ao secretário de Pezão. Nos papéis, “Monerá” está relacionado a anotações de “20.000”, o que significa R$ 20 mil. Segundo relatório da Polícia Federal, é uma possível referência ao repasse de propina ao secretário.
Em algumas dessas páginas do caderno de Bezerra, a citação a Monnerat aparece logo abaixo da palavra “Pé”, que seria uma alusão a Pezão. A citação ao governador consta em quatro folhas ao lado do número “140.000”, o que significa R$ 140 mil segundo os investigadores. Ao desvendar o nome do secretário nas anotações, nas quais aparece por ao menos seis vezes, a PF soma mais um problema à já delicada situação de Pezão.
Como O GLOBO noticiou em fevereiro, a PF apontou em relatório indícios de que Pezão recebeu propina do esquema e sugeriu o envio das informações ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), uma vez que o peemedebista tem foro. As informações foram remetidas por determinação do juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal do Rio. Bretas é responsável por julgar os casos da Operação Lava-Jato no Rio.
Affonso Monnerat foi levado coercitivamente para depor na Operação O Quinto do Ouro, a mesma em que foram presos cinco conselheiros do Tribunal de Contas do Estado do Rio (TCE-RJ), em abril deste ano. Ele foi citado na delação do ex-presidente do tribunal Jonas Lopes, que disse que se encontrou com Pezão no Palácio Guanabara para saber quem seria o interlocutor do governo para os repasses ao TCE-RJ. Segundo o ex-conselheiro, o governador deu o nome de Monnerat. O secretário de Governo afirmou à época que desconhecia o teor das investigações e não iria comentá-las.
HOMEM DE BASTIDOR
O secretário se aproximou de Pezão por meio do ex-presidente da Alerj Paulo Melo (PMDB), de quem foi chefe de gabinete entre 1995 e 2004. Monnerat saiu do cargo para disputar a prefeitura de Bom Jardim, na Região Serrana, sendo eleito e reeleito. No segundo mandato, deixou a administração municipal para se tornar subsecretário da Região Serrana. A nomeação aconteceu após a tragédia das chuvas na serra, em janeiro de 2011.
Monnerat é considerado um homem de bastidor, avesso a aparições públicas, evitando inclusive almoços e jantares oficiais. Ele responde junto com o ex-secretário de Obras do Rio Hudson Braga, outro homem da confiança de Pezão e preso na Lava-Jato desde novembro, a um processo por irregularidades na contratação de empresas para a reconstrução de pontes após a tragédia. A ação corre na Vara Federal de Nova Friburgo.
Procurados, o governador Luiz Fernando Pezão e o secretário de Governo, Affonso Monnerat, afirmaram que desconhecem o fato e que nunca receberam recursos ilícitos.
Além de Monnerat e Braga, outro homem de confiança de Pezão já foi envolvido nas investigações: o subsecretário de Comunicação, Marcelo Santos Amorim, o Marcelinho, também levado coercitivamente a depor na Operação O Quinto do Ouro. Na ocasião, Pezão declarou que Monnerat e Marcelinho permaneceriam no governo. Marcelinho é casado com uma sobrinha do governador.
O subsecretário de Comunicação foi citado na delação de Jonas Lopes e de seu filho Jonas Lopes Neto. Eles disseram que Marcelinho participou de desvio de 15% dos valores liberados pelo fundo de modernização do TCE-RJ para pagamento de despesas de alimentação de presos com a “aquiescência do governador”. Segundo o filho de Jonas, Pezão se beneficiou com R$ 900 mil em recursos desviados do esquema que funcionava no tribunal. Ele também citou que Monnerat tinha conhecimento das operações ilícitas.
Também em delação, o doleiro Álvaro Novis afirmou que entregou dinheiro em espécie, em mais de uma oportunidade, outro assessor de confiança de Pezão, Luiz Carlos Vidal Barroso, o Luizinho. Amigo do governador há 30 anos, ele foi apontado pelo delator como emissário indicado por Pezão para receber repasses de dinheiro em 2014. Novis foi preso em janeiro e é réu em processo que tramita na 7ª Vara Federal Criminal junto com Cabral.
O ex-governador também foi citado por executivos da Odebrecht nos depoimentos após acordo de colaboração premiada.